17/05/2021 - 20:32
Sabe aquela exposição que tira o seu fôlego. Pois é… Ela se chama OSGEMEOS: Segredos e destaca que graffiti é, sim, arte, ao apresentar as obras dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo (São Paulo, 1974), os brasileiros mais famosos do mundo nessa área. E, para alegria de quem não conseguiu ingressos, a Pinacoteca de São Paulo anuncia que decidiu prorrogar a exposição até 03 maio de 2021.
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A Pinacoteca foi remodelada para a exposição, que ocupa sete salas do primeiro andar, o pátio central, diversos espaços internos e externos, além de uma instalação enorme concebida especialmente para o Octógono. O local apresenta mais de mil itens para contar a história e a trajetória dos OSGEMEOS, que partiram de uma forte imersão na cultura hip hop (recém chegada no Brasil quando eles começaram a produzir) e da influência da dança, da música, do muralismo e da cultura popular para desenvolver uma arte livre, colorida e criativa, capaz de tornar o espaço urbano um lugar de vivência.
No total, são mais de 650 obras expostas, desde croquis e rabiscos até instalações espaciais imersivas. Há diversos estudos e obras de arte que antecedem os famosos personagens amarelos, assim como as influências artísticas que ajudaram a criar a narrativa e o estilo dos OSGEMEOS. A maioria das pinturas de grande escala que integram a exposição nunca foram vistas antes pelo público brasileiro e a exposição vai muito além do grafitti, com telas e esculturas estáticas e cinéticas criadas para ultrapassar os limites bidimensionais, em um universo maravilhoso que opera entre o sonho e a realidade.
A sensação é de estar em uma outra dimensão, mergulhando em instalações imersivas e sonoras, histórias de vida e ambientes coloridos para compartilhar tramas que envolvem fantasias, relações afetivas, questionamentos e experiências de vida dos OSGEMEOS, que começaram aqui em São Paulo, no Cambuci. Foi nesse antigo bairro de operários de São Paulo que os dois irmãos começaram desenhar e deram os primeiros passos para uma trajetória de reconhecimento mundial e que hoje reúne trabalhos nos principais espaços públicos de mais de 60 países, incluindo Itália, Japão, Suécia, Alemanha, Portugal, Austrália, Cuba, Estados Unidos – com destaque para os telões eletrônicos da Times Square, em Nova York (2015) –, entre outros.
A paisagem visual de São Paulo foi o trampolim para lançar artistas como Binho (1971), Finok (1985), Mag Magrela (1985), Mundano (1986), Nina Pandolfo (1977), Nunca (1971), Rita Wainer (1978), Speto (1971) e Tinho (1973). Com Gustavo e Otávio Pandolfo não foi diferente. Em meados da década de 90, eles produziam grafites nas laterais de edifícios e murais encomendados, antes de serem chamados para diversas exposições no exterior e para projetos especiais como o Flying Pictures (2019), um espetáculo de arte urbana de Berlim inspirado em uma obra clássica, mas com show de break dance do grupo de dança Flying Steps e cenário criado por eles. Com isso, uma exposição fez parte de um espetáculo, e vice-versa, e que deve ter futuras apresentações.
Eles nunca deixaram de fazer graffiti, mas com o passar dos anos esse universo ultrapassou as ruas e criou uma linguagem própria que está sempre em constante evolução em busca de referências e de novas influências culturais. A dupla construiu uma trajetória no mundo das artes sem nunca ter perdido de vista o desejo de manter-se acessível ao grande público. OSGEMEOS acreditam nos encontros e experiências que a vida proporciona, assim como eu. Em um dia de muito calor desse verão paulistano que eles me contaram um pouco mais sobre o trabalho que desenvolvem e como criam seus personagens:
Como conseguiram ser reconhecidos como artistas e fazer sucesso no exterior? Bom, essa é uma pergunta que vai ajudar a esclarecer certos pontos, entre eles, o preconceito que existe com os artistas de graffiti. GRAFFITI É ARTE! Sendo assim, não existe uma “passagem” para a ARTE. Quando você para em frente a um graffiti, seja ele grande ou pequeno, é muito fácil perceber que existe ali todo um estudo, uma criação, uma elaboração, uma aplicação de técnicas diversas e de estilos originais. Para nós, arte vem da alma, do interior do artista, seja ele grafiteiro, músico, dançarino, pintor, escultor, desenhista ou ator. Vem da necessidade de se manifestar, entreter, transformar, criar, dividir ou questionar. Está intimamente relacionado com as sensações de cada artista, com o intuito de expressar as emoções, assim como as suas ideias com o mundo. Sobre o sucesso, nós preferimos falar de reconhecimento, fruto de muita persistência e trabalho. Acreditamos que quando você faz algo, materializa seu trabalho de uma forma honesta, verdadeira e com alicerce e história, o reconhecimento uma hora aparece. Nós trabalhamos nas ruas e no ateliê em São Paulo há mais de 35 anos, estudando e materializando esses estudos, ideias e pensamentos, assim como desenvolvendo nossa própria linguagem de pintar, desenhar e esculpir. Isso fez com que curadores, críticos e galeristas fora do Brasil se interessassem pelos nossos trabalhos, como algo muito diferente do convencional e inovador para os olhos deles. Foi, então, que surgiram os primeiros convites de exposições individuais fora do Brasil e, posteriormente, no Brasil. A promoção do trabalho se inicia a partir do momento em que decidimos fazer arte por conta própria, nas ruas! Trabalhar em galerias e museus é o fruto do reconhecimento do nosso trabalho dentro no cenário de arte contemporânea.
Qual é a história da criação da figura do personagem que usam em suas obras? A história se resume praticamente na busca pelo estilo, pela autenticidade e por uma linguagem própria. Nossos personagens vêm de TRITREZ, nosso universo imaginário, lúdico e verdadeiro para nós. De onde surgem nossas ideias e visões, de onde viemos e para onde vamos. A busca pelo estilo se deu no fim dos anos 1980 e no início da década de 1990, tentando buscar um personagem que representasse quem somos. Por isso, desenvolvemos esses estilos e essas técnicas para poder concretizar todas as ideias e detalhes que queríamos. Utilizamos as cores amarela e vermelha. Para nós, o amarelo representa a luz, a harmonia entre nós dois. A infinidade de detalhes nos trabalhos, define toda vontade de contar nos mínimos detalhes quem somos e de onde viemos. As estampas das roupas dos personagens que fazemos com estêncil, formam composições que vão desde o figurativo ao abstrato. As histórias e mensagens que aparecem em nossos trabalhos são às vezes muito realistas e às vezes muito lúdicas. E, por fim, vale comentar sobre o contorno dos desenhos. Quando pequenos, costumávamos desenhar milhares de desenhos pequenos em uma única folha, nos mínimos detalhes. Quando conhecemos o graffiti e a tinta spray, procuramos desenvolver uma técnica que pudesse representar todos esses detalhes com o uso da técnica de contorno, feita com uma cor vermelha bem escura. Quanto mais fino o traço, melhor. Então, fomos aperfeiçoando para que cada fez ficasse mais e mais fino. A maneira que sombreamos e damos volume também é uma característica forte no nosso trabalho.
Qual é a obra preferida de vocês nesta exposição? A exposição é um resumo das nossas vidas, desde antes do nascimento até os dias de hoje, mostrando todo o processo criativo, revelando alguns segredos e mostrando tudo o que criamos. Um simples desenho, uma lateral de prédio pintada ou uma escultura de 30 metros… nós gostamos de tudo. Não tem nada que nós produzimos até hoje que não gostamos. É importante você gostar do que faz!
Recomendo que corram para reservar seu ingresso (com horário marcado) no site. É maravilhoso ver a Pinacoteca, uma instituição tradicional criada para valorizar a produção da arte brasileira, apresentando novos fenômenos artísticos. Essa coluna é dedicada a Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca e curador da mostra por seu excepcional trabalho. Se tiverem uma boa história para compartilhar, por favor lembrem de mim. Aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou pelo Twitter.