Sete anos – e centenas e centenas de páginas revistas – depois, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo comemora esta semana a conclusão do trabalho de edição e gravação das 11 sinfonias de Villa-Lobos, que estão sendo lançadas em uma caixa especial com seis discos pelo selo Naxos. E, para marcar a data, o grupo dá a largada em um festival que, até o dia 25, vai mostrar as várias facetas da obra do compositor.

“As sinfonias contêm alguns dos movimentos mais incríveis de toda a obra de Villa-Lobos”, diz Arthur Nestrovski, diretor artístico da Osesp. “Vários dos Adágios, em especial, são capítulos à parte, escritos numa linguagem muito original, muito livre, de uma profundidade única – um Villa-Lobos noturno, muito diferente do compositor das Bachianas e dos Choros. Só por isso, o projeto já estaria justificado, mas há muito mais para ser descoberto e apreciado, num acervo de obras que cobre a vida inteira do compositor”, explica ele, definindo a importância do projeto. “Acima de tudo, cabe destacar a importância de se ter planejado e cumprido um projeto dessa dimensão, e nessa escala de tempo. E de se ter feito isto no Brasil, numa instituição de natureza pública. O projeto em si encarna ideais artísticos, culturais e administrativos, que a gente não perde a esperança de ver multiplicados.”

As sinfonias foram escritas por Villa-Lobos em dois períodos de sua trajetória criativa, antes dos anos 1920 e, mais tarde, depois de 1944. “Muitos autores defendem a ideia de que o gênero, saturado da carga histórica, não se adequava à indisciplina da abordagem musical de Villa-Lobos”, escreve o violonista Fabio Zanon em seu livro a respeito do compositor. “Vendo as coisas em retrospecto, o primeiro impacto do ciclo agora parece justamente o contrário: chama atenção a homogeneidade e o papel secundário exercido por elementos descritivos ou de colorido local”, continua.

O trabalho de revisão significou ter contato com os manuscritos, tentando decifrar as intenções e anotações de Villa-Lobos quando elas não estavam claras – ou mesmo presentes. Em outros casos, como na Sinfonia nº 2, inclui a busca por páginas que estavam faltando, que levou meses e teve final feliz: após pesquisas em acervos como o Museu Villa-Lobos, as páginas foram encontradas em partitura enviada por engano pela editora Ricordi à Osesp (a encomenda original era da Sinfonia nº 2 de Guanieri).

O trabalho de revisão foi levado adiante pela musicóloga Maria Elisa Pasqualini, coordenadora do Centro de Documentação da Osesp no início do projeto, seu sucessor, Antonio Carlos Neves Pintos, e pelo maestro Isaac Karabtchevsky, que comandou a interpretação, revisão das partituras e sua gravação. Mas não só. “O trabalho de preparar edições compreendia horas de conversa com o maestro, pessoalmente, pelo telefone, analisando, discutindo. E, depois, com os músicos, o processo continuava”, explica Neves Pinto. “É um privilégio poder discutir uma questão de equilíbrio ou dinâmica tendo uma orquestra como a Osesp para testar e ajudar a chegar ao ponto correto. E Karabtchevsky, claro, apresentava sua própria visão ampla, conquistada ao longo da carreira, que lhe permitia tomar decisões com clareza.”

A programação do festival mistura as sinfonias a outras obras de Villa-Lobos. Hoje, Karabtchevsky rege a Osesp e o Coro da Osesp em Uirapuru, na Sinfonia nº 7 (segundo movimento) e nos Choros nº 10 – Rasga coração. Nos dias 22 e 24, ele reassume a batuta, agora com a Sinfonia nº 1 (primeiro movimento), Sinfonia nº 4 (terceiro movimento) e a Sinfonia nº 6; os segundos movimentos das sinfonias nº 2 e nº 9, a Sinfonia nº 10 (primeiro movimento) e novamente os Choros nº 10.

A música de câmara é o destaque no dia 21, com o Quarteto Osesp e Fabio Zanon que, ao lado de alunos da Academia Osesp, interpretam os Cinco prelúdios para violão, o Quarteto de Cordas nº 11, o Quinteto instrumental e o Sexteto místico. No dia 23, o Coro da Osesp, a maestrina Valentina Pellegi e o pianista Lucas Thomazinho fazem programa com Rudepoema, Suíte floral e Bachianas brasileiras nº 9 (em arranjo para vozes), de Villa-Lobos; e, de Bach, o Prelúdio e fuga nº 8, em sua versão original, e na transcrição feita pelo compositor brasileiro em 1938. No encerramento, no dia 25, o pianista Marcelo Bratke toca com o Coro Infantil e o Coro Juvenil da Osesp.

Festival Viva Villa!

Sala São Paulo. Pça. Julio Prestes, s/nº. Tel.: 3223-3966. De terça (20) a sábado (24), às 19h30. Domingo (25), 11h. Grátis

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.