A atriz Fernanda Torres disse, nesta sexta-feira, 18, em coletiva de imprensa do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que “o Oscar não é medida para tudo” e que é preciso que as pessoas entendam que só de um ator brasileiro ter a chance de ser indicado, já é uma vitória, porque “ele não vai ganhar”.

No filme, inspirado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, Fernanda Torres interpreta a advogada Eunice Paiva, mãe do autor e esposa do ex-deputado federal Rubens Paiva, sequestrado e desaparecido pela ditadura militar durante o regime, em 1971.

O longa de Walter Salles estreou no Festival de Veneza em setembro deste ano e ficou com o prêmio de Melhor Roteiro, na ocasião. Bastante elogiado e aplaudido por vários minutos durante a première no festival italiano, “Ainda Estou Aqui” tem rendido grandes elogios para a atriz por conta de sua interpretação.

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Conta a favor do burburinho sobre a obra o fato dela ter sido selecionada pelo Brasil para concorrer a uma vaga na categoria de Filme Internacional no Oscar 2025, o que tem deixado muita gente com altas expectativas, pois em 1999 outro filme de Walter Salles, “Central do Brasil”, concorreu na mesma categoria, e de quebra ainda rendeu uma indicação de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro, mãe de Nanda Torres e que agora, em “Ainda Estou Aqui”, faz uma pequena participação como Eunice Paiva nos últimos anos de vida.

“O tal do Oscar parece a fronteira final que nós temos que atingir, mas assim… acho que o filme tem grandes chances de estar entre os filmes estrangeiros, estamos trabalhando para talvez outras categorias, mas o filme já é um acontecimento pra gente”, diz a atriz.

“O Oscar é muito importante pra várias questões, mas ele não é a medida de tudo. Quando as pessoas falam do prêmio da mamãe [Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1999], eu tento explicar que, quando um ator brasileiro, falando em português, é nomeado, ele já ganhou. Pode estourar champanhe. Vai pra lá sem expectativa, porque não vai levar. Tem que explicar isso para as pessoas já ficarem contentes”, completou.

“Jovens não iriam querer viver no país que eu vivi”, diz atriz

Durante uma de suas falas na coletiva desta sexta, Fernanda aproveitou para comentar a respeito de um dos temas abordados na história de “Ainda Estou Aqui”, que se passa durante a ditadura militar, majoritariamente durante a década de 1970. Segundo a atriz, há jovens hoje que desconhecem o que foi a ditadura e que acham que voltarmos a um período de exceção poderia ajudar a resolver alguns dos problemas que a democracia ainda não resolveu.

“Tem toda uma geração de pessoas que nunca viveu a ditadura. Então é muito difícil explicar. Ao mesmo tempo, os mais de 20 anos de democracia, embora a gente tenha avançado muito, não resolveram a questão da desigualdade, da insegurança, e acho que há um fenômeno em que talvez parte desses jovens ache que talvez o problema seja a democracia, o que é perigosíssimo”, lamenta a atriz.

Ela faz questão de ressaltar que durante o período de exceção, parte da população brasileira vivia realmente ameaçada e com medo, e que as pessoas que não viveram aquilo, mas que hoje acham que a ditadura militar não foi tão ruim, não iriam gostar de tê-la vivido.

“Eu, quando jovem, vivi durante a ditadura e sei o que era viver em um país fechado, onde você tinha muito medo. Era um país fechado para o mundo”, continua. “Muitas vezes, vejo jovens com uma crença liberal que acham que talvez ‘um pouco de ditadura talvez dê um jeito aí, um governo forte que resolve’. Mas a democracia dá trabalho mesmo, e eu tenho certeza que esse jovem não iria querer viver no país que eu vivi, e talvez esse filme ajude ele a perceber o porquê”, finalizou a atriz.

“Ainda Estou Aqui” mostra como o sequestro do ex-deputado federal Rubens Paiva pelo regime, e seu posterior desaparecimento, impactou a vida de sua mulher, que posteriormente se tornou advogada especializada em direitos humanos, e dos cinco filhos, entre eles o autor da obra que inspirou o longa de Walter Salles.

Alvoroço na Mostra de São Paulo

O novo longa de Walter Salles vem causando um alvoroço na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme será exibido em três sessões durante o evento, e a busca por ingressos deixou muitos internautas revoltados com a “pouca oferta” de ingressos para as sessões, que esgotaram em poucos minutos.

A Mostra chegou a fazer um comunicado informando que o número de sessões durante o festival foi determinado pela distribuidora do filme, a Sony Pictures, e que o local de exibição — Espaço Augusta de Cinema — foi escolhido pelos responsáveis pela obra. “Ainda Estou Aqui” tem estreia marcada no circuito comercial para o próximo dia 7 de novembro.