O Deputado Aldo Plínio (PSTF-PR) entrou ofegante na sala do Senador Conrado Solto (PGT-MG).
– Agora ferrou, Conrado. — sentenciou, lacônico.
Conrado conhecia bem o comparsa do quadrilhão (como ficou conhecido o grupo político que ambos integravam), então nem se deu ao trabalho de responder.
Levantou e pegou dois copos no mini-bar.
– Sandra não tem gelo de novo, cazzo! — gritou.
Respirou fundo, impaciente.
– Fala Aldo. Desembucha.
– Acharam os 51 milhões no apartamento do Geneval! — revelou com a voz trêmula.
– Ué? E daí? O Geneval tá preso há anos. Que se ferre, uai. E você sabe o que eu sempre digo…
– Nóis tem mais sorte que juízo — ambos em coro.
Aldo continuou.
– Mas Conrado, o apartamento é dele só que o dinheiro é nosso!
– Nosso? Só se for seu. Se tá no apartamento dele, é dele — o Senador gargalhou. – Tô falando? Nóis tem mais sorte que juízo.
– Mas ele não aguenta a pressão. Vai entregar a gente, certeza! — o deputado cochichou enquanto a secretária enchia o balde de gelo.
A verdade é que o Senador tinha razão. Tinham mais sorte que juízo.
Ligar os dois ao dinheiro não seria tarefa fácil, ainda mais agora que a Operação Lava Jato tinha sido apelidada pela imprensa de Operação Chuveirinho.
A mídia cansou depois de presos um ex-Presidente, um Presidente em exercício, nove Ministros de Estado, vinte e cinco deputados (incluindo dois ex-Presidentes da Câmara) e sete senadores. Doleiros, mais de dez. E sete marqueteiros (quatro da Bahia).
Mesmo assim, nunca chegaram à dupla Aldo e Conrado.
O juiz, a boca pequena, chegou a afirmar que não havia mais nenhum corrupto solto.
– Aldo, me diz uma coisa… — entregando o copo de Johnny Walker Blue — …lembra em 2011, quando nóis pegou aquela grana do Joelmir emprestada — fez coelhinhos no ar simulando aspas no “emprestada” — o que foi que você disse?
– Que ia dar sujeira.
– E deu? Não. Nem quando você comprou seu sítio — coelhinhos de novo, já que o sítio era uma fazenda considerável.
Aldo baixou a cabeça, concordando.
– E em 2013 quando a Construmar deu os quadriplex
de Miami pra nóis, o é que você disse?
– Que ia chamar atenção — respondeu Aldo.
– Chamou? — Aldo fez nãozinho com a cabeça.
– Né? Temo mais sorte que juízo, Aldo. Vai na do tio
aqui, porra.
Nas duas horas seguintes o Senador desfiou toda sorte de falcatruas dos dois ao longo de quase 30 anos na política.
Juntos, os dois surrupiaram mais de 4 bilhões e nunca foram pegos.
Orgulhoso, o Senador se recostou na poltrona e colocou as botas sobre a mesa.
– E tem mais Aldão. Se pegarem a gente nóis diz: nóis não vai preso…quer falar, falemos de qualquer outra coisa. Mas nóis não vai preso, tá certo?
O deputado fez que sim com a cabeça.
Foi embora aparentando calma.
Já no Audi, tirou do bolso do paletó um pequeno gravador.
Coisa de R$ 20 reais, comprado no Mercado Livre.
A qualidade da gravação não deveria ser uma maravilha, mas era a garantia de que precisava.
Apertou o play e nada.
Apertou de novo.
Nenhum som.
Tinha esquecido de colocar pilhas.
Suspirou.
Ô droga. Esse Conrado, maldito, tem mais sorte que juízo.