Leonardo da Vinci passou os últimos três anos de sua vida em Amboise, no centro da França, a convite de Francisco I.
Embora tenham sido anos muito ativos, não foram fundamentais para a obra do gênio do Renascimento, cujos trabalhos mais emblemáticos vieram à luz na Itália.
“Temos de ser modestos. O essencial foi feito na Itália”, afirma Catherine Simon Marion, delegada-geral do Castelo Clos-Lucé, onde Da Vinci morreu em 2 de maio de 1519.
Muitos italianos continuam sem entender por que várias de suas obras-primas se encontram no Museu do Louvre.
Em 1516, Leonardo da Vinci aceitou o convite do vencedor da batalha de Marignan, o qual conheceu em dezembro de 1515 na Bolonha.
Tinha 64 anos. Cruzou os Alpes acompanhado de Francesco Melzi, seu discípulo mais fiel, levando em suas bolsas de couro Mona Lisa, São João Batista e Santa Ana, assim como vários cadernos, manuscritos e anotações.
Francisco I e sua mãe, Luísa de Saboia, acolheram-no de braços abertos.
“O primeiro pintor, engenheiro e arquiteto do rei” recebia uma pensão real e foi convidado a se instalar no castelo Cloux, agora Clos-Lucé, a 400 metros do castelo Amboise, a residência favorita do rei.
Um exílio dourado, enquanto em Roma Michelangelo e Rafael são “a nova geração ascendente”? Não, era mais uma partida em resposta ao convite de Francisco I, segundo a historiadora de arte Hayley Edwards Dujardin, autora do livro “Leonardo da Vinci” (Hachette).
Em seus três anos em Amboise, “Leonardo organizou festas para o rei, fez obras de engenharia civil, continuou desenhando animais e natureza, deu um toque final a sua Sant’Ana”, relata Catherine Simon Marion.
“Ele vai se manter animado até o fim por sua imensa curiosidade. Era um homem são e vegetariano que montava a cavalo”, acrescentou.
“A mãe de Francisco entendeu que Leonardo seria o homem que faria seu filho brilhar. Já o jovem rei estava fascinado por seus conhecimentos em anatomia, botânica e espiritualidade. Ele ia vê-lo quase todos os dias, o chamava de ‘meu pai’. Leonardo lhe dava uma espécie de aprendizagem do conhecimento”, completou.
Leonardo não morreu, porém, nos braços do monarca. “É uma lenda”, esclarece Simon Marion.
– Leonardo e o castelo de Chambord –
Segundo Haylay Edwards Dujardin, esse então “Leonardo já não estava em sua fase de criação. Não é o que se esperava dele. Não atende mais a pedidos. Não produz nada para Francisco I. Não tem mais nada a propor e não quer mais propor nada. Está mergulhado em suas pesquisas. Vive um retiro tranquilo com um rei que o hospeda, o alimenta, não pede nada além de trocas intelectuais”.
Sobre a construção do castelo de Chambord, iniciada alguns meses depois de sua morte, “tudo indica que os planos podem ter sido inspiração de Leonardo”, afirma, prudentemente, sua delegada-geral.
“Trabalhou junto com o rei em planos para a construção de um castelo ideal (…) e conheceu Domenico da Cortona, arquiteto de Chambord”, continuou.
E como as três pinturas, incluindo a Mona Lisa, aterrissaram no Louvre? Segundo Simon Marion, ele as teria dado de presente para sua modelo (e provável amante) Salai (Gian Giacomo Caprotti), que as teria vendido para Francisco I antes da morte do pintor.
Para esta historiadora de arte, “ainda há muitos mistérios sobre Leonardo da Vinci”, cujo túmulo jaz na capela Saint-Hubert do castelo real Amboise.