A base aliada do governo parecia ter superado os problemas internos e vinha dando demonstrações de que seria leal ao governo Michel Temer, que precisa do apoio do Congresso para aprovar a reforma da Previdência, essencial para o futuro do País. Durante a semana, o texto chegou a contar com a adesão de 290 deputados. Com mais 18 votos, a aprovação da matéria estaria garantida. O Planalto trabalhava nessa direção e convenceu até mesmo o refratário PSDB a fechar questão em torno do tema. Entretanto, parlamentares sem qualquer compromisso com a República trataram de sabotar os esforços do governo. Comportam-se como verdadeiros traidores da Pátria e chegaram a comemorar a nova previsão de que a reforma da Previdência só será votada em fevereiro do ano que vem. Até então atuavam nas sombras, mas passaram a escancarar o voto contrário à reforma como se pertencessem às alas mais radicais da oposição. Alguns deles, por incrível que pareça, são do próprio PMDB, o partido do presidente Temer.

A traição de alguns deputados da base do governo ficou mais explícita após o governo reconhecer que não tinha condições de reunir os votos necessários para a votação da matéria ainda no mês de dezembro. A avaliação foi feita, sem o aval do Planalto, pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que disse a jornalistas que era inevitável o adiamento da pauta para o ano que vem. Tão logo a fala de Jucá ecoou nos gabinetes da Câmara, deputados do PMDB, PSDB, DEM, PP, PSD, PR, PSC, PTB, SD e PSL (todos da base aliada) passaram a admitir, sem meias-palavras, que votariam contra a proposta. “Graças a Deus. O partido é da base, eu não. Daqui a pouco, vão me expulsar”, disse Carlos Manato (SD-ES).

PSDB recua e vota a favor

Mesmo sendo “dono” do Ministério dos Transportes, o PR é o partido com maior número de dissidentes. A legenda do ministro Maurício Quintella Lessa tem 11 deputados que votarão contra a reforma. É uma quantidade considerável, uma vez que a bancada na Câmara tem 37 parlamentares. O segundo maior grupo de traidores vem do PSDB. Mesmo o partido tendo fechado questão, seis deputados já declararam que não votarão a favor. E esse número pode aumentar. A indecisão dos tucanos pode ter encorajado a postura dos insurretos. Nas últimas semanas, a cúpula da sigla travava uma batalha campal para decidir se votaria contra ou a favor da reforma da Previdência. Alguns economistas chegaram a fazer um manifesto contra o sinal de recuo do PSDB em não fechar questão. Mas os ânimos no ninho tucano serenaram. O presidente da legenda, governador Geraldo Alckmin, anunciou apoio à reforma. O problema é que nenhuma punição está prevista aos que não seguirem a decisão da cúpula.

Apesar de reconhecerem que a reforma da Previdência precisa ser resolvida urgentemente, sob o risco de o déficit público chegar a R$ 8,9 trilhões em 2060, os rebeldes da base aliada parecem estar mais preocupados com o próprio umbigo. Acham que votando contra, garantem votos nas eleições de 2018. Mas podem dar um tiro no pé. Pesquisas mostram o crescimento do apoio da opinião pública às mudanças.

Insanidade

O deputado Arolde de Oliveira (PSC-RJ) é um bom exemplo da insanidade que tomou conta de parte da base aliada. Ao explicar seu voto à ISTOÉ, ele comemorou a falta de votos para aprovar a matéria. “Não vai ter reforma este ano, nem no ano que vem. Nem nunca”, disse. A maior traição para o governo, porém, vem de deputados do próprio PMDB. Está mais que declarado que Jarbas Vasconcelos (PE), Celso Pansera (RJ), Vitor Valim (PMDB-CE) e Daniel Vilela (GO) vão desobedecer a legenda e votar contra a principal prioridade do governo peemedebista.

O grupo inconsequente de parlamentares da base aliada que decidiu dar as costas ao governo conseguiu o que queria: na quinta-feira 14, Rodrigo Maia anunciou que a reforma da Previdência só será votada depois do Carnaval, no dia 19 de fevereiro. Ou seja, os traidores da Pátria devem estar felizes da vida. A Bolsa caiu e os investidores ficaram de pé atrás. Sabem que as projeções de crescimento da economia do País para o ano que vem, sem as mudanças no sistema de aposentadorias, podem não se confirmar. O clima no mercado é de Quarta-Feira de Cinzas.

A maior traição para o governo, porém, vem de
deputados do próprio PMDB, o partido do presidente