Thales de Menezes

Os três dias de shows que os Titãs encerraram no domingo à noite, em São Paulo, para marcar a reunião da formação clássica da banda criada há mais de 40 anos, não foi exatamente a celebração nostálgica que poderia ser. Ao contrário de outros espetáculos do tipo, que funcionam mais como disparadores da memória afetiva da plateia ao ver uma apresentação que a arremessa de volta à zona de conforto da juventude, os Titãs que tocaram para 150 mil espectadores nas três noites não foram nem um pouco parecidos com os garotos que faziam caras, bocas e coreografias capengas no programa do Chacrinha nos anos 1980. Para surpresa da audiênciia, muito madura, o show no Allianz Parque foi um jorro de modernidade.

Primeiro, porque as músicas receberam arranjos um tanto diferentes e bem interessantes. Uma demonstração de esforço musical, com criatividade e muito longe de uma simples jukebox de antigos sucessos. Depois, porque é evidente a maturidade dos integrantes, com todos os sete muito à vontade no palco. O cantor e tecladista Sergio Britto, dono de uma timidez quase patológica no início da banda, saía de trás dos teclados a todo momento para puxar várias músicas, como nenhum fã longevo dos Titãs já tinha visto.

É evidente que as carreiras individuais trouxeram a cada um deles mais personalidade nas performances. Outro aspecto, e talvez o mais destacado nessa afirmação de olhar para a frente, foi a literalmente espetacular conjunção de cenários e luzes. Nunca num show de pop nacional se viu um palco tão impecável, com telões colocados em ângulos estratégicos para que o público nas arquibancadas laterais da arena palmeirense pudesse ver o show “de frente”. E as luzes, cruzando o estádio em rotações e disparos quase histéricos, conseguiram rivalizar a atenção da plateia como os músicos.

E, claro, tudo isso teve como recheio a coleção de hits titânicos, iguarias sonoras que vão do mais falsamente ingênuo pop rock à virulência maior até do que o punk mais hardcore. Ao ouvir as letras, falando de violência do Estado, opressão religiosa ou arquétipos de família, é difícil imaginar que versos tão contundentes se transformaram em sucessos nas rádios e programa de TV populares em todo o País há 30 anos ou mais.
O mundo mudou, e os Titãs não precisaram. Já estavam muito à frente de seu tempo.