Seus artesãos prepararam tudo para sua vida eterna e, mais de 3.300 anos depois, a figura de Tutankamón continua fascinando o mundo, com seus tesouros achados há quase um século e que serão expostos a partir de sábado (23) em uma exibição em Paris que já é sucesso antes mesmo de sua inauguração.

Mais de 140 mil entradas foram vendidas antes da inauguração de “Tutankamón, o tesouro do faraó” na capital francesa, segunda parada desta exposição itinerante. Inaugurada em Los Angeles, a mostra seguirá depois para Londres.

Cerca de 710 mil pessoas visitaram a exposição nos Estados Unidos e o objetivo de Paris é superar a chamada “exposição do século” sobre Tutankamón realizada nesta cidade em 1967, com 1,2 milhão de visitantes.

Ao todo, 150 objetos, um terço deles exibidos pela primeira vez fora do Egito, serão expostos em meio a um cenário imersivo que busca mergulhar o espectador no misterioso véu que cerca a figura de um dos últimos soberanos da dinastia XVIII do Antigo Egito. Ele foi coroado aos nove anos e apagado da História por seus sucessores.

– ‘Tutanmania’ –

No Grande Halle de la Villette, um centro cultural no norte de Paris, muitas das obras ainda permaneciam cuidadosamente guardadas nas herméticas caixas, nas quais chegaram de avião de Los Angeles. Do lado de fora, ainda acontece a arrumação das grades que vão organizar as esperadas longas filas.

Todos os objetos procedem da tumba de Tutankamón, descoberta em 1922 pelo arqueólogo britânico Howard Carter no Vale dos Reis, uma das descobertas mais midiatizados da história, que deu origem à “Tutanmania”, com filmes, livros e todo tipo de produto para venda.

“Esta é a única tumba (de um faraó) encontrada intacta. Para nós, não foi uma janela, mas uma porta aberta para entender a cultura do Antigo Egito. Pela primeira vez, pudemos tocar algo” dessa época, explica o curador da mostra, o egípcio Tarek El Awady.

Desde sua roupa íntima e suas luvas de linho para ir caçar, até os escudos de ouro maciço e as estátuas de deusas destinadas a protegê-lo em sua viagem póstuma, as peças cativam pela nobreza de seus materiais, muitas de ouro, assim como por sua beleza.

Os objetos eram fabricados pelas “oficinas reais”, que trabalhavam sem cessar desde o momento em que um faraó assumia o trono: “Não estavam destinadas a permanecer enterradas, mas para servir durante a vida póstuma, tinham de ser perfeitas”, acrescenta o curador.

“Não importa de onde se olhe, ele olha para a eternidade”, completa El Awady.

– ‘O Rolls-Royce’ do Antigo Egito –

Uma das peças de maior destaque é um dos dois “guardiães” encontrados por Carter na entrada da câmara funerária, as únicas estátuas de tamanho humano. Entre os objetos mais curiosos, destaca-se um falcão de madeira e ouro que representa o rei: “Era o símbolo que se colocava na frente de sua carruagem, como agora com os Mercedes, ou os Rolls-Royces”, segundo El Awady.

Qual é o segredo desse fascínio por um faraó que morreu com 19 anos – 1326 a.C. – e de quem se sabe tão pouco?

“Esta é a história da descoberta da tumba. Carter a encontrou quando estava prestes a jogar a toalha. E, então, houve logo depois a estranha morte de seu patrocinador, Lord Carnarvon. Nesse momento, todo o mundo começou a falar da maldição da múmia”, conta o curador.

“Mas também há uma admiração pela arte do Antigo Egito, pela perfeição e pela paixão com que se trabalhava. Como puderam conseguir algo assim há 3.000 anos?”, completou.

– Acidente em Berlim –

Apesar da excepcionalidade da exposição, a joia da coleção, a máscara do faraó, de 11 quilos de ouro maciço, permaneceu no Cairo. Depois de um acidente com esta peça durante uma mostra em Berlim, votou-se uma lei que impede tirar do país alguns dos objetos mais apreciados.

A exposição permanecerá em Paris até 15 de setembro e, em novembro, segue para a galeria Saatchi de Londres. Fará escala em outras sete cidades. Por enquanto, apenas Sydney foi anunciada.

Ao fim da turnê, os objetos vão integrar a coleção do Grande Museu Egípcio do Cairo, que abrirá suas portas em 2020.