Dos porões da ditadura ainda brotam histórias surpreendentes e desconhecidas. O livro “O Brasil Contra a Democracia – A Ditadura, o Golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul”, do jornalista Roberto Simon, relata a participação dos militares brasileiros na derrocada da democracia chilena e o apoio ao regime sanguinário do ditador Augusto Pinochet. Simon realizou uma pesquisa minuciosa em milhares de arquivos inéditos no Brasil, Chile e EUA. Recém-eleito, o presidente Salvador Allende tentou fazer uma conciliação com o governo Médici, mas o general via o Chile como “cabeça de ponte do comunismo internacional” na América do Sul e agiu para derrubá-lo no golpe de 11 de setembro de 1973. Além de vender armamentos e treinar agentes de repressão, o Brasil apoiou um dos episódios mais vergonhosos da história do continente: o massacre de milhares de cidadãos chilenos e estrangeiros – brasileiros, inclusive – no Estádio Nacional. Onze anos depois de a seleção de Garrincha ter encantado a torcida e conquistado a Copa do Mundo exatamente no mesmo local, o governo Médici deu suporte para transformar a arena esportiva em um centro de tortura a céu aberto.

Documento histórico

A obra de Roberto Simon escancara o modus operandi do regime militar na exportação de sua geopolítica da tortura. O livro começa com a chegada do general Augusto Pinochet ao Brasil, seis meses após o suicídio de Salvador Allende. Ele veio ao País para a posse do novo general presidente brasileiro Ernesto Geisel, em 15 de março de 1974. Além de Pinochet, estava presente na cerimônia a primeira-dama americana, Patricia “Pat” Nixon, esposa do então presidente Richard Nixon.

Era o prenúncio da chamada “Operação Condor”, o plano de alinhamento das ditaduras sulamericanas sob a benção dos EUA.