Há alguns dias, o mundo foi surpreendido com a desaceleração do PIB trimestral da China (4,9%). Alguns dias antes, previsões mais pessimistas chegavam a indicar uma tendência de queda dos índices de crescimento, talvez até contaminadas por alguma dose de desejo — no caso das produzidas no Ocidente. Porém, é fato que a economia que mais cresce no mundo dá sinais ainda pouco claros de seus possíveis freios: nestes últimos meses, a China foi impactada tanto por uma grave crise energética, que afetou até mesmo cadeias produtivas europeias, quanto pela desconfiança global em torno da incorporadora Evergrande, expressão de uma bolha imobiliária que o mercado mundial vem alertando há algum tempo.

Se é um sinal para o mundo, é um aviso ainda maior para o Brasil, que vende a maior parte dos seus produtos para os chineses e que, em 2021, seguiu aprofundando a sua dependência das commodities. Segundo o Indicador do Comércio Exterior (Icomex), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de janeiro a setembro deste ano, soja, petróleo e minérios de ferro representaram 43% de tudo o que o país exportou. Foi a maior presença destes três produtos nos negócios brasileiros no exterior na história recente. Isso tudo considerando que, nestes nove meses, as commodities significaram quase 70% das trocas brasileiras no jogo internacional. Na direção contrária, apenas 32% dessas exportações foram de produtos manufaturados. Em 2003, para se ter uma ideia, essa paridade era de 62,3%.

Assim, a desaceleração chinesa é, como consequência inevitável, a incorporação de um pessimismo econômico para o Brasil. Quando as projeções para o crescimento do PIB chinês foram reajustadas para baixo — de 8% em 2021 e de 5,3% em 2022 ante 8,7% e 6,2%, em julho —, muitos se alarmaram por aqui, tanto entre os setores que vendem para o gigante asiático, como entre os operadores do agronegócio. Até os que recebem investimentos chineses, como o setor energético, se apavoraram com a queda no PIB chinês. No agro, além das incertezas sobre contratos futuros, há ainda uma certa dependência de fertilizantes produzidos em fábricas da China. Uma fonte do setor confidenciou à ISTOÉ recentemente que o medo já está instalado em boa parte dos produtores de milho, por exemplo, uma das bases agrícolas brasileiras. A desaceleração da China, ao ter um inevitável impacto na economia brasileira, não é mais um simples alarme, mas sim uma lição sobre algo de pior que ainda poderá acontecer.