O ponto de maior surpresa no primeiro dia do julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e outros sete acusados de tramar um golpe foi a presença do próprio ex-presidente no STF.
Sem avisar previamente à segurança do tribunal, ele apareceu no plenário da Primeira Turma, sentou-se na primeira fileira da plateia e, durante seis horas, encarou os cinco ministros do colegiado – especialmente Alexandre de Moraes, reconhecido pelo ex-presidente como o maior entrave à sua pretensão de retornar ao poder.
Com a mão esquerda apoiando o rosto, Bolsonaro não tirou os olhos dos ministros que votaram em sua frente. Fez isso na parte da manhã e à tarde. Ao lado dele, estavam os advogados contratados para defendê-los no tribunal: Paulo Bueno e Celso Vilardi.
Em alguns momentos, o ex-presidente recorria ao celular. No X, postou uma mensagem irônica: “No meu caso, o juiz apita contra antes mesmo do jogo começar… e ainda é o VAR, o bandeirinha, o técnico e o artilheiro do time adversário; tudo numa pessoa só”. Deixou a sessão sem falar com a imprensa.
A presença de Bolsonaro no julgamento é ímpar. Nenhum dos outros acusados compareceu ao STF. Aliás, na história recente do tribunal, não há relatos da presença de denunciado ou réu em julgamentos. Normalmente, quem acompanha de forma presencial são os advogados dos acusados.
Por ser tão incomum, a ida do ex-presidente do Supremo para assistir à sessão é cheia de significados. À imprensa, Cunha Bueno arriscou uma explicação: “Ele veio para que saibam que ele irá enfrentar essa injustiça de maneira corajosa e honrada”.
Outra leitura possível é a tentativa de criar constrangimento aos ministros do tribunal. Falhou. Ainda que Bolsonaro estivesse na plateia, os ministros rejeitaram todos os argumentos levantados pela defesa do ex-presidente.
Há ainda a hipótese de que Bolsonaro tinha a intenção de arrebanhar o apoio político de aliados – já que a presença dele não comoveu a Justiça. Nesse aspecto, o ex-presidente conseguiu chamar a atenção. Quando soube da presença da liderança no Supremo, um grupo de deputados do PL rumou para o tribunal. Como não tinham feito cadastro prévio para assistir à sessão, boa parte foi barrada.
Além de prestar apoio, o grupo aproveitou para tumultuar a sessão, diante da impossibilidade de mudar o resultado esperado. O deputado Coronel Meira (PL-PE), foi além: xingou os funcionários da segurança do tribunal e tentou dar carteirada para entrar na sessão, que já estava lotada.
Embora tenha gritado que precisava ser respeitado por ser coronel, Meira não conseguiu entrar no Supremo. Assim como Bolsonaro não deve conseguir reverter a tendência de ser transformado em réu nesta quarta-feira, 26.