O governo Bolsonaro enveredou-se por um caminho perigoso, ao deixar em segundo plano as relações com o Mercosul, ao desprezar o acordo de livre-comércio com a União Europeia e, finalmente, ao se afastar dos outros países em desenvolvimento. Ao personalizar a política externa brasileira por suas preferências de amizade – como fez com Donald Trump –, o mandatário brasileiro confundiu seus próprios interesses com os do Estado. E o que representam os interesses pessoais de Bolsonaro? Frente aos interesses do Estado e do conjunto da sociedade, nada.

Ao confundir também a amizade pessoal com política externa, Bolsonaro cometeu um dos erros mais infantis. O presidente, seja qual for, deveria ser um estadista – alguém que recebeu um mandato do eleitor nas urnas. Um dia, irá embora. Já o Estado permanece. Esta é a diferença. A política externa brasileira, desde o tempo da Velha República (1889-1930), sempre se baseou pela moderação, respeito aos tratados internacionais, multilateralismo e acesso ao diálogo. O período infeliz entre 1964 e 1985 pode ser considerado uma exceção.

A política externa americana, como exemplo, segue uma linha mais ou menos coerente em Washington. Joe Biden manteve o acordo de retirada do Afeganistão, fechado por seu antecessor Donald Trump com o grupo fundamentalista Talibã. Para Biden, não importou que o acordo tenha sido fechado por seu adversário político republicano. Biden pensou no interesse dos Estados Unidos. E o interesse, como disse o presidente americano, era acabar com a guerra.

Já Bolsonaro sempre enxergou as relações internacionais como uma amizade com presidentes e primeiros-ministros dos outros países. Além de Trump, foi assim com Benjamin Netanyahu, em Israel, e com Mauricio Macri, na Argentina. Mas os líderes passam, os Estados permanecem. O mandatário possui uma visão infantil do mundo, que isolou o Brasil. O sucessor de Bolsonaro, que será eleito em 2022, precisará reinserir novamente o Brasil na América Latina e no mundo. Não vai ser fácil.