01/12/2021 - 10:21
A pandemia de covid-19, o ataque ao Capitólio por militantes pró-Trump, o retorno do Talibã no Afeganistão e a saída apressada dos americanos, ou ainda os relatórios cada vez mais alarmantes sobre as mudanças climáticas são alguns dos principais acontecimento no mundo em 2021.
– Covid ainda ataca, apesar das vacinas –
Apesar da esperança gerada pelas vacinas contra a covid-19, a pandemia provocou mais mortes em todo o mundo em 2021 (3,3 milhões no final de novembro) do que no ano anterior, elevando o número oficial, bastante subestimado – segundo a OMS – a mais de 5 milhões, em grande parte devido à variante delta, mais contagiosa.
Embora a OMS tenha enviado especialistas para a China, a origem da pandemia ainda não foi elucidada.
As vinte vacinas reconhecidas em todo o mundo permitiram administrar mais de 7,8 bilhões de doses, com flagrantes desigualdades de acesso entre países ricos e pobres e com relutância do movimento antivacinas.
O mundo voltou a experimentar quarentenas e confinamentos, especialmente prolongados nas grandes cidades australianas.
As fronteiras foram parcialmente reabertas. Em julho, as Olimpíadas de Tóquio foram realizadas, com um ano de atraso e quase a portas fechadas.
Desde o final do ano, a Europa enfrenta o ressurgimento da pandemia, o que traz novas restrições e desafios.
O sucesso dos testes clínicos com os medicamentos contra a covid-19 está trazendo novas esperanças, mas isso é ofuscado pelo surgimento de uma nova variante chamada ômicron, detectada pela primeira vez na África do Sul, com múltiplas mutações e potencial para ser altamente contagiosa.
– Cenas de caos no Capitólio –
Em 6 de janeiro de 2021, várias centenas de apoiadores do então presidente em exercício Donald Trump invadiram o Congresso dos Estados Unidos, tentando impedir que os congressistas certificassem a vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial de novembro.
As cenas de caos provocaram consternação em todo o mundo.
Cinco pessoas morreram durante o ataque e Donald Trump foi banido do Twitter, Facebook e YouTube.
Em 20 de janeiro, Joe Biden prestou juramento em uma cerimônia de posse que não contou com a presença de seu antecessor, que se recusou a aceitar a derrota.
Acusado pela Câmara dos Representantes de “incitar a insurreição” no ataque ao Capitólio, Donald Trump foi absolvido pelo Senado em fevereiro, após um segundo julgamento de impeachment.
– Aumento da repressão na Rússia –
Em 17 de janeiro, o opositor e ativista anticorrupção Alexei Navalny foi preso em seu retorno à Rússia após uma convalescença de cinco meses na Alemanha, após um incidente de envenenamento pelo qual acusou o presidente Vladimir Putin e os serviços secretos russos.
Em fevereiro, Navalny, objeto de vários processos judiciais, foi condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de fraude que data de 2014, denunciado por ele como político.
Suas organizações, qualificadas como “extremistas” pelos tribunais, foram incluídas na lista de organizações proibidas na Rússia em agosto.
– Golpes de Estado e golpes de força –
Em 1º de fevereiro em Mianmar, o Exército deteve a líder do governo civil, Aung San Suu Kyi, encerrando um período democrático de dez anos após quase meio século de regime militar.
O golpe desencadeou manifestações reprimidas com violência e deixaram mais de 1.100 civis mortos e milhares de opositores presos.
Aung San Suu Kyi, que está em prisão domiciliar, enfrenta uma série de julgamentos que podem levá-la a ser condenada a vários anos de prisão.
Do outro lado do mundo, no Chade, o general Mahamat Idriss Déby foi proclamado chefe de Estado pela junta militar em 20 de abril, após a morte de seu pai, o marechal Idriss Deby Itno, após 30 anos no poder.
Também houve golpes no Mali, Guiné e Sudão.
No Haiti, um país em crise perpétua, o presidente Jovenel Moise foi assassinado em 7 de julho em sua casa por um comando armado supostamente formado por mercenários colombianos.
O assassinato agravou ainda mais a instabilidade do Haiti e as eleições originalmente programadas para novembro foram adiadas para uma data indefinida.
– Ano eleitoral na América Latina –
Da Nicarágua ao Peru, a América Latina viveu um ano repleto de eleições. Em abril, o Equador escolheu como presidente o empresário conservador Guillermo Lasso, que venceu por cinco pontos o candidato do correismo Andrés Arauz.
Muito mais estreita foi a margem no Peru, onde o professor de esquerda Pedro Castillo e a direitista Keiko Fujimori se enfrentaram em uma votação acirrada em 6 de junho que só foi resolvida um mês e meio depois, com a proclamação da vitória de Castillo em meio a acusações de fraude da oposição.
Na Nicarágua, as eleições de novembro reforçaram Daniel Ortega, embora tenham sido consideradas ilegítimas pela comunidade internacional devido à prisão e repressão de opositores.
A reta final do ano também contou com eleições presidenciais em Honduras, com a esquerdista Xiomara Castro se tornando a primeira mulher presidente, e eleições regionais e municipais na Venezuela, nas quais a oposição voltou a participar após anos de boicote. Observadores europeus relataram irregularidades.
No Chile, a presidência será disputada pelo esquerdista Gabriel Boric contra o direitista José Antonio Kast, admirador de Pinochet.
2021 também foi um ano de protestos na região, da Colômbia ou Equador a Cuba, onde o regime comunista foi surpreendido por grandes manifestações em julho.
– Guerra entre Hamas e Israel –
Em 3 de maio eclodiram confrontos em Jerusalém Leste, zona palestina da cidade ocupada por Israel, à margem de uma manifestação em apoio às famílias palestinas ameaçadas de despejo em favor de colonos judeus.
Os confrontos entre palestinos e forças israelenses ocorreram na Esplanada das Mesquitas e na Cisjordânia ocupada.
Em 10 de maio, o movimento islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, respondeu disparando foguetes contra Israel. De acordo com as autoridade locais, 260 palestinos morreram na Faixa de Gaza. Em Israel, os foguetes mataram 13 pessoas, de acordo com o Exército.
Em 13 de junho, Israel encerra 12 anos de governo de Benjamin Netanyahu com um Executivo liderado pelo líder da direita nacionalista Naftali Bennett e seu aliado de Yair Lapid.
– Desafios da Europa –
O Reino Unido, que deixou o mercado único europeu em 1º de janeiro, enfrenta uma escassez de mão de obra desde junho, especialmente no transporte rodoviário, levando à escassez em supermercados, restaurantes e posto de gasolina.
O Brexit também criou tensões na Irlanda do Norte e entre o Reino Unido e seus vizinhos.
Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel deixa o poder após 16 anos. O líder dos social-democratas, Olaf Scholz, aliado do partido Verde e dos Liberais, vai sucedê-la antes do Natal.
– Fenômenos climáticos extremos –
Um aquecimento global constante e acima do limite desejável de 1,5ºC estabelecido pelo acordo de Paris teria “impactos irreversíveis nos sistemas humanos e ecológicos”, alerta um projeto de relatório de especialistas em clima da ONU obtido em junho pela AFP.
Os eventos climáticos extremos estão se multiplicando: no final de junho, uma onda de calor causa dezenas de mortes no Canadá e no oeste dos Estados Unidos.
Inundações catastróficas atingem a Alemanha e a Bélgica em julho, com mais de 200 mortes. De acordo com uma agência científica dos Estados Unidos, o mês é o mais quente já registrado na Terra.
Em novembro, a COP26 adotou um acordo para acelerar o combate ao aquecimento global. Mas o “Pacto de Glasgow” não garante o cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris e não atende às demandas de ajuda dos países pobres.
– Retorno dos talibãs –
Em 15 de agosto, os talibãs entraram em Cabul sem enfrentar qualquer resistência, após uma ofensiva relâmpago que começou em maio, quando as forças dos Estados Unidos e da OTAN começaram a se retirar.
O retorno do Talibã ocorre 20 anos depois de sua expulsão do poder por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Milhares de afegãos que colaboraram com os países estrangeiros presentes no país nos últimos anos, principalmente os Estados Unidos, foram retirados.
Agora, o país enfrenta uma crise de segurança devido à atividade de grupos terroristas, principalmente do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).
Diante da tragédia humanitária, a comunidade internacional se pergunta que posição tomar em relação ao regime talibã.
– Crise migratória na fronteira Belarus-Polônia –
Em novembro, milhares de migrantes, principalmente do Oriente Médio, acampam em temperaturas muito baixas ao longo da fronteira com a Polônia, do lado bielorrusso, na esperança de entrar na União Europeia (UE).
O Ocidente acusa Minsk de orquestrar a chegada de migrantes desde o verão, em resposta às sanções ocidentais contra Belarus, após a repressão em 2020 de um movimento de oposição massivo e sem precedentes que se seguiu à reeleição de Alexander Lukashenko como presidente.
Belarus e Rússia negam as acusações e reprovam a UE por não acolher os migrantes. Pelo menos 12 pessoas morreram em ambos os lados da fronteira, de acordo com organizações humanitárias.
– Espaço, uma nova fronteira para bilionários –
O ano de 2021 marca um antes e um depois no turismo espacial. Em julho, Richard Branson vai ao espaço com um foguete de sua empresa, Virgin Galactic e, posteriormente, Jeff Bezos participa do primeiro voo com passageiros de sua empresa Blue Origin, que transporta William Shatner, capitão Kirk de “Star Trek” em outubro.
Em setembro, os primeiros quatro turistas espaciais da SpaceX, empresa de Elon Musk, passaram três dias no espaço, durante a primeira missão orbital da história sem astronautas profissionais.
Além disso, a NASA fez com que seu robô Perseverance pousasse em Marte em fevereiro.
Em maio, a China também consegue levar um pequeno robô a Marte e, desde junho, os chineses constroem sua própria estação espacial.