10/01/2020 - 20:59
No momento em que carros e motos começam a ser adaptados às novas demandas da vida cotidiana, o Rali Dakar, muitas vezes criticado pela poluição que gera, tenta dar os primeiros passos para se tornar uma corrida mais ecológica.
Para Anne Lassman-Trappier, chefe de mobilidade da associação France Nature Environments (FNE), o Dakar é uma corrida “estagnada”. “Ainda interessa a algumas pessoas, mas não se move mais no sentido da história”, acrescentou.
Mas como um aceno para os novos tempos, a famosa corrida tenta mostrar sua vontade de se tornar ‘verde’, à imagem de outros esportes automobilísticos.
“Quando um esporte mecânico é praticado, sabemos muito bem que não acompanhamos os tempos. Temos 350 veículos que rodam todos os dias e isso representa alguma coisa, mas estamos trabalhando”, garantiu.
Há vários anos, a corrida lançou um programa de compensação de carbono na Amazônia e também serve como laboratório para novos veículos.
Em 2017, um carro 100% elétrico conseguiu terminar a corrida pela primeira vez após duas falhas nos anos anteriores. O veículo, patrocinado pela Acciona, gigante espanhola de energia renovável, terminou em 52º, a 82 horas, 31 minutos e 48 segundos do vencedor, Stéphane Peterhansel.
Este ano, para a 42ª edição realizada na Arábia Saudita, um caminhão híbrido estreia na competição. Após cinco etapas, a equipe Riwald é penúltima.
“O sistema elétrico é carregado durante a condução, e por isso não há necessidade de um gerador ou de um carregador”, explica o piloto holandês Gert Huzink.
“Ele é simplesmente carregado pelo processo interno do caminhão”, acrescenta.
Paralelamente à corrida, um SUV elétrico (veículo utilitário esportivo) completa as etapas, com Guerlain Chicherit, que tem nove Dakars em seu currículo, ao volante.
“Hoje enfrentamos realidades, o automobilismo deve avaliar”, diz o francês. “É preciso aceitar que as coisas mudam, viver de acordo com o tempo atual”, acrescenta.
Com uma bateria de 60 kWh e dois motores elétricos, o Odyssey 21 atinge uma velocidade máxima de 200 km/h e vai de 0 a 100 em 4,5 segundos, fazendo muito pouco barulho.
“É muito surpreendente”, diz Chicherit. “Nos esportes automobilísticos, há um tipo de fantasma sobre o barulho, mas depois de ter corrido uma semana no deserto com um carro que não faz barulho, posso dizer que é muito melhor”, explica ele.
O experimento poderá se tornar um veículo de competição no próximo ano. O problema, no momento, é que uma bateria tem apenas 50 km de autonomia.
“A ambição é poder atuar em 2023 ou 2024, somos realistas. Mas é preciso começar em 2021”, acrescentou. Um dia haverá um Dakar 100% elétrico? “Vai acontecer, tenho certeza”, diz Theophile Cousin, um engenheiro que dirige o projeto.
Para Lassman-Trappier, essas iniciativas, se forem generalizadas, “podem dar sentido ao Dakar”.
“Se mudarmos completamente o tipo de corrida e favorecermos os veículos sem energia fóssil, competindo no deserto, vai fazer muito mais sentido”, disse ele.
A pergunta agora é se os organizadores ouviram a mensagem. Eles dizem que “em um período de dez anos” haverá uma categoria de caminhões 100% híbridos e dão a entender que o carro elétrico “poderá criar uma nova categoria”.
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