Este novo milênio não cansa de nos apresentar novos gêneros.

Homens, mulheres, gays e transexuais entre os mais famosos.

E mais algumas variações, mas não são relevantes a este texto.

Aviso que não vai aqui nenhum preconceito.

Cada um sabe de si.

Quero apenas propor mais um sexo para a análise dos leitores.

Trata-se dos perfeitossexuais.

Os perfeitossexuais são lindos.

Idílicos.

Você não encontra os perfeitossexuais na vida real.

Pelo menos não na minha.

Seu principal habitat são as redes sociais.

Principalmente o Instagram.

Ao contrário dos outros usuários que fotografam o que veem, perfeitossexuais fotografam a si mesmos.

Mulheres mostram orgulhosas glúteos e peitos.

Resultado de precisas intervenções de personal trainers e cirurgiões plásticos.

Homens revelam bíceps e peitorais avantajados.

Chegaram lá às custas de horas e horas exercitando supinos e injeções de hormônios.

Uma das principais características dos perfeitossexuais é que se relacionam apenas entre si.

Eles se amam.

Primeiro a si mesmos e depois ao próximo.

O próximo perfeitossexual.

Você e eu não temos nenhuma chance de conquistar o coração desfibrilado de um deles.

Ainda bem.

Despem-se diante de espelhos, admirando seus corpos como eu admiro um ojo de bife.

Algo a ser devorado com respeito e talento.

E, ao contrário do ojo de bife, eu não saberia nem por onde começar.

Se sua preferência é masculina, não pense que seria diferente.

Seguro que, no meio da experiência, você vai flagrá-lo se olhando no espelho.

Admirando os movimentos de seu próprio tríceps.

Sorte nossa não precisar enfrentar tamanha humilhação.

Porque, para o resto de nós, existe o Tinder.

Tinder é um dos primeiros aplicativos que surgiram para imperfeitos se conhecerem.

Funciona assim, para você, que não é iniciado:

Tinder e similares oferecem um cardápio de seres imperfeitos.

Alguns grotescamente photoshopados.

Um baralho.

Você vê uma foto seguida de meia dúzia de palavras.

Se este mínimo conjunto de informações for suficiente para iniciar a dança do acasalamento, você arrasta a foto para a direita.

Caso contrário, arrasta para a esquerda.

“Arrastar para a esquerda” é o novo “não me liga, deixa que eu te ligo”.

Com a prática, isso se transforma numa segunda natureza.

Seus dedos se movem em chamas.

Esquerda, esquerda, esquerda, esquerda, direita, esquerda, esquerda…

Ou, dependendo do desespero, direita, direita, direita, direita, direita, direita…

Depois de algum tempo, “Match”!

Alguém que você arrastou para a direita gostou de você.

Calma.

Você só passou de fase.

Agora vem o chat.

Frases como “Oi, linda” devem ser evitadas, fica a dica.

O diálogo se desenvolve e – já ouvi de algumas mulheres – os homens tendem a falar de séries.

Ou games.

Evite.

Com muita sorte, você consegue um encontro no mundo real.

Aí já não é mais comigo.

O problema de hoje é quando nem o Tinder funciona.

Quando você escolhe todo mundo e não recebe nenhum Match.

Difícil encarar a realidade que você não passa de um “arrasta-para-a-esquerda”.

Se este é seu caso, lamente, mas não perca as esperanças.

Em alguma esquerda da vida estará seu par.

Despeço-me com um corolário final, para lhe dar esperança:

“Tinder não é remédio. É placebo” – Neto, Mentor – 2016