“Um pequeno profissional que só tinha um objetivo na cabeça: se tornar o número 1 do mundo”. Quando desembarcou em Munique, em 1999, Novak Djokovic entrou na academia de tênis de Niki Pilic, onde o então adolescente se forjou uma estrela do esporte.

Em Oberschleisseheim, na periferia norte de Munique, a Academia Niki Pilic mostra com orgulho em suas paredes as imagens de seu pupilo mais famoso.

A foto de Novak Djokovic, que agora está em Londres para encarar o desafio de conquistar Wimbledon pela oitava vez, decora um corredor que o sérvio atravessava diariamente entre seus 12 e 16 anos de idade.

“Ele jogava sempre na quadra número 4 ou na de número 8”, explica Wolfgang Reiner, que treinou ‘Nole’ durante dois anos. O técnico alemão de barba branca recorda várias histórias daquele jovem sérvio de “backhand excepcional”,

“Assim que terminava o treinamento, ele ia assistir jogos de tênis na televisão. Brincava com os jogadores, seus golpes, seus discursos. Ele era muito engraçado”, afirma. No final dos anos 1990, Pete Sampras e Andre Agassi eram as estrelas do momento.

Quando entrou no circuito, Djokovic também ficou conhecido por gostar de imitar outros jogadores de forma bem-humorada, como fez, por exemplo, com Rafael Nadal e Maria Sharapova.

Em Munique também lembram dele batendo bola contra a parede e procurando algum parceiro de jogo para treinar de vez em quando.

“Durante a pausa para o lanche, ‘Nole’ era sempre quem acabava de comer primeiro. Ia procurar alguém para jogar tênis contra ele, antes de retomar o treinamento. Uma vez ele pediu até para o porteiro!”, lembra Wolfgang Reiner entre risos.

– “Pai no tênis” –

Novak Djokovic chegou à Alemanha em 1999, em plena guerra dos Bálcãs, que causava estragos em sua cidade, Belgrado. Ele deixou as malas em um pequeno quarto do complexo esportivo, então novo, destinado a formar jogadores profissionais.

Foi o treinador croata Niki Pilic quem propôs receber aquele menino para treinar em sua academia. O técnico já contava com uma grande reputação, como capitão da Alemanha três vezes campeã da Copa Davis com Boris Becker (1988 e 1989) e Michael Stich (1993).

“Djokovic tinha uma disciplina fora do comum para um garoto da sua idade, uma boa mentalidade e um físico excelente. Era um pequeno profissional que só tinha um objetivo na cabeça: se tornar o número 1 do mundo”, disse Pilic à AFP, que agora tem 83 anos e vive na Croácia.

“Niki Pilic, que era meu pai no tênis e continua sendo, é uma das pessoas mais perseverantes e apaixonadas por tênis que já encontrei na vida”: depois de ter conquistado seu 23º título de Grand Slam, Djokovic rendeu homenagem a seu antigo treinador.

O jogador com mais títulos de Major, aos 36 anos, considera que teve “muita sorte” por ter encontrado Pilic e podido aprender com ele num momento em que seus pais passavam por “muitas dificuldades, financeiras e emocionais”.

Na academia alemã, Djokovic tinha cargas de treino pesadas, que incluíam quatro horas de tênis e uma de reforço muscular.

Quando podia, acompanhado de outros tantos jovens de sua idade que também treinavam no complexo, saía para correr em volta do canal para remo que ficava ao lado da academia, construído para os Jogos Olímpicos de Munique 1972. No verão, os adolescentes tomavam banho lá depois de treinar.

– A ascensão –

De 1999 a 2003, a progressão de Djokovic foi fulminante. Entre estadias de dois a três meses em Munique, ele enfileirava torneios.

“Ele tinha um nível de jogo fenomenal, embora ainda não fosse possível saber o quão grande se tornaria”, conta Niki Pilic, lembrando de quando Djokovic se tornou campeão sub-14 da Europa, em 2001.

“Já era incrível naquela época”, afirma Nic Marschand, que treinou ‘Nole’ durante seus anos na Alemanha. O preparador lembra de um adolescente “que tinha vontade de aprender” e que “se movimentava muito bem”.

“Todos os golpes eram bons, ele sentia o jogo. Taticamente, sempre conseguia superar o adversário. Tinha uma visão fora do comum”, analisa.

Embora tenha havido momentos em que Djokovic era menos disciplinado, “ele sempre trabalhou dez vezes mais do que os demais, queria melhorar permanentemente”.

“‘Nole’ era um jovem muito inteligente que pensava, vivia e dormia para o tênis”, concordam seus treinadores.

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