José Luiz Datena (PSDB) foi o candidato à prefeitura de São Paulo a receber as piores notícias da pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, 5.

Com 7% das intenções de voto, o apresentador foi ultrapassado pela ex-aliada Tabata Amaral (PSB, 9%) pela primeira vez e viu os três líderes — Guilherme Boulos (PSOL, 23%), Pablo Marçal (PRTB, 22%) e Ricardo Nunes (MDB, 22%) — se distanciarem na corrida. Questionada pelo site IstoÉ, a campanha tucana não fez comentários sobre o resultado.

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Queda livre

Os números do Datafolha consolidaram o derretimento da candidatura de Datena. Conhecido dos paulistanos por décadas à frente de programas populares na TV aberta, o apresentador chegou a 19% e empatou tecnicamente com Nunes (20%) e numericamente com Boulos (19%) em pesquisa Quaest divulgada em 30 de julho. Na ocasião, avançou entre os idosos e liderou no eleitorado que não completou o ensino fundamental, gerando empolgação na campanha.

“Nas pesquisas espontâneas, figuras muito conhecidas tendem a pontuar melhor. Mas conforme a disputa avança e os demais candidatos apresentam suas credenciais, isso costuma mudar”, afirmou Gabriel Pires, analista de pesquisas do Instituto Travessia, ao site IstoÉ.

Fatores que explicam

Essa mudança veio em etapas. Após o otimismo gerado pela Quaest, Datena teve pouco destaque em entrevistas — ao canal GloboNews, chegou a dizer que entrou “na eleição errada” —, reconheceu desempenho abaixo do esperado em debates e fez menos agendas públicas do que os adversários. Desde segunda-feira, 2, Datena teve três compromissos públicos. Tabata, sua oponente mais próxima nas pesquisas, teve 11 no mesmo período.

Para Pires, a junção desses fatores ajuda a explicar a perda do tucano. O instituto Travessia realizou uma pesquisa qualitativa com eleitores dos participantes do debate promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo em 14 de agosto. Segundo ele, Datena perdeu todos os potenciais eleitores entre o grupo que participou do estudo. “Eles migraram para adversários que performaram melhor no debate”, disse o analista.

Datena não tem se firmado ideologicamente na disputa e demonstra cansaço e falta de intensidade na campanha”, prosseguiu Pires, em relação à falta de agendas públicas e aos sinais públicos de frustração do apresentador.

Mas um fator adicional prepondera na desidratação do candidato do PSDB: o avanço de Pablo Marçal (PRTB).

De acordo com o analista, Marçalpreencheu um perfil ‘antissistema’ que até então estava mais relacionado ao Datena”. Se o tucano baseava seu discurso de campanha na independência em relação a padrinhos e partidos pelo fato de não ter construído sua trajetória na política, o ex-coach dobrou a aposta neste sentido e ataca a classe com mais agressividade.

Em meio ao derretimento de popularidade do adversário, Marçal foi quem mais avançou. O próprio Datena reconheceu, também em entrevista à GloboNews, que o oponente do PRTB frustrou sua estratégia: “Eu me apresentava como o candidato contra a polarização, dizendo que nem Lula nem Bolsonaro iriam mandar em São Paulo [presidente e ex-presidente apoiam, respectivamente, Boulos e Nunes]. Eu era o novo, o diferente, aí de repente apareceu um cara completamente fora da curva [Marçal], com o qual eu não comungo de nenhuma das ideias”.