Os motivos que explicam o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil

Fiéis evangélicos participam de cerimônia na igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, em 23 de agosto de 2022 - AFP
Fiéis evangélicos participam de cerimônia na igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo na Penha, zona norte do Rio de Janeiro Foto: AFP

Dados de 2024 divulgados pelo Instituto Locomotiva apontaram que seis a cada dez visitas a templos no Brasil são feitas por evangélicos. A religião com mais seguidores ainda é o catolicismo, com cerca da metade da população, mas a quantidade de fiéis da Igreja Católica está encolhendo no País, conforme informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Datafolha.

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Conforme os dados do Instituto Locomotiva, que utilizou informações do Datafolha sobre a porcentagem da população que segue cada religião, os evangélicos são os que mais frequentam templos no País.

Enquanto 29% da população é composta por evangélicos, segundo o instituto, eles respondem por 59% das visitas a templos religiosos, ou seja, seis a cada dez “viagens” a locais de culto são feitas por evangélicos.

Apesar dos católicos serem a maior parte da população, com 51% dos brasileiros seguindo a doutrina do Vaticano, 34% das visitas a igrejas no País são feitas por tais fiéis.

Ainda segundo dados do Instituto Locomotiva, 10% da população não tem religião, 3% é espírita, 2% segue os cultos de matrizes africanas, 1% é de ateus e 4% acreditam em outras religiões.

De acordo com o instituto, 59% das visitas a templos são de evangélicos, 34% de católicos, 2% daqueles que não tem religião, de espíritas ou dos que acreditam em outras fés, 1% de fiéis de crenças como a umbanda e o candomblé e 0% de ateus.

O Instituto Locomotiva também apontou que 87% dos evangélicos acreditam na religião como algo importante para eles e para a família. O valor de católicos com a mesma opinião é menor, chegando a 81%.

Os motivos do ‘boom’ evangélico

Para o pastor Alexandre Gonçalves, da Igreja de Deus, — uma congregação pentecostal mais tradicional — a Igreja Evangélica ser mais “nichada” contribui com uma sensação de pertencimento entre os fiéis. “Os seus relacionamentos acabam se reduzindo aos ‘irmãos da igreja’”, comenta Gonçalves, acrescentando que os evangélicos costumam não se reunir em meios seculares, mas entre si.

O religioso aponta que os frequentadores de uma congregação têm mais “vivência” nos templos, já que as igrejas promovem inclusive eventos culturais, o que leva mais fiéis a visitarem os locais de culto.

De acordo com um levantamento do Datafolha feito em 2022, 17% dos católicos vão à missa mais de uma vez por semana, enquanto 53% dos evangélicos visitam os templos ao menos duas vezes em sete dias.

Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, a ascensão da Igreja Evangélica se alimenta também da proximidade entre o pastor e os fiéis. “É por isso que o evangélico volta sempre. Além de Deus, ele encontra comunidade, palco e plateia”, explica.

“É o pastor que bate na porta da dona Maria, pergunta do gás que acabou e ainda promete que a fé cabe no bolso”, exemplifica Meirelles, acrescentando que as igrejas evangélicas colocam o fiel como protagonista e servem como um “pronto-socorro emocional”.

Queda no número de católicos e aumento de evangélicos

Ao longo das últimas décadas, o número de católicos no Brasil caiu, enquanto o de evangélicos aumentou. De acordo com dados do IBGE, houve um aumento de 61% no número de evangélicos no País entre 2000 e 2010, chegando a 22% dos brasileiros. Em 1991, eles representavam 9% da população.

No mesmo período, entre 2000 e 2010, o número de católicos encolheu quase 10%, de 76% dos brasileiros para 64%, enquanto em 1991, eles eram 83% da população.

A tendência de queda do catolicismo e crescimento da população evangélica também foi indicada pela pesquisa do Datafolha divulgada em 2022, quando as estimativas sugeriram que o Brasil tinha 51% de católicos e 26% de evangélicos.

Para o pastor Alexandre Gonçalves, o que pode explicar a perda de fiéis do catolicismo é o fato da Igreja Católica ser mais burocrática e “formal”, enquanto os religiosos evangélicos tendem a estabelecer cultos mais modernos.

“O culto evangélico se tornou mais informal, músicas com melodia e harmonia mais modernas. A palavra do pastor é mais voltada ao dia a dia e as coisas que a pessoa sofre, aquilo que ela está passando”, pontua Gonçalves.

Ainda, as igrejas católicas precisam de um padre ou ministro, além de estrutura, para serem estabelecidas, enquanto as congregações evangélicas podem ser formadas por “qualquer um” que queira “abrir um trabalho”, comenta o pastor.

“A paróquia continua simbólica, mas a logística ficou cara. Batina e burocracia não alcançam o beco onde o pastor chega de moto e Bíblia na mochila. A concorrência não é teológica, é de presença”, aponta Meirelles. O presidente do Instituto Locomotiva ressalta que a escolha do novo papa pode mudar o panorama de queda no número de católicos.

Meirelles acredita que um novo pontífice poderia fazer a Igreja Católica deixar a burocracia da tradição católica europeia. “Se vier alguém que fale a língua do subúrbio, que sente na mesa de plástico e divida o pastel de feira, dá para estancar a sangria de fiéis”, cita o presidente do Instituto Locomotiva.