A Ucrânia esperava há meses a permissão para o uso de mísseis de longo alcance fornecidos por aliados ocidentais em território russo. O emprego desse armamento pode aumentar significativamente a capacidade de defesa do país ao possibilitar o ataque a centenas de alvos militares na Rússia, incluindo bases aéreas.

Essa permissão foi concedida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para o uso dos mísseis de longo alcance fornecidos pelos americanos, segundo relatos da imprensa americana divulgados neste domingo (18/11).

A medida permite que a Ucrânia use o Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS, que têm um alcance de até 306 quilômetros, para ataques mais profundos na Rússia. Ela ocorre no momento em que milhares de soldados norte-coreanos foram enviados para ajudar a Rússia a retomar território ocupado em agosto pelos ucranianos na região de Kursk. E também pouco mais de uma semana após a vitória nas eleições americanas de Donald Trump, que disse que daria um fim rápido à guerra e questionou o apoio contínuo dos Estados Unidos a Kiev.

De acordo com o Instituto para o Estudo sobre Guerra (ISW), com sede nos EUA, mais de 200 alvos militares russos importantes, como bases, centros de comando e depósitos de munições, podem ser atingidos com o uso de mísseis ocidentais de longo alcance na Rússia.

“O levantamento da proibição daria à Ucrânia os meios para interromper as operações ofensivas russas em território ucraniano, destruindo suas forças e equipamentos antes que cheguem ao país invadido”, afirmou Oleksi Melnik, do Centro Razumkov, com sede em Kiev, à agência de notícias Efe em setembro.

ATACMS

Somente a autorização do uso dos ATACMS para ataques na Rússia não facilitará automaticamente a vitória da Ucrânia na guerra, segundo especialistas. No entanto, ainda sim é um passo muito importante para o equilíbrio de forças.

Com capacidade de percorrer 300 quilômetros, os primeiros ATACMS foram fornecidos para Ucrânia pelos Estados Unidos no terceiro trimestre do ano passado numa versão de alcance reduzido a no máximo 165 quilômetros.

Disparado das plataformas de lançamento M270 ou HIMARS, o ATACMS é fabricado pela empresa americana Lockheed Martin e foi utilizado pela primeira vez com grande efeito durante a operação Tormenta do Deserto, entre 1990 e 1991, quando uma coalizão liderada pelos EUA atacou o Iraque em resposta à invasão do Kuwait.

Os ATACMS possuem um sistema de navegação assistido por GPS e são movidos a combustível sólido. Medem aproximadamente quatro metros de comprimento, tem 60 centímetros de diâmetro e possuem uma ogiva de explosão fragmentada de 226 quilos.

Storm Shadow

A decisão dos EUA pode abrir o debate em outros países que enviaram armas semelhantes à Ucrânia, como o Reino Unido, que forneceu em maio de 2023 os mísseis de cruzeiro Storm Shadow, com alcance de 250 quilômetros.

Lançados de um avião, eles voam a uma velocidade próxima à do som. São ideais para ataques a defesas reforçadas ou depósitos de munições. Sua utilização em território russo permitirá à Ucrânia atacar bases aéreas de onde são lançados os bombardeios contra o país.

Esses mísseis já foram utilizados com sucesso pela Ucrânia para atacar uma embarcação naval russa no porto de Sebastopol, na Crimeia, e uma ponte que liga a Crimeia a região de Kherson, ocupada pela Rússia.

O Storm Shadow pesa 1.300 quilos, possui cerca de cinco metros de comprimento e carrega uma ogiva convencional de 450 quilos.

Já a França enviou ao país os mísseis de cruzeiro Scalp, bastante semelhante ao Storm Shadow. Nesta segunda-feira (18/11), o país afirmou que o uso desses mísseis pela Ucrânia em território russo continuava sendo uma opção.

Taurus

A Ucrânia deseja ainda receber o Taurus KEPD-350, um míssil de cruzeiro lançado do ar, de origem teuto-sueca, fabricado pela empresa Taurus Systems e utilizado pelas Forças Armadas da Alemanha, da Espanha e da Coreia do Sul. A Taurus Systems é uma parceria entre a empresa alemã MBDA Deutschland (antiga LFK) e a sueca Saab Bofors Dynamics.

O governo alemão, porém, não autorizou o envio deste armamento a Kiev. O Taurus KEPD-350 é um dos sistemas armamentícios mais modernos da Bundeswehr. O míssil guiado de cinco metros de comprimento e 1.360 quilos é lançado por aviões de caça e, em seguida, acionado por um motor a jato, encontra ele mesmo seu alvo predeterminado no solo.

Com uma velocidade de até 1.170 km/h (ou seja, um pouco abaixo da velocidade do som), o Taurus voa a uma altitude de apenas cerca de 35 metros, o que o torna quase impossível de ser detectado pelo radar inimigo. Seu alcance é de até 500 quilômetros. Isso permite que os pilotos atinjam alvos a uma grande distância. Eles não precisam necessariamente entrar em espaço aéreo inimigo para lançar o Taurus.

Os mísseis Taurus dariam à Ucrânia a possibilidade de atacar também posições russas muito atrás da linha de frente. Isso permitiria à Ucrânia destruir rotas de suprimentos e centros de comando dos invasores russos. Em especial, a Ucrânia poderia atingir alvos na Crimeia, o que seria crucial para recuperar seu território.

O Taurus é capaz de superar paredes grossas consecutivas de concreto reforçado. Para isso, o míssil sobe abruptamente pouco antes do alvo e o ataca de cima, num mergulho vertical com alta energia cinética.

Antes que a ogiva propriamente dita exploda, uma carga moldada explode e faz um buraco na parede do bunker. Por esse buraco penetra o chamado penetrador de metal, que pesa 400 quilos, e que usa sensores para medir a resistência que precisa superar. Isso permite ao Taurus penetrar em vários andares de um bunker antes que a ogiva exploda.

Mais armamentos

Especialistas ouvidos para agência de notícias Efe avaliam que para a permissão do uso de mísseis de longo alcance em território russo trazer benefícios significativos, a Ucrânia precisa receber mais armas e elas devem ser entregues mais rápido.

Além de mais armas de longo alcance, o país precisa de mais armamentos e também substituir os equipamentos militares básicos como artilharia e veículos blindados de combate.