FARRA Comitiva embarcou para Israel para fazer turismo com dinheiro público: a desculpa foi um spray milagroso contra a Covid (Crédito:Divulgação)

Enquanto economiza nas ações internas para resolver os problemas nacionais, o governo Bolsonaro tem se mostrado entusiasta em organizar comitivas internacionais que trazem resultados pífios e muitas vezes servem apenas para exibir ostentação nas redes sociais. O último deboche foi protagonizado pelo deputado Eduardo Bolsonaro em uma viagem que ele fez para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para acompanhar a Expo 2020. Em uma foto postada nas redes, o filho 03 posa junto com a esposa e a filha, vestidos com trajes destinados às famílias dos sheiks. A ironia contrasta com a miséria crescente em que vivem os brasileiros durante uma severa crise econômica.

Eleito com o discurso que iria poupar os cofres públicos, o governo Bolsonaro tem exagerado no gasto com cartões corporativos. São R$ 204 milhões desde 2019 – R$ 50 milhões com gastos exclusivos da Presidência e dos filhos do mandatário, especialmente para pagamento de hospedagem e alimentação em viagens. Dubai virou o destino dos sonhos do momento. O secretário da Pesca, Jorge Seif, esteve na cidade no início do mês para um “trabalho-passeio top demais” (como definiu), divulgado por meio de um vídeo em seus canais, mas só conseguiu mostrar o quanto se divertiu com o dinheiro do contribuinte. Os dois são apenas parte da delegação oficial. O governo autorizou uma caravana para promover o turismo com 69 pessoas de nove ministérios e da Vice-Presidência para a feira de negócios. O custo estimado é superior a R$ 3,6 milhões.

Depois que a foto vestido de sheik repercutiu mal, o filho do presidente reagiu como é costume no clã: partiu para o ataque. A resposta veio por meio de uma postagem no Twitter. Eduardo afirmou que irritava “os genocidas da esquerda” e que iria postar outra foto. “Acabei de ser presenteado por um amigo árabe com uma kandora, a roupa tradicional deles que equivale ao nosso terno e gravata”, justificou. Em outra foto, sua família aparece com a praia ao fundo. O repúdio não veio somente dos críticos do governo. Também cidadãos que se identificam como “de direita” inundaram a rede com comentários negativos. É fácil entender a reação. Uma das cidades mais caras do planeta, Dubai ficou ainda mais proibitiva com a disparada do dólar, que afeta os cidadãos comuns.

O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) acionou o Ministério Público Federal e foi ao embate com o filho 03. “Ali Banana e os 40 ladrões do desgoverno Bolsonaro estão fazendo farra em Dubai enquanto 20 milhões de pessoas estão passando fome, catando comida no lixo”, escreveu. O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), também protestou. “O Sheik Duduzinho deveria ir para uma cidade ver pessoas passando fome, não para Dubai.” O deputado Junior Bozzella (PSL-SP) disse que Eduardo nunca se preocupou com o povo. “Os fatos mostram isso, o Eduardo não gosta de gente, gosta de poder, por isso agora está dando uma de sheik árabe”, ironizou.

DEU PRAIA O ministro de Turismo, Gilson Machado, não perde uma oportunidade: Dubai (Crédito:Divulgação)

Para atenuar a repercussão negativa, Eduardo passou a divulgar encontros com líderes árabes. Mas isso não muda a imagem que já ficou marcada de um governo que colhe resultados medíocres na frente externa e já se vangloriou de ser um “pária internacional”. O próprio Eduardo participou de outra caravana que atesta essa falta de conexão com a realidade. Fez parte da comitiva oficial que foi a Israel para avaliar um spray milagroso contra o coronavírus, em março. Além de não trazer nenhum remédio, o grupo torrou pelo menos R$ 400 mil com o giro internacional feito em avião da FAB.

Em recente viagem para a Assembleia Geral da ONU, em setembro, o próprio presidente deu o exemplo. Ministros, assessores, familiares e bajuladores participaram da excursão em Nova York. E não é apenas a família do presidente que embarca nas farras ao exterior. Em julho, mais uma comitiva viajou até Roma, na Itália, com seis representantes do governo. Na oportunidade, os organizadores do evento haviam deixado claro que o limite era de três pessoas. Além do ministro do Turismo, Gilson Machado, e do secretário de Cultura, Mário Frias, viajaram outros quatros assessores. Dois foram fazer turismo, literalmente. Todos voltaram só dois dias depois do término da cúpula dos ministros de Cultura do G-20. O timing foi significativo para elucidar as prioridades do governo. Enquanto os responsáveis pela Cultura curtiam Roma, um depósito da Cinemateca Brasileira pegou fogo em São Paulo.