Uma biblioteca batizada em homenagem ao jornalista Dawit Isaak, preso sem julgamento na Eritréia desde 2001, se tornou um refúgio para livros, peças e canções de autores censurados e ameaçados por razões quase sempre ridículas. Nesse espaço reservado por Malmö, no extremo sul da Suécia, estão cerca de 1.600 itens com as “justificativas” por seu banimento em diversos países e épocas, como o simbólico “Versos Satânicos”, livro de 1989 do anglo-indiano Salman Rushdie, acusado de ofender o profeta Maomé. Condenado à morte pelo aiatolá Khomeini, o escritor passou a viver fugindo de assassinos acionados pelo líder religioso do Irã.

CENSURA Mais de 1600 obras de autores perseguidos são preservadas (Crédito:Divulgação)

O livro “1984”, lançado em 1949 pelo britânico George Orwell, é uma analogia às ditaduras e não passou pela censura da União Soviética. Mas, surpreendentemente, também foi vetado nos EUA, que entenderam o livro como “pró-comunista”. Como a biblioteca aceita indicações (dawitisaakbiblioteket@malmo.se), pode-se sugerir a série “Febeapá”, iniciada em 1966 por Sérgio Porto, que ridicularizava censores ignorantes do golpe militar, de 1964.

Censurado na Colômbia — mas só até Gabriel García Márquez ganhar o Nobel de Literatura em 1982, “Cem Anos de Solidão” foi vetado na Rússia por descrever cenas de sexo. Na mesma linha, “Lolita” (1955), do russo Vladimir Nabokov, que conta a história de um professor que se apaixona pela enteada de apenas 12 anos, não pôde ser lido no Brasil. “Maus”, HQ de Art Spiegelman, que em 1980 denunciava os horrores nazistas, também acaba de receber veto no Tennessee (EUA), por conter “palavrões e nudez”.

Em contraponto, “O Touro Ferdinando” (1936), livro infantil do americano Munro Leaf em que o personagem gosta de cheirar flores, foi censurado na Espanha do ditador Franco e queimado na Alemanha de Hitler, por “propaganda pacifista”. A série “Harry Potter”, da britânica J.K. Rowling, iniciada em 1998, arrepiou diretores de escolas dos Emirados Árabes Unidos, por “incentivo à prática de bruxaria”. E, mais uma vez, no Irã sobrou para Paulo Coelho, que teve seus livros recolhidos em 2011 porque seu editor foi apontado como inimigo do regime e fugiu.