Meu primeiro voto foi aos 16 anos, em 1989. Era a primeira eleição direta para presidente depois do regime militar. Lembro-me que no local da votação, em Fortaleza, uma senhora, possivelmente acima dos 70 anos, quase não conseguia assinar a comprovação de que tinha votado, de tão nervosa. Ela tremia muito. Estava muito emocionada. Era a primeira vez que votava depois de anos. Eu me senti importante participando daquele momento. Apesar da nossa diferença de idade, ali, nossa escolha tinha o mesmo peso. O direito ao voto facultativo aos 16 anos foi incluído na Constituição de 1988. Contudo, o que temos visto nos últimos anos é o aumento do desinteresse do jovem pela política.

O número de jovens inscritos na Justiça Eleitoral é cada vez menor, ano após ano. Muito provavelmente teremos apenas cerca de 20% do eleitorado de 16 e 17 anos interessado em votar em outubro. De acordo com o IBGE, essa população é estimada em 6,13 milhões de pessoas. E por que isso ocorre?

A política ainda não aprendeu a se conectar com o jovem. Ela é burocrática, pouco convidativa, mesmo entre os eleitores acima de 18 anos

A velocidade com que as coisas acontecem hoje talvez tenha deixado esse público mais imediatistas. Acreditam que tudo se resolve em um clique. A velocidade da política, que exige negociações, consenso, é outra. É mais demorada. A democracia é trabalhosa. As mídias sociais são mais interessantes. Outro fator é que ainda prevalece a percepção de que a corrupção é inerente à política. Percepção que se fortalece a cada novo escândalo envolvendo mau uso do dinheiro público. A política também ainda não aprendeu a se conectar com o jovem. Ela é burocrática, pouco convidativa. Mesmo entre os eleitores acima de 18 anos, para os quais o voto é obrigatório, as abstenções e o não comparecimento têm aumentado nos últimos pleitos. Também não há conexão entre eleitores e candidatos. Muitos se esquecem em quem votaram meses depois.

Vale citar ainda o clima de radicalismo que vem se aprofundando na política brasileira. Os debates, em geral, têm se tornado conflituosos e motivo de desavença até entre pessoas da mesma família. Por isso, em muitos casos, o assunto política passa a ser evitado. A polarização não agrada ao jovem. Não há outro caminho para aumentar a participação da juventude na política que não seja pela educação. Sem doutrinas. E sim pela conscientização de que, gostemos ou não, nosso futuro é decidido por meio da política. Platão viveu entre 420 e 347 a.C. Mas uma de suas frases permanece atual e se encaixa perfeitamente nesse tema: “O preço que os homens de bem pagam pela indiferença aos assuntos políticos é ser governado pelos maus.”