No início do mandato de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu que ao longo de quatro anos arrecadaria R$ 1 trilhão com privatizações de empresas estatais. Como não conseguiu vender nada até agora, o governo faz, no apagar das luzes, um esforço gigantesco para garantir a venda da Eletrobras, em sua última chance de privatizar alguma coisa. Mas, para isso, fará o País pagar um preço alto, de R$ 157 bilhões, que deriva de “jabutis” que o projeto de privatização da empresa recebeu no Congresso. O termo designa emendas parlamentares que não têm relação direta com o texto principal do projeto em apreciação, mas que foram introduzidas durante sua tramitação, obrigando o governo a arcar com custos de infraestrutura para facilitar a venda, sobretudo no setor de termoelétricas. E quem vai pagar essa conta é o consumidor, inclusive o de baixa renda, com o aumento nos preços da energia elétrica.

TRANSMISSÃO O custo das tarifas de energia elétrica vai subir com a privatização da Eletrobrás (Crédito:Istockphoto)

Em tese, o objetivo da privatização de estatais é garantir que essas empresas sejam mais eficientes, aumentem a produtividade e elevem sua contribuição para a economia brasileira. Afinal, empresas públicas têm uma dose inevitável de ineficiência, entre outras razões por serem suscetíveis a influências políticas na indicação de nomes para seus postos mais importantes. A privatização da Eletrobras, portanto, a princípio seria positiva. “Mas não ao preço que o país está pagando”, alerta o economista e ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega. “O alto preço que se vai pagar, e que deriva desses jabutis, representará um encargo permanente para os consumidores.”

O jabuti mais vistoso e de maior valor – R$ 100 bilhões – é o que prevê a construção de gasodutos e que pode beneficiar diretamente o empresário Carlos Suarez. Conhecido como “Rei do Gás”, ele é sócio de oito distribuidoras do combustível no país. O Centrão trabalha para direcionar R$ 100 bilhões do lucro com a exploração do pré-sal para custear a obra, que vai levar o gás de Suarez de regiões remotas até os grandes centros. A manobra foi apelidada de Centrãoduto. Outros jabutis serão atendidos pelos R$ 57 bilhões, como o Linhão de Tucuruí, que vai ligar Roraima ao sistema elétrico nacional, passando inclusive por territórios indígenas. Também se prevê contratação de usinas termoelétricas movidas a gás natural.

“É um governo à deriva, o Congresso faz o que quer e o Centrão que manda. Esses jabutis são a prova inequívoca de como as coisas funcionam no País de Bolsonaro”, diz Mailson da Nóbrega. “O consumidor de baixa renda vai pagar para construir termoelétricas no interior do Nordeste que beneficiarão empresários que têm articulação com o governo e que querem tirar vantagem dessa influência no sistema político”, arremata o ex-ministro. Uma dessas termoelétricas será instalada no Piauí e vai beneficiar o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Outra termoelétrica desses jabutis será implantada em Uberlândia, na base eleitoral do senador Rodrigo Pacheco, presidente do Senado. Como diz o velho ditado: como jabuti não sobe em árvore, alguém o colocou lá.