‘Os Irmãos Karamázov’: clássico da literatura mundial chega aos palcos brasileiros

Com direção de Marina Vianna e Caio Blat, a adaptação teatral da aclamada obra de Dostoiévski inicia curta temporada no Rio de Janeiro

Divulgação/Lorena Zchaber.
Os atores Caio Blat e Babu Santana em cena no espetáculo ‘Os Irmãos Karamázov’. Foto: Divulgação/Lorena Zchaber.

Uma família desestruturada atravessada por paixões, disputas financeiras, dilemas existenciais e um pai perverso. Esta poderia ser a trama de uma nova série ou filme, mas foi eternizada no romance “Os Irmãos Karamázov”, publicado em 1880 pelo celebrado autor russo Fiódor Dostoiévski.

Com adaptação de Caio Blat e Manoel Candeias, o livro – considerado por Freud obra-prima da humanidade – chegou aos palcos em espetáculo inédito com estreia no dia 18 de dezembro no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, em única apresentação em 2024.

Agora, a temporada carioca acontece de 8 a 25 de janeiro, na mesma sala de espetáculos. Dirigida por Marina Vianna e Caio Blat, a montagem traz diálogos ágeis, cenas intensas e um elenco diverso.

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“Sabíamos de cara que não seria possível dar conta do romance inteiro. Então, o primeiro desafio foi entender o que é essencial dessas mil páginas pra gente conhecer a trama e os personagens”, conta Caio.

“A nossa adaptação fez uma opção radical de seguir só os três dias em que a tragédia se desenvolve. A gente acreditou que a partir da urgência e da loucura dos personagens nesses três dias, é possível conhecer a personalidade de cada um. A partir daí, o desafio foi sintetizar numa peça rápida, vertical e vertiginosa os principais temas, e revelar a alma de cada um dos personagens”, completa.

Elenco

O elenco é formado por Babu Santana, Luisa Arraes, Sol Miranda, Nina Tomsic, Pedro Henrique Muller, Lucas Oranmian, além dos diretores Caio e Marina, que também atuam. Na encenação, a escolha do elenco não se ateve ao gênero dos artistas em relação aos personagens descritos.

“Dostoiévski é, se não o maior, um dos maiores autores sobre a alma humana. São questões que não poderiam ser restritas a um gênero. Então a gente quis borrar essas fronteiras, mas as mulheres não estão interpretando homem, e os homens não estão interpretando mulher. Aqui são atores e atrizes fazendo seres humanos. O que prevalece sobre um personagem não é se ele é homem ou mulher, mas sim o que ele está buscando, qual é sua ânsia, qual é sua fúria. São questões de cada ser humano”, explica a atriz Luisa Arraes.

Ambientado na Rússia pré-revolucionária, o espetáculo traz para o palco temas atemporais como culpa, justiça, autoritarismo e a busca por libertação de figuras opressoras, simbolizada no desejo dos filhos de destruir o pai corrupto. O espetáculo explora essas questões com linguagem acessível e popular, aproximando-se dos temas que assolam a sociedade brasileira.

“Todos os aspectos sociais da Rússia czarista que estão no texto – o abismo social, o patriarcado, o autoritarismo, a religião decadente que explora e ilude o povo – podem ser perfeitamente compreendidos pelo brasileiro hoje. A gente não precisou fazer nenhuma transposição, nem nenhuma grande pesquisa sobre a Rússia czarista, todos os símbolos que estão na peça são facilmente reconhecidos por qualquer plateia”, observa Caio Blat.

Além do elenco, estarão em cena os músicos Arthur Braganti (também diretor musical do espetáculo) e Thiago Rabello; as artistas intérpretes de libras Juliete Viana e Maria Luiza Aquino; e Sofia Badim, assistente de direção que também apoia o elenco, compondo um grupo heterogêneo de 13 atores que se revezam para contar essa história, ora em coro, ora individualmente, com seus corpos e funções diversos.

Adaptação

A adaptação é fruto de 10 anos de estudo de Caio Blat e Manoel Candeias sobre a obra de Dostoiévski e o romance, além de quatro meses de um intenso processo criativo, com o elenco e o grupo de artistas envolvidos para a realização do espetáculo. Isabela Capeto assina a direção de arte e o figurino; Amália Lima, a direção de movimento; Arthur Braganti, a direção musical e trilha sonora original; Gustavo Hadba e Sarah Salgado, o desenho de luz; Moa Batsow, a cenografia; Raissa Couto, a acessibilidade criativa; com a direção de produção de Maria Duarte.

Embora hoje seja considerado erudito, Dostoiévski foi um escritor popular e acessível. O romance “Os Irmãos Karamazov” foi publicado originalmente como folhetim, uma novela em capítulos no jornal. A montagem pretende popularizar o escritor e a sua obra no Brasil.

Segundo Maria Duarte, para se produzir um espetáculo para o grande público, além da proposta artística da encenação, é preciso pensar na acessibilidade de fato.

“É isto o que me move nesse projeto desde o primeiro dia: realizar um espetáculo realmente acessível. Isso implica olhar para a acessibilidade não como uma contrapartida, um problema a ser resolvido, um recurso a ser inserido depois da criação. E sim uma lente a mais para os criadores, que inspira e amplia possibilidades. Essa foi a minha proposta para a direção e toda a equipe envolvida. Quis trazer intérpretes atrizes para a cena com o elenco, e não tradutores de Libras numa lateral do palco. E o que parecia no início um problema, abriu uma explosão de ideias nesse processo, emocionante de ver”, completa a diretora de produção.

A acessibilidade como pilar criativo

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), há mais de 1,3 bilhão de pessoas com deficiência em todo o mundo.

“É urgente encararmos este assunto, e considerarmos a acessibilidade como premissa da criação de um espetáculo, um show, um evento, um livro, qualquer produção cultural. Não é mais possível, em pleno 2024, se cogitar produzir um espetáculo teatral ignorando essa parcela da população”, afirma Maria.

A produtora propõe a criação de um projeto inovador e ousado, que pensa a acessibilidade criativamente, entrelaçada de forma orgânica com a dramaturgia e a encenação. Todos os pilares criativos do espetáculo foram convocados – do figurino à comunicação – para o desafio de criar um espetáculo para todos, de fato.

Fugindo do literal e do óbvio, a montagem inclui artistas intérpretes no elenco e o uso da língua brasileira de sinais nos diálogos e na composição do gestual da encenação, além de soluções que incluem efeitos sonoros, suportes táteis, comunicação acessível e outras iniciativas inéditas.

Sinopse

O espetáculo se passa na Rússia pré-revolucionária e acompanha as disputas entre os irmãos Karamázov e seu pai, Fiódor, pela herança da família e pelo amor da mesma mulher. Nesse caldeirão explosivo de ressentimentos familiares, cada um dos irmãos colabora de sua maneira para o mais temido desfecho: o assassinato do pai tirano com a participação ou omissão de cada um de seus filhos.

Serviço

Os Irmãos Karamázov

De Fiódor Dostoiévski

Direção: Marina Vianna e Caio Blat

Dramaturgia: Caio Blat e Manoel Candeias

Direção de Produção: Maria Duarte

Produção Artística: Luisa Arraes

Elenco: Babu Santana, Caio Blat, Lucas Oranmian, Luisa Arraes, Marina 

Vianna, Nina Tomsic, Pedro Henrique Muller, Sol Miranda. Músicos: 

Arthur Braganti, Thiago Rebello. Artistas intérpretes: Juliete Viana, Malu 

Aquino. Coro: Sofia Badim.

Estreia: 18 de dezembro de 2024

Temporada: entre os dias 8 e 25 de janeiro de 2025

Dias da semana: de quarta a domingo, de 8 a 19, e de terça a sábado, de 21

a 25/1. 

Horário: 20h

Local: Arena do Sesc Copacabana

Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30

(inteira)

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ

Informações: (21) 3180-5226

Bilheteria – Horário de funcionamento:

Terça a sexta – das 9h às 20h;

Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h.

Classificação indicativa: 16 anos

Lotação: Sujeito à lotação

Gênero: Teatro