Na religião, o guru é classificado como um guia sagrado, por ser dotado de conhecimento abrangente em vários segmentos, como na religião, na filosofia ou na ciência. Na política, assumiu um novo significado, que pode muitas vezes até dispensar diplomas e conhecimentos específicos: ele são os principais conselheiros dos candidatos. Com a redução do custo das campanhas e o desaparecimento dos marqueteiros e suas equipes de profissionais, o companheiro político que aconselha e orienta o candidato ganhou mais espaço e terá papel fundamental nas eleições. Há candidatos a presidente que possuem um para cada área – um verdadeiro staff de “mestres”. Mas nem sempre o que ele diz é capaz de guiar seus discípulos por águas tranqüilas. Basta uma dica errada, e o estrago está feito.

Foi o que aconteceu com o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Sem coligação, tudo o que o ex-capitão do Exército menos precisava era dividir o grupo o apóia. Mas, devido ao conselho precipitado de um dos seus três gurus mais importantes, as primeiras cicatrizes em sua base começaram a aparecer. O responsável pelo racha foi o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebiano. Ele sugeriu a Bolsonaro que evitasse participar de um evento batizado de “Cúpula Conservadora das Américas”, um contraponto ao Foro de São Paulo, que este ano reunirá legendas de esquerda, em Cuba, entre os dias 15 e 17 de julho. Preocupado em não deixar Bolsonaro isolado somente junto ao eleitorado de direita, Bebiano vetou a participação. Para frustração dos demais conselheiros do mesmo Bolsonaro, como o general Augusto Heleno, ponte do candidato com o meio militar, e o deputado Fernando Francischini (PSL-PR), responsável pelo elo político. Ao perceber o mal-estar, Bolsonaro voltou atrás. Vai à cúpula. Mas, em razão da confusão, ela acabou adiada para depois das eleições.

Seguindo a dimensão do bloco que aglutinou em torno de sua candidatura, Geraldo Alckmin (PSDB) também é bem fornido de conselheiros. Na política seus braços-direitos são o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o senador Tasso Jereissati (CE). No plano pessoal, aos poucos emerge um nome ainda sem rosto para boa parte dos paulistanos e do resto do Brasil, por seu jeito discreto, dedicado, leal e desprovido de vaidades. São características do advogado Orlando de Assis Baptista Neto, o Orlandinho. Os dois são amigos desde 1983, quando o presidenciável era deputado federal. Orlandinho tem uma qualidade que Alckmin muito leva em conta para mantê-lo próximo: não ter disposição para cargos eletivos. Além disso, gosta de atuar na sombra. Orlandinho é praticamente invisível. Interlocutores de Alckmin garantem que, em caso de vitória nas urnas, o assessor ganhará uma sala no quarto andar do Planalto.

Mentor de si mesmo

O mesmo destino deve ser reservado a João Paulo Capobianco na hipótese de uma vitória de Marina Silva, da Rede. O biólogo integra o staff de Marina desde que se tornou seu principal assessor no Ministério do Meio Ambiente. Quem ultimamente ganha espaço é o pastor da Igreja Batista Ed Rene Kivitz, mesma congregação da candidata da Rede. O pastor é o porta-voz de Marina junto aos evangélicos. Por orientação do religioso, Marina tem se policiado mais nas críticas contundentes, mesmo quando o assunto diz respeito à sua maior competência, como a questão ambiental.

Ao contrário dos concorrentes, Ciro Gomes, do PDT, refugia-se na própria família. Tem como principais conselheiros os irmãos Cid e Ivo Gomes, prefeito de Sobral. Recentemente, o atual prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, entrou no grupo. É unanimidade na campanha que Ciro vem chamando a atenção por suas declarações mal compreendidas e desnecessárias. E que podem lhe custar perda de votos. Nos últimos dias, a trinca tem orientado Ciro a evitar polêmicas. Indomável, o candidato prefere ouvir outro guru, o único em quem demonstra confiar irrestritamente: ele mesmo.