Os grupos que impulsionam o movimento Maga, de Trump

Uma fundação ultraconservadora, evangélicos e, claro, vários bilionários: Trump pode ser a figura central, mas há muitos outros exercendo poder e influência dentro do movimento Make America Great Again (Maga).Não faz nem um ano que o republicano Donald Trump assumiu o cargo de presidente dos EUA, mas isso já foi tempo suficiente para ele virar o país de cabeça para baixo. O mais recente capítulo foi a publicação da nova Estratégia de Segurança Nacional, no fim de novembro.

Nela – assim como na perseguição a imigrantes pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), nos ataques à imprensa que não noticia os fatos de maneira favorável ao governo, na abolição de medidas para promover a diversidade em empresas – o que se percebe é a ideologia do movimento trumpista Make America Great Again (Maga).

Mais do que um slogan, Maga é uma visão de mundo e um movimento. Mas não é um movimento homogêneo. Diferentes grupos priorizam diferentes temas. Trump é a principal figura pública, mas por trás da ideologia Maga há vários grupos e indivíduos poderosos tentando impor suas próprias agendas.

A Fundação Heritage

Um deles é a Fundação Heritage, um think tank nacionalista de direita com sede em Washington que se descreve como promotor de "políticas públicas conservadoras baseadas nos princípios da livre iniciativa, governo mínimo, liberdade individual, valores tradicionais americanos e uma defesa nacional forte".

A Fundação Heritage é também a idealizadora do Projeto 2025, um plano publicado em 2023 que descreve como um presidente conservador dos EUA poderia reestruturar o governo.

O Projeto 2025 prevê, entre outras coisas, um governo drasticamente reduzido, no qual demissões sejam facilitadas e o presidente tenha mais poder. Embora Trump tenha enfatizado durante sua campanha eleitoral que não tinha nada que ver com o projeto, ele implementou muitas das ideias dele após assumir o cargo.

Sob a iniciativa Doge, que visava tornar o governo dos EUA mais eficiente, milhares de funcionários públicos foram demitidos. Trump também busca expandir sua autoridade. Ele simplesmente ignora decisões judiciais, como as relativas a deportações. E gostaria de não ter limites para demitir chefes de agências federais de quem não gosta.

Membros da administração Trump, como a porta-voz Karoline Leavitt e o diretor do Escritório de Administração e Orçamento, Russell Vought, já trabalharam para a Fundação Heritage. Vought é considerado um dos principais arquitetos do Projeto 2025.

A Fundação Heritage doou 1 milhão de dólares (cerca de R$ 5,5 milhões) para a Convenção Nacional Republicana, que oficialmente confirmou Trump como candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA em meados de 2024.

Os evangélicos

O Projeto 2025 também defende que o direito ao aborto seja ainda mais restristo. Mas esse é um tema caro sobretudo aos evangélicos, que há anos estão entre os apoiadores mais leais a Trump.

Nem mesmo a admissão pública de Trump de que assediou mulheres ou o fato de ele ter cinco filhos com três mulheres os incomoda. O que importa para eles é que Trump esteja promovendo aquilo em que eles acreditam.

Poucas semanas antes da eleição presidencial de 2020, Trump nomeou uma juíza para a Suprema Corte conhecida por sua oposição ao aborto. Em junho de 2022, a Suprema Corte, com sua maioria conservadora de seis juízes – três deles nomeados por Trump – derrubou o direito ao aborto em todo o país. Desde então, cada estado decide se e sob quais condições o aborto é permitido.

Os evangélicos formam um poderoso lobby nos EUA, e a grande maioria vota no Partido Republicano. Por isso Trump não quer contrariá-los em questões como o aborto.

Outra medida que pode ser atribuída à influência dos evangélicos é a nomeação de Pete Hegseth como secretário de Defesa. Hegseth é evangélico e já se descreveu como um "guerreiro cristão". Ele excluiu pessoas transgênero das Forças Armadas e, segundo relatos da mídia, elogiou declarações de um pastor que se opôs ao voto feminino.

Críticos veem a crescente influência dos evangélicos no governo dos EUA como uma ameaça ao laicismo no país.

Bilionários e blogueiros

As ideias do blogueiro e criador de software Curtis Yarvin parecem servir de inspiração para Trump. Yarvin vê o conceito de democracia como ultrapassado. Em vez disso, um Estado deveria ser administrado por um CEO, assim como uma empresa. Não haveria mais um eleitorado, mas clientes com o direito de cancelar o serviço. Afinal, qualquer pessoa que não goste do CEO, ou seja, do governo, pode simplesmente se mudar para outro país.

O próprio Trump brincou antes da eleição de 2024 que, se as pessoas votassem nele naquela eleição, não precisariam nunca mais ir votar.

A ideia de transformar a Faixa de Gaza num destino de férias também veio de Yarvin. Em abril de 2024, ele propôs expulsar o povo palestino de Gaza e transformar o território num resort de luxo. Em fevereiro de 2025, Trump bateu na mesma tecla com a ideia de transformar Gaza na Riviera do Oriente Médio.

O fundador da plataforma online PayPal, Peter Thiel, também considera a democracia ineficiente. O bilionário nascido na Alemanha doou, por meio de vários canais, 1,25 milhão de dólares para a campanha eleitoral de Donald Trump em 2016. Em 2024, ele não fez doações para nenhuma campanha política.

Porém, nos anos anteriores havia investido pesadamente – por exemplo, 15 milhões de dólares na campanha de JD Vance para o Senado. O sucesso de Vance no Senado acabou colocando-o na vice-presidência. Para Thiel, esse foi um investimento de longo prazo que valeu a pena.

As ideias e os ideais de Thiel, como a noção de que a política deve dar carta branca às corporações e empresas de tecnologia, se refletem na política praticada pelo governo dos EUA. Vance, por exemplo, criticou a Lei de Serviços Digitais da UE, que serviu de base para uma multa milionária à rede social X.