Na metade dos anos 1960, Pelé já era considerado o Rei do futebol, mesmo antes do milésimo gol, em 1969, e do tri na Copa do México, no ano seguinte. Entre o final dos anos 1950 e a primeira metade da década seguinte, Pelé ganhou fama internacional. Tornou-se um ídolo global antes de o conceito de globalização aparecer. E fez isso antes da internet e, incrível, antes das transmissões de TV via satélite. A conquista do mundo foi algo que Pelé fez de forma presencial, numa maratona de jogos e viagens que é impressionante ainda hoje. E a seleção não foi suficiente para essa façanha. Sabendo que tinha uma atração irresistível em seu time, o Santos organizou cerca de 30 turnês fora do Brasil entre 1959 e 1966. Em toda a sua carreira no time santista, Pelé marcou 361 gols fora do Brasil.

Essa jornada internacional começou na Copa de 1958. Pelé marcou seu primeiro gol em solo estrangeiro na partida contra País de Gales. Naquele Mundial, ele marcou seis gols em quatro partidas. O jogador chegou a 12 gols em Copas: seis na Suécia, um no Chile, um na Inglaterra e quatro no México. Depois da primeira Copa, Pelé jogou novamente fora do Brasil em 1959, quando o Santos fez uma excursão por sete países na América Latina. Pelé anotou 15 gols em 14 partidas. O primeiro gol “estrangeiro” com a camisa do Santos foi em Lima, no Peru, na vitória do time brasileiro por 3 a 0 diante do Sport Boys. No mesmo ano, a primeira excursão do Santos na Europa passou por nove países, com o inacreditável número de 22 jogos em 44 dias. Pelé jogou todas as partidas e marcou 28 gols. 2 turnês de amistosos

Em 1960, o Santos voltou à Europa para 18 jogos em sete países. Pelé manteve sua média de mais de um gol por partida, marcando 24. No ano seguinte, o Santos fez 17 jogos na América Latina, com destaque para o quadrangular de Santiago. Nesse torneio, contra Argentina e Chile, Pelé marcou cinco gols em quatro confrontos. De volta à Europa o Santos fez mais 19 jogos em sete países, com Pelé mantendo sua média superior a um gol por partida: marcou 22.

Em 1962, a consagração Internacional do Rei ganhou outro patamar. Não tanto pelo bicampeonato mundial na Copa do Chile, na qual Pelé se machucou logo no início da competição, mas pela Conquista da Libertadores da América e do Campeonato Mundial de Clubes pelo Santos. Nessa decisão entre o melhor da América e o melhor da Europa, o Santos ganhou duas vezes do Benfica. No segundo jogo da decisão, em Lisboa, Pelé marcou três gols na vitória do Santos por 5 a 2. Uma vez na Europa, o time aproveitou para fazer mais três jogos amistosos em cinco dias, e Pelé anotou três vezes. Sobrou tempo para uma excursão de dez partidas por quatro países da América do Sul. Pela primeira vez numa turnê fora do Brasil, Pelé ficou abaixo da sua média excepcional, marcando “apenas” oito gols em dez jogos.

O Santos cumpriu duas turnês de amistosos em 1963. Foram cinco jogos na América do Sul, com dez gols de Pelé, e dez jogos em quatro países europeus, com Pelé marcando mais dez gols. Mas suas maiores conquistas no ano foram o bi na Libertadores, com Pelé marcando dois na vitória final sobre o Boca Juniors na Bombonera, e o bicampeonato mundial, conquistado em três partidas diante do Milan, da Itália. Pelé fez os dois gols na derrota do Santos por 4 a 2 no primeiro jogo e, contundido, não participou das duas vitórias seguidas do Santos que levaram o segundo título mundial para a Vila Belmiro.

No início de 1964, o Santos teve sua pior excursão sul-americana. Conseguiu cinco vitórias em oito jogos, e tomou duas goleadas por 5 cinco gols do Independiente, da Argentina, e do Peñarol, do Uruguai. O grande número de jogadores sofrendo com contusões freou o ritmo das viagens internacionais. No ano seguinte, o Santos disputou o hexagonal do Chile, torneio que misturou clubes e seleções. Pelé marcou cinco gols em seis jogos. Quem estava no estádio garante que o Rei teve uma das melhores atuações de sua carreira na vitória do Santos por 6 a 4 diante da seleção da Tchecoslováquia. Pelé marcou três gols e deu assistência para os outros três. Em outra turnê sul-americana, o time venceu o Torneio de Caracas e Pelé marcou 12 gols em 19 partidas.

Em 1966, a África entrou no roteiro de excursões do Santos, e Pelé marcou 11 gols em 12 jogos disputados em cinco países. Outro destaque internacional na temporada foi o Torneio de Nova York. Na final, o Santos bateu o Benfica por 4 a 0, com um gol e duas assistências de Pelé. Quando o juiz apitou o final do jogo, o campo foi invadido por boa parte dos 25.000 torcedores que estavam no estádio. A multidão fez questão de carregar o brasileiro em triunfo. O ritmo de turnês diminuiu, e em 1971 Pelé disputou sua milésima partida de futebol num amistoso em Paramaribo, capital do Suriname, sem marcar um gol nesse jogo. Depois, na carreira norte-americana no Cosmos de Nova York, Pelé marcou 37 gols em partidas oficiais., entre 1975 e 1977.

Sem a conexão digital que existe hoje, Pelé arregimentou adoradores um a um, pisando em gramados de mais de 60 países. Em campos estrangeiros, chegou a 513 gols em 501 jogos, a inacreditável média de 0,97 gol por partida. Por isso, qualquer pessoa que goste de futebol e tenha vivido nos anos 1960 e 1970 sabe muito bem quem é Pelé.