Michel Temer ficou muito bem impressionado com a habilidade política do senador Romero Jucá (PMDB-RR). Na segunda-feira 9, ele acompanhava a sessão do Senado que fora marcada para a leitura do parecer de Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável à continuidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff. A Casa deveria dar prosseguimento, também naquela tarde, ao julgamento de Delcídio do Amaral, investigado na Operação Lava-Jato. Questões processuais sinalizavam para o adiamento do caso Delcídio, e, se isso ocorresse, seria a terceira procrastinação em uma semana. Não satisfeito com a manobra, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ameaçava adiar a votação do impeachment. O impasse estava colocado. Jucá, tranquilamente, levantou uma questão de ordem que resolveu o problema e destravou a pauta. Nesse momento, Temer ficou ainda mais convicto da escolha que fez: dar ao parlamentar de Roraima, em seu governo, a Pasta do Planejamento.
Ao lado de Henrique Meirelles (Fazenda) e de José Serra (Relações Exteriores), Jucá fará parte da trinca considerada a mais crucial na Esplanada dos Ministérios – que, vale observar, apresenta uma falha: não tem a presença de nenhuma mulher, fato que não ocorria desde o governo do general Ernesto Geisel (1974 a 1979). O presidente chegou a convidar a deputada federal Mara Gabrilli e a ex-ministra do STF Ellen Gracie Northfleet para o primeiro escalão, mas as conversações não evoluíram. Ele já adiantou, no entanto, que em breve reparará esse lapso. De volta a Jucá, Serra e Meirelles, é desses três ministros que será exigida muita habilidade e muito empenho para que sigam adiante com as propostas necessárias para o Brasil sair da crise que os governos petistas o deixaram atolado. Temer promete dar a eles o prestígio político necessário para que cumpram suas missões.

Embora investigado na Lava-Jato sob a acusação de receber propina no esquema montado na Petrobras, Jucá é tido por Temer como alguém de fundamental importância e extremo jogo de cintura na articulação com o Congresso, e, assim, ele será de extrema importância a Eliseu Padilha, novo chefe da Casa Civil e encarregado de reconstruir pontes entre o Palácio do Planalto e o Parlamento. O integrante do PMDB gaúcho é um dos políticos mais próximos ao presidente. Pediu exoneração da Secretaria de Aviação Civil assim que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) aceitou o pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra Dilma e mergulhou na articulação pró-impeachment. Dentre os expoentes peemedebistas, o novo ministro da Casa Civil tem se livrado de acusações mais sérias na Lava-Jato, o que é um fator importante para o novo governo. Segundo delação do senador cassado Delcídio do Amaral, que perdeu o mandato e se tornou inelegível por 11 anos, Padilha deu suporte político para que ele fosse nomeado diretor de Gás e Energia da Petrobras em 1999, no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Assim que foi revelado o conteúdo das declarações de Delcídio, Padilha negou que tenha feito a indicação. Disse que era ministro do Transportes em 1999 e que o nome de Delcídio teve apoio, sim, mas do partido.

Além de Padilha, o novo gabinete presidencial terá na Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, do PMDB baiano, cuidando das relações do Planalto com os movimentos sociais. Geddel foi colaborador tanto de Lula, no comando da Pasta da Integração Nacional, como de Dilma, chefiando a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa. Pediu para deixar o banco em 2013 e passou a fazer oposição ao governo por não ter o apoio do PT nas eleições ao governo de seu estado em 2014. Foi um importante articulador do movimento pró-impeachment na Câmara dos Deputados. É uma escolha considerada ousada, uma vez que há menções a Geddel nos inquéritos da Lava-Jato. De acordo com relatórios da Polícia Federal, o ex-ministro cuidou de interesses da empreiteira OAS em diferentes órgãos da administração federal e fez pedidos de recursos à construtora para campanhas de aliados (pelo menos 29 políticos). A PF se baseou em mensagens captadas em equipamentos eletrônicos de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS. “Geddel aparece em algumas oportunidades solicitando valores para Léo Pinheiro, em especial relacionado ao termo ‘eleição’ e outros apoios. Já Léo Pinheiro demonstra ver em Geddel um agente político que pode ajudar na relação da OAS com órgãos e bancos (Caixa, por exemplo)”, afirmaram os policiais encarregados da apuração.

Assessor de Temer há 14 anos, o jornalista Márcio Freitas é quem irá comandar a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). O cargo era ocupado por Edinho Silva, o tesoureiro da campanha de Dilma em 2014 e alvo de investigações da Operação Lava Jato. Temer também oficializou Nara de Deus Vieira como sua chefe de gabinete, pois ela já o acompanha desde os tempos da presidência da Câmara dos Deputados. Nas eleições de 2014, Nara atuou como administradora financeira e saiu-se muito bem. Outro que está na equipe é Mozart Viana, ex-secretário-geral da Mesa Diretora da Câmara. Viana fará parte de um time de sete pessoas vinculados ao gabinete pessoal do chefe do Executivo e fica encarregado de analisar temas que farão parte da agenda presidencial e dos pronunciamentos.

O presidente terá ainda o advogado José Yunes em sua equipe. Amigo e conselheiro do peemedebista há décadas, ele deve ser nomeado assessor especial do gabinete. Temer e Yunes se encontraram recentemente no escritório do PMDB em São Paulo, um dos locais utilizados para sondagem de integrantes da sua equipe de governo. Yunes é conselheiro constante do presidente nas horas mais delicadas e difíceis, e estavam juntos, por exemplo, quando foi redigida a carta-desabafo endereçada a Dilma em dezembro do ano passado. O advogado tem dito que, no Palácio do Planalto, pretende ser um auxiliar com liberdade para fazer considerações positivas e negativas a respeito da administração.

Para reforçar o setor de inteligência, o novo primeiro mandatário do Brasil recriou o antigo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), extinto por Dilma Rousseff. Ele será ocupado pelo general de Exército Sérgio Etchegoyen, atual chefe do Estado Maior do Exército, a quem ficará subordinada a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Para além do Planalto, a Esplanada também está definida. Ciente de que parte do desastre político de Dilma passou pela péssima interlocução com o Congresso, Michel Temer, que já presidiu a Câmara dos Deputados, optou por uma composição de expressão parlamentar. Nada menos do que 13 indicados são deputados ou senadores. Agora é hora de arregaçar as mangas.

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