A gente está tão acostumado a ser roubado, enganado, ludibriado pelos políticos que elegemos que, talvez para não passar atestado de otário, sempre que acontece um escândalo, rapidamente damos um apelido carinhoso.
São nomes sempre no aumentativo ou no diminutivo, para criar rápida empatia, como se fosse, sei lá, um poodle.
“Mensalão”, por exemplo.

Olha que graça.

O apelido reduzia a importância do crime a um quase nada.

Crime? Que crime?! Imagine… era só um mensalãozinho de nada.

Muito menos grave do que o primeiro escalão de uma presidência da República corrupta pegar dinheiro de empresários corruptos para pagar a membros do Congresso Nacional corruptos.

Era só uma mesadinha… um estimulo. Nada mais do que isso.

Aliás, o próprio nome, “Mensalão”, era ótimo porque ao mesmo tempo em que aliviava a gravidade do crime, nos ajudou a, inconscientemente, aceitar que fosse um crime recorrente, que se repetia todos os meses.

Um gênio quem inventou.

E pronto. Engolimos sorrindo o que não aceitaríamos jamais em nossas vidas.

Imagine que o sujeito que corta o queijo na padaria, fosse ao caixa todos os meses e pegasse um maço de dinheiro.
Flagrado, diria:

– Calma gente! Não estou roubando! Isso é só o Mensalão que a gente pega todo mês.

– Ah tá. Então tá.

E segue o enterro.

Enquanto gastávamos fortunas em recursos e pessoal para investigar o Mensalão, nossos políticos já se apressaram para criar outro amor de escândalo.

– É assim, presidente, a gente vai superfaturar obras da Petrobras e repassar o dinheiro que sobrar pro pessoal que tá sentindo falta do Mensalão, entende?

– E se descobrirem?

– Quando descobrirem, a gente dá um nome bacana.

– Chamamos de que? – o presidente pergunta, preocupado com o que realmente importa.

– Que tal Petrolinho? – sugere um assessor.

– Acho fofo. – responde o mandatário.

Depois de alguma discussão fecharam em “Petrolão”, porque o diminutivo poderia ofender os diretores de alguma empreiteira.
E assim foi.
Agora estamos testemunhando a gênese de mais um escândalo meigo.

E mais uma vez, estamos todos quietinhos, assistindo comovidos.

É mais ou menos assim como se você, leitor, fosse um alto funcionário de uma empresa, talvez um engenheiro, ou um advogado.

Você estudou muitos anos para o cargo importante que ocupa.

A empresa monta uma equipe para trabalhar sob seu comando.

Profissionais que vão auxiliá-lo a entregar um trabalho ainda mais competente.

Então você faz um acordo com sua equipe.

– Todo mês, quando vocês receberem o salário, uma parte vocês depositam aqui na conta do Genival e ele repassa para minha conta, combinado?

– Mas, chefe, como assim? Isso não é roubo?

– Roubo?! Tá doido? Claro que não! Isso é “Rachadinha”!

– Ah tá. Então tá.

Só que, no caso atual, o Rachadeiro não é você ou eu.

As investigações, que ainda estão em curso indicam que o responsável pode ser o filho do presidente.

Ora, ora, que surpresa.

Mais um governo, mais um escandalozinho.

A receita é tão eficiente, que fico aqui pensando se o Ministério da Justiça não deveria mudar o nome de todos os crimes logo de uma vez…

Assassinato poderia ser rebatizado de “Passadão”, sequestro de “Sumicinho” e assalto a banco, quem sabe, de “Repossinha”.

Todos felizes, viveríamos num país onde o afeto ao crime não se limitaria apenas aos políticos.

E a Justiça, desobstruída, poderia cuidar de coisas que realmente importam.

Impeachment, por exemplo.

A roubalheira política ganhou um tom fofo por causa da singeleza dos nomes das operações