Após convite da França e da Arábia Saudita, o Brasil irá liderar — ao lado do Senegal — um dos grupos que vão discutir na ONU (Organização das Nações Unidas) a criação do Estado da Palestina.
A França e a Arábia Saudita presidem a Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados e criaram oito grupos de trabalho. O Brasil vai liderar o grupo de trabalho sete que, segundo informou o Itamaraty à reportagem, tem como objetivo a promoção do respeito ao direito internacional para a implementação da solução de dois Estados. O evento está previsto para acontecer em junho de 2025.
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“Os oito grupos de trabalho convocados pelas copresidências da Conferência como parte do processo preparatório, assim como a Conferência propriamente dita, são abertos a todos os Estados-membros e a representantes do sistema ONU, incluindo programas, fundos, agências especializadas e comissões regionais, além das instituições de Bretton Woods”, completou a pasta.
Ainda segundo o Itamaraty, todos os Estados-membros da ONU estão sendo consultados para participarem de maneira voluntária dos trabalhos. “Não há ainda definição sobre quais países vão participar dos grupos”, explicou.
Efeitos práticos
À IstoÉ, Aureo Toledo, professor de Relações Internacionais da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), em Minas Gerais, ressaltou a relação de longa data entre o Brasil e a Palestina, com um posicionamento sempre pautado na defesa da criação de dois Estados.
O Brasil tem tradição em mediações na região: em 1947, o diplomata Oswaldo Aranha foi peça-chave na aprovação da resolução 181 da ONU, que criou o Estado de Israel.
Embora 141 países, incluindo o Brasil, já reconheçam a Palestina como Estado, a ONU ainda não a considera soberana. Em abril de 2024, o Conselho de Segurança da organização realizou uma votação para adesão plena da Palestina na entidade. A resolução aprovada por 12 membros do conselho foi, no entanto, vetada pelos Estados Unidos.
Para o especialista, essa conferência liderada pelo Brasil pode ter como objetivo aumentar a pressão internacional sobre Israel. “O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 foi deplorável, mas precisamos também condenar a resposta desproporcional por parte do governo israelense”, afirmou.
Apesar de considerar uma boa iniciativa, Aureo faz ressalvas em relação ao efeito prático do Brasil na conferência. “O Brasil tem um importante papel como mediador de conflitos, mas ainda não possui um grande peso na política internacional”, completou, destacando que a atual situação mundial e a eleição de Donald Trump nos EUA — que apoia Israel — podem dificultar a concretização do que for decidido na conferência.