Ainda são tímidas as manifestações nas ruas pela queda do presidente Bolsonaro. Qualquer avaliação contrária estará mais com o sentimento de militância e desejo, legítimos, diga-se de passagem, do que exibindo a realidade. É fato que um grupo de críticos ao presidente se declarou contra as aglomerações necessárias aos atos e, por isso, ficou apenas nas redes sociais nos protestos realizados no dia 19. Mas a ofensiva já foi sentida pelo ex-capitão. Antes, com um contingente de pouco mais de seis mil motociclistas, ele tentou emplacar a narrativa de um apoio incondicional ao seu mandato. Esse apoio cai numa velocidade que todo o Planalto monitora e teme. As ruas já não têm um dono e o presidente não sabe dialogar com o contraditório.

Nessa semana, Bolsonaro atacou uma jornalista que questionava a sua atuação na pandemia. As 500 mil mortes compõem um cenário desastroso do governo que cria argumentos para que Bolsonaro seja rejeitado. Não há uma área em que o mandatário possa se agarrar. Mas, ao contrário das manifestações de 2013, que tinham uma narrativa clara e dominou todo o discurso político até as eleições de 2018, não há um enunciado de consenso que domine as manifestações. E para quem sonhou com o fim da polarização, parece que ela nem começou. Especialmente porque o ex-juiz Sérgio Moro e o apresentador Luciano Huck não se viabilizaram como candidatos. É muito pouco provável que um dos dois se reapresente para a disputa.

Num País continental, as candidaturas das massas silenciosas não costumam prosperar. A tentativa de unir um grupo que abranja todo o ideário político nacional, e que acomoda ex-apoiadores de Bolsonaro, os ex-presidentes Lula e FHC também não soam como vozes promissoras. Sem contar o fato de que o PSDB precisa sair do silêncio e dizer em alto e bom som quem é seu candidato. O governador de São Paulo, João Doria, já se lançou. No entanto, tanto Doria, quanto os outros representantes do seu partido, por enquanto apenas observam o quadro.

Faltando cerca de um ano para o início das campanhas eleitorais começarem oficialmente, há um atraso evidente na apresentação dos candidatos da chamada terceira via. As surpresas estão longe do horizonte. O grande grito deve ser dado em breve pelo povo, que hoje está dividido. Nos atos do último sábado já houve uma sinalização nesse sentido. Os palanques foram tomados por pensamentos tão diversos que torna-se quase impossível assegurar que haverá uma conciliação entre os vários segmentos da sociedade. Com o fim da pandemia, os atos públicos certamente tornarão-se mais frequentes e representativos. Resta saber quem vai conseguir atrair um numero maior dos brasileiros silenciosos. O barulho das panelas vazias e do desemprego certamente deverá falar alto nas ruas. As eleições de 2022 já começaram e o povo é soberano.


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