Luiz Inácio da Silva não imaginava tantas dificuldades para organizar o seu ministério e, mais ainda, para desenhar os gastos orçamentários para 2023. Provavelmente supôs que estava em 2002, em uma conjuntura, tanto nacional como internacional, relativamente tranquila, Quadro absolutamente diverso do que estamos assistindo desde a noite de 30 de outubro e que, provavelmente, não se dissipará nos primeiros meses do seu governo. As promessas eleitorais – absolutamente razoáveis – para serem concretizadas necessitarão de uma base congressual segura e, mais ainda, de recursos orçamentários que não sinalizem irresponsabilidade fiscal e desprezo por medidas econômicas indispensáveis para conter a inflação. Sem as quais o País não retomará o crescimento econômico e a necessidade de ampliar urgentemente o emprego e de geração de renda.

Não conheço na história da República um presidente da Câmara dos Deputados tão poderoso como Arthur Lira. Tivemos figuras emblemáticas como o célebre Dr. Ulysses Guimarães, mas aí era uma liderança no campo ético-republicano. Não é o caso do deputado alagoano. Tem uma bancada própria, suprapartidária, a maior da Câmara. Nada é aprovado sem a sua concordância, o que se repetirá no biênio 2023-2024, pois será reeleito presidente da Câmara dos Deputados. A disputa Lula-Lira tem de ser resolvida no campo republicano sob o risco de inviabilizar o próximo, no mínimo, biênio presidencial, e manter a tensão política com péssimos reflexos no campo econômico. Já estamos assistindo um preâmbulo deste embate no câmbio e na Bolsa.

Não conheço na história da República um presidente da Câmara dos Deputados tão poderoso como Arthur Lira

É fundamental para Lula não perder capital político. Mais ainda quando sequer assumiu à Presidência da República. A ausência — quase um abandono de emprego — de Jair Bolsonaro das tarefas mais simples do mais alto cargo do Executivo Federal, deixa o País em compasso de espera. A transição não está sendo realizada como todas as anteriores desde 1990. Em alguns ministérios, seus titulares já deixaram seus cargos entregues aos subordinados. Em outros, dados importantes foram subtraídos dos arquivos eletrônicos. Faltam informações básicas sobre o passado recente o que dificulta o planejamento das ações do novo governo.

Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin (neste caso vamos ver como o Vice-Presidente da República participará efetivamente da administração) vão ter de demonstrar enorme habilidade política para manter as negociações com o Congresso nos marcos republicanos e não frustrar milhões de brasileiros.