Toda profissão tem sua parcela de corruptos, a gente sabe.

Mas porque o dinheiro parece fácil e, principalmente, não parece ter dono, a categoria política bate recordes quando o assunto é a corrupção.

E isso acontece no mundo todo, não apenas no Brasil.

A diferença é que, em algumas culturas, a corrupção acaba por dar orgulho ao cidadão.

Sim! Orgulho mesmo.

Explico.

No Japão, o exemplo mais extremo, um político corrupto desmascarado pode até cometer suicídio em público e, de maneira sombria, essa atitude dá ao povo japonês uma certa altivez silenciosa, percebe?

Afinal, mostra para todo o mundo como são um povo honrado. Para eles a corrupção é tão moralmente condenável, que o japonês ladrão não consegue sequer continuar convivendo com sua vergonha.

Coisa linda, mas incompreensível para nós latinos, não?

A corrupção mundial, também não acontece desde o tempo recente, é óbvio.

No Brasil, permeou toda nossa História: monarquia, República, ditadura, enfim, séculos de assalto aos nossos cofres.

Há registros de corrupção desde a exportação do pau-brasil, durante a colonização, até mesmo na escravidão. Racismo e corrupção combinados. Só a gente para pensar em diversidade larapia.

O ridículo é que somos tão ingênuos, que tratamos cada governo como se fosse o responsável por inventar essa prática.

Só que apesar de universal e atemporal, nossa pátria tem duas peculiaridades quando o assunto é a roubalheira política.

A primeira são as consequências para aqueles que são pegos com a boca na botija. Nenhuma, basicamente.

Quando finalmente presos, devidamente condenados e encarcerados, acabam sendo tornozelados e passam para prisão domiciliar, que é outro nome para soltura.

Nós, cidadãos, de novo ingenuamente, imaginamos que um dia isso vai mudar.

Não vai, amigo.

Aconteça o que acontecer, corruptos serão sempre soltos.

Desconfio que seja porque, por mais que a gente fique revoltado com esses criminosos, no fundo mitificamos a malandragem.

Então o fato do corrupto ter sido descoberto já é suficiente punição para nós.

E vida que segue.

Mas tem a outra característica exclusiva da corrupção tupiniquim: o mau gosto.

Ah, compatriota, nesse item a gente brilha no mundo.

Nossos corruptos nos envergonham mundialmente, não apenas pelo ato, mas também pela mediocridade do que fazem com o dinheiro roubado.

Entucham a bufunfa em paredes e colchões; escondem nas contas em paraísos ficais; compram imóveis medíocres, bolsinhas, aneizinhos, carrinhos, tudo porcaria.

Se um corrupto francês compra um vinhedo em Bordeaux; se um corrupto italiano compra uma vila na Costa Amalfitana; os nossos compram um sitiozinho com pedalinhos.

A corrupção permeou a nossa história, da monarquia aos dias atuais. Séculos e séculos de assalto aos nossos bolsos

Uma vergonha.

E pior. Como roubam durante toda sua carreira, enchem os bolsos de dinheiro, mas continuam trabalhando em suas salinhas com paredes de fórmica e almoçando nas suas churrascarias patéticas.

Por isso é importante que Michelle receba seus diamantes.

Aquilo sim é roubalheira de qualidade.

Michelle precisa receber seus diamantes para servir de exemplo para a próxima geração de corruptos, percebe?

Porque quase nada muda ou vai mudar.

Vamos continuar nos surpreendendo, toda vez que aparece um político ladrão.

Vamos continuar achando que foi o bandido da vez quem inventou a corrupção.

Vamos continuar acreditando que, agora que o sujeito foi preso, tudo vai mudar.

Somos assim. Somos bobinhos.

Mas as joias da coroa Michelle são um fio de esperança porque mudam o patamar estético da roubalheira.

Quem sabe nossos próximos canalhas aprendam que podem sonhar com conquistas muito mais ambiciosas e elegantes.

Aí sim, finalmente, teremos orgulho de nossos corruptos.