Em Extremadura, a empresa americana Diamond Foundry produz diamantes artificiais para a fabricação de joias e em breve também para a indústria de microchips.A advogada espanhola Rebeca Brandys gosta de exibir seus diamantes artificiais – afinal ela trabalha na primeira fábrica de diamantes criados em laboratório da Espanha.
A fábrica está localizada na região mais pobre da Espanha, a Extremadura. É lá que a empresa americana Diamond Foundry produz desde 2023, num projeto-piloto, diamantes artificiais para a indústria de joias.
Como vice-presidente para assuntos legais da Diamond Foundry Europe, Brandys é responsável por todas as questões jurídicas da equipe de 40 pessoas, composta principalmente por engenheiros especializados em química, mecânica e aplicações industriais.
A Diamond Foundry não é a única empresa que produz diamantes artificialmente. Até a De Beers, a maior produtora e comerciante mundial de diamantes naturais, sediada em Londres, está investindo na produção em laboratório.
A rede de joalherias dinamarquesa Pandora, uma das maiores do mundo, anunciou em 2021 que passaria a vender apenas diamantes artificiais, dando como motivo as mudanças no comportamento de compradores mais jovens.
Baixo custo e consciência ambiental
"Nos Estados Unidos já estão sendo comprados mais diamantes cultivados em laboratório do que diamantes naturais", comenta Brandys.
Isso se deve também ao preço mais baixo, que geralmente representa menos de um décimo do preço dos diamantes naturais.
O outro motivo é que a fama dos diamantes naturais não é mais das melhores. Hoje eles são cada vez mais associados à destruição ambiental, a condições desumanas de trabalho e a conflitos sangrentos em vários países africanos.
O tema já foi abordado por Hollywood, como na produção cinematográfica Diamante de sangue, de 2006, estrelada pelo ator Leonardo DiCaprio, um dos primeiros investidores da Diamond Foundry. A empresa foi criada em 2012 em San Francisco.
Igual a um diamante natural
A Diamond Foundry tem uma fábrica de 6 mil metros quadrados em Trujillo, na Espanha. Os diamantes artificiais são produzidos em 20 reatores, que por sua vez exigem um complexo sistema de resfriamento, com grandes exaustores. Visitantes só podem ver as instalações pelo lado de fora, pois o que acontece lá dentro é segredo comercial.
Uma coisa, porém, é revelada: "Enquanto um diamante real leva mil anos para se formar, a Diamond Foundry consegue em apenas quatro semanas fazer um pequeno diamante real de 20 mm crescer até seu tamanho ideal a uma temperatura de 1.000 graus usando carbono, ou seja, grafite, e muita pressão", explica o diretor da fábrica, Eugenio de Arriba.
Diamantes artificiais não são como as imitações feitas de vidro, mas têm as mesmas propriedades da matéria que os diamantes reais. Por isso não são populares apenas como joias, mas também na indústria. Devido à dureza e resistência à temperatura, são usados como ferramentas de corte ou como lentes em óptica de laser.
Uso na indústria de microchips
Um dos fundadores da Diamond Foundry é o cientista da computação e empreendedor de tecnologia Martin Roscheisen. Talvez por isso a empresa veja um possível uso para seus diamantes em chips de computador.
Em 2023, a Diamond Foundry produziu o primeiro wafer de diamante usando um diamante cultivado em laboratório de 100 mm de diâmetro.
Em microeletrônica, wafers ou biscoitos são placas com espessura milimétrica sobre as quais são construídos os circuitos integrados, os chamados microchips. Elas costumam ser feitas de silício, que tem origem principalmente na China.
A Diamond Foundry está substituindo o silício por uma camada fina de diamante artificial. Como ele afasta melhor o calor, o resfriamento e o desempenho computacional dos chips melhora.
Investimento da UE
Essa é uma característica que também agrada à União Europeia (UE), principalmente porque ela significa menor dependência do silício chinês. No fim de 2024, a Comissão Europeia deu luz verde para um auxílio de 81 milhões de euros do governo espanhol para a fábrica da Diamond Foundry, cuja produção será expandida para usos industriais na próxima fase.
A primeira fase do projeto, segundo a Diamond Foundry, custou 275 milhões de euros. Para transformar a fábrica numa unidade de produção para a indústria de microchips são necessários mais 400 milhões de euros.
Se tudo correr conforme o planejado, a fábrica de diamantes artificiais de Extremadura será a maior do mundo.
A região de Extremadura, claro, acolhe de bom grado qualquer investimento. A falta de postos de trabalho é grande. Muitas pessoas estão se mudando para as cidades, pois terras estão sendo arrendadas por empresas de energia, que constroem enormes parques solares.
O diretor europeu da Diamond Foundry, Antonio Cordova, diz que as condições em Extremadura são muito boas. Segundo ele, a empresa pretende gerar uma grande parte da energia solar que consome.
Há ainda uma mina de lítio na vizinha Cáceres, e uma fábrica de baterias será construída no ano que vem em Navalmoral de la Mata, a uma hora de carro de Trujillo, sob a liderança do grupo chinês Envision e do grupo espanhol Acciona.
Por enquanto, os diamantes de laboratório só foram usados em chips de computador em testes feitos nos EUA, por exemplo pela fabricante de chips Nvidia. Mas Cordova se mostra confiante de que a fabricação para tais propósitos poderá em breve ser realizada em escala industrial em Trujillo. Porém, diz, para isso serão necessários ainda mais auxílios da UE e do governo espanhol.