Em uma festa realizada na semana passada em uma mansão de frente para o mar na ensolarada Malibu, Califórnia, o ator Tom Hanks lançou uma provocação aos presentes: ele estava disposto a apostar US$ 100 mil que Donald Trump deixará a presidência dos Estados Unidos antes do final do mandato. Aparentemente, ninguém topou o desafio. Alguns dias antes, o mesmo Hanks havia chamado o chefe da nação de “idiota”. No domingo 15, Larry Flynt, fundador da revista Hustler e conhecido no país como o “rei do pornô”, publicou um anúncio de página inteira no “The Washington Post” que oferecia US$ 10 milhões para qualquer cidadão que fornecesse uma informação capaz de levar ao impeachment de Trump. Por mais que os dois casos acima pareçam coisa de gente excêntrica – claro que é –, eles indicam um novo movimento: cresce no país a sensação, e o desejo, de que o presidente não sairá pela porta da frente da Casa Branca. “Há uma indisposição cada vez maior com as políticas públicas e as falácias de Trump”, diz Alexander Adelson, analista do Instituto Kennedy de Estudos Avançados.

Nos dez primeiros meses de governo, o índice de aprovação de Trump caiu de 44% para 36%, e o viés de baixa continua. Nesse ritmo, não demorará para que se torne o presidente mais impopular da história do País. Os desafetos vêm de todos os lados. No final de setembro, Daniel Kammen, cientista ligado ao Departamento de Estado, pediu demissão do cargo de um jeito curioso. Enviou ao presidente uma carta que continha um acróstico, composição em que as primeiras letras de cada parágrafo resultam em uma palavra. Na carta, a palavra formada era “impeach”. Kammen acusava Trump de ameaçar, “com suas ações tresloucadas, a qualidade de vida nos Estados Unidos, nossa posição no mundo e a sustentabilidade no planeta.”

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O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO
A possibilidade de impeachment está prevista na Constituição americana. Para que o afastamento seja levado adiante, é preciso que a Câmara dos Representantes aprove a destituição por maioria simples e que o Senado confirme a decisão com o apoio de dois terços do plenário. Por enquanto, a expulsão de Trump é remota. O Congresso é controlado por aliados republicanos, embora alguns deles tenham começado a falar em descontentamento com a figura do presidente. No anúncio que publicou, Larry Flynt aponta seis motivos legais para a abertura do processo de impeachment. Entre eles, obstrução de Justiça (pela demissão de um diretor do FBI que coordenava um inquérito sobre os laços indevidos entre Trump e russos), discurso racista, conflito de interesses (por suposto benefício de empresas ligadas ao grupo empresarial de Trump) e “centenas” de mentiras. O anúncio de Flynt traz uma frase contundente: “Creio que é meu dever patriota e o de todos os norte-americanos expulsar Trump antes que seja tarde demais.”

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Por mais que Trump e seus defensores digam que os argumentos são frágeis, a verdade é que o presidente dá motivos para ser odiado. Na semana passada, ele conseguiu a façanha de desrespeitar a viúva de um militar morto no Níger. Em telefonema de condolências, afirmou a ela que o militar “sabia para o que havia se alistado, mas, quando acontece, dói do mesmo jeito.” A fala sofreu forte reação. “Trump desrespeitou meu filho, minha filha e também a mim e ao meu marido morto”, disse a viúva ao “The Washington Post”. A julgar pelo comportamento explosivo do presidente, Tom Hanks poderá dobrar sua aposta e Larry Flynt encontrará alguém que merece receber US$ 10 milhões pelo impeachment do presidente.