A ONU, que vê um risco de “fome quase inevitável” no norte da Faixa de Gaza, usa critérios precisos para elaborar índices que determinam se essa situação existe em um determinado território.

Depois de quase cinco meses de guerra com Israel, os gazenses tentam desesperadamente ter acesso aos escassos comboios de ajuda humanitária que entram em território palestino e alguns habitantes contam que estão limitados a comer folhagens de árvores ou forragem para gado.

As medições são feitas pelas agências das Nações Unidas sediadas em Roma – o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Organização da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) -, com base em uma iniciativa que reúne organismos públicos e ONGs para a Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês).

O sistema conta com cinco fases, que vão de Segurança alimentar geral (Fase 1) até Fome/catástrofe humanitária (Fase 5).

– O que é fome? –

A fome se caracteriza por suas taxas de inanição, mortalidade, indigência e desnutrição aguda.

A ONU estima que a fome ameace 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, sobretudo no norte da Faixa, onde a destruição, os combates e saques tornam quase impossível a entrega de ajuda.

“Se nada mudar, a fome é iminente”, advertiu na terça-feira o diretor-executivo adjunto do PMA, Carl Skau.

Cerca de 97% da água em Gaza é rotulada como “não apta para o consumo humano” e a produção agrícola está começando a entrar em colapso, indicou Maurizio Martina, diretor-geral adjunto da FAO.

Segundo a Associação Palestina de Desenvolvimento Agrícola (Parc, na sigla em inglês), as forças israelenses destruíram um quarto das propriedades agrícolas do norte da Faixa.

O secretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, enviou uma nota em 22 de fevereiro, à qual a AFP teve acesso, na qual insta o Conselho de Segurança da ONU a garantir “a proibição de usar a fome da população civil como método de guerra”.

– Como se mede a fome? –

A Fase 5 da insegurança alimentar se define pelos seguintes critérios:

– Ao menos 20% das famílias enfrentam uma carência extrema de alimentos.

– Ao menos 30% das crianças sofrem de desnutrição aguda.

– Pelo menos duas de cada 10.000 pessoas ou pelo menos 4 crianças menores de 5 anos de cada 10.000 morrem diariamente de inanição ou por causas relacionadas à interação entre desnutrição e enfermidades.

A escassez severa pode levar à “explosão” da mortalidade infantil em Gaza, onde uma em cada seis crianças menores de dois sofre de desnutrição grave, advertiu o Unicef recentemente.

O Ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza informou na quarta-feira que seis crianças haviam morrido por desnutrição.

– As causas da fome –

As principais causas de fome são:

– Catástrofes naturais: seca, inundações, ciclones, terremotos, pragas, com impacto na disponibilidade de alimentos.

– Crises econômicas que afetam o comércio de alimentos, assim como o aumento e a volatilidade dos preços.

– Respostas humanitárias inadequadas para uma catástrofe, sobretudo quando o envio de ajuda é insuficiente, lento ou mal coordenado.

– Conflitos armados, que provocam o deslocamento da população e escassez alimentar, como ocorre em Gaza.

Uma situação exemplificada por Abu Gibril, um camponês palestino, de 60 anos, refugiado no grande acampamento de deslocados de Jabaliya, no norte da Faixa.

“Não tive outra escolha e matei os cavalos para alimentar os meninos”, contou ele à AFP na semana passada.

Sua família conseguiu se salvar dos combates, mas “agora é a fome que ceifa vidas”, acrescentou.

– Quem declara uma fome?

Quando esses índices são alcançados, corresponde às partes envolvidas declarar o estado de fome, entre elas as autoridades nacionais e as agências da ONU.

O IPC indicou nesta quinta-feira à AFP que “o próximo processo de análise de Gaza deve ser concluído na primeira quinzena de março”.

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