08/01/2021 - 18:05
O setor cultural foi um dos mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus. O Petra Belas Artes, um dos cinemas mais tradicionais da cidade de São Paulo, inaugurado em 1967, reabriu em outubro, depois de sete meses fechado, mas teve que abaixar as portas novamente no dia 7 de dezembro, por causa do público abaixo do esperado.
Depois de mais um mês fechado, o cinema reabriu na última quinta-feira (7) e chamou a atenção por oferecer entrada gratuita aos profissionais de saúde durante todo o mês de janeiro. André Sturm, ex-secretário de Cultura e diretor do Petra, acredita que haverá um retorno gradual do público ao longo dos próximos meses. “Os cinemas são um dos lugares mais seguros para você ir”, diz.
André também disse que pretende, no futuro, abrir o espaço do cinema para outras artes, como teatro, música e dança e retomar o drive-in, onde é possível ver filmes de dentro dos carros, de forma permanente. “A experiência foi tão bacana, que nós pretendemos no inverno fazer um. Estamos muito animados”, disse.
Em dezembro, vocês paralisaram as atividades e só retomaram esta semana. A volta aos cinemas foi abaixo do esperado?
A volta dos cinemas foi muito abaixo, não só no Belas Artes, mas em geral. Tava muito difícil abrir o cinema, porque envolve tantas pessoas, tantos funcionários e colaboradores e aí você recebe um número super pequeno de pessoas. Além de ser um prejuízo financeiro, é muito desmotivador. No mês de outubro, os cinemas do Brasil fizeram 8% do público de 2019.
Quais são suas expectativas para este novo retorno?
Eu não acredito que a gente vá ter um movimento grande, mas acho que vamos ter um movimento um pouco maior. De um lado, tem gente que já ficou doente, portanto pode sair de casa, por outro, tem pessoas que estão saindo, tomando todas as precauções. As pessoas estão trabalhando, indo aos restaurantes. Tem um número de pessoas que entendeu que, tomando as devidas precauções, é possível sair de casa.
Como convencer as pessoas para que voltem a frequentar os cinemas?
Nós, do Belas Artes, fizemos algumas campanhas. Os cinemas são um dos lugares mais seguros para você ir. Primeiro, porque você fica sentado, segundo, porque não tem ninguém do seu lado, terceiro, porque você fica de máscara, quarto, porque o ar-condicionado do cinema é de sistema central, você tem dutos que tiram o ar da sala e dutos que trazem ar novo pra sala, portanto não há um ar parado.
É muito mais seguro que uma academia de ginástica, que uma agência bancária, que um supermercado. O que aconteceu com o cinema para estar com esta fama foi tudo estar aberto e só o cinema ficar fechado.
Ano passado vocês tiveram uma ótima experiência com o drive-in. Há chance para a volta desse tipo de transmissão caso a pandemia piore no País?
A experiência foi tão bacana, que nós pretendemos no inverno fazer um drive-in. Estamos muito animados. Pretendemos fazer por um mês, independentemente da pandemia.
Você disse recentemente que planeja transformar o Belas Artes em um Centro Cultural. Para quando você pretende implementar esta ideia e como ela funcionaria?
Isso vai ser implementado quando a gente tiver uma confirmação da permanência da cidade de São Paulo na fase verde. A ideia é ter no Belas Artes as outras artes. Ter um espaço dedicado às artes cênicas, música, dança e pequenas exposições. Podemos aproveitar mais o espaço do cinema e oferecer mais opções culturais.
Além do cinema, vocês também contam com o Belas Artes à La Carte. Você acredita que os cinemas correm risco de fechamento diante do avanço do streaming?
Eu estou neste negócio há muito tempo. Quando eu comecei em cinema, no cineclube, surgiu a fita de vídeo e eu li vários artigos de especialistas dizendo que o cinema ia acabar. Aí veio o DVD e foi a mesma história. A mesma coisa com a TV a cabo e a internet. São duas experiências completamente diferentes. Eu não acho que o streaming atrapalha o cinema, porque ele é uma opção de lazer que você tem, quando você não quer sair de casa. As pessoas não vão no cinema só pra ver um filme. A experiência de ver um filme no cinema é diferente de ver em casa, onde você pode encontrar pessoas, rir junto, gritar junto. Não acho que o streaming vai acabar com o cinema. São dois modos de diversão.