16/09/2022 - 9:30
Erra quem julga que o zigue-zague político dos chilenos em seu conservadorismo significa que eles não sabem o que querem. A população tem plena noção de que o ideário conservador nada guarda do totalitarismo de extrema direita. Conhece, também, o postulado que a teoria conservadora pressupõe o verdadeiro liberalismo econômico. Ao mesmo tempo, o povo herdou do passado a consciência de que o posicionamento à esquerda é tão autoritário como o seu oposto. Os chilenos elegeram o esquerdista Gabriel Boric para presidente e estão sabendo trazê-lo ao centro. Boric anunciou na semana passada que o governo buscará a localização dos corpos dos cerca de mil e duzentos prisioneiros políticos que desapareceram no período da ditadura fascista de Augusto Pinochet. Recebeu todo apoio popular. Essa mesma população optou por, há pouco tempo, em plebiscito, manter a antiga Constituição dos tempos de Pinochet porque essa Carta veda a interferência do Estado na economia. Na terça-feira 13, quando a partir de um acordo partidário Boric voltou à proposição de renová-la com uma assembléia constituinte pura, eleita integralmente pelo voto e com a participação de especialistas, ele novamente recebeu o endosso daqueles que haviam votado “não” no referendo anterior, temerosos de que os constituintes nomeados pelo governo pendessem radicalmente à esquerda. Todos esses fatos, todo esse vaivém parecem um comportamento contraditório dos chilenos. Mas é só aparentemente. Eles não queriam o regime extremista de direita, que durou de 1973 a 1990, e continuam não o querendo. Mas também não querem o extremismo de esquerda. Os chilenos estão fortalecendo, isso sim, a posição conservadora, que, classicamente, é de centro. Ou seja: não comporta que o mandatário ultrapasse os limites que o Estado de Direito impõe a si próprio. Mais: preserva a democracia no campo político, o Poder Judiciário e o liberalismo na área econômica.
MEIO AMBIENTE
Desmatamento aquece e mata o Cerrado
É crítica e mostra-se pior, a cada estudo, a situação ambiental no Brasil. O desmatamento no Cerrado já destruiu, em toda a região, boa parte da vegetação original. Mais: a área esquentou 1ºC desde o início dos anos 2000. A informação consta de um excelente artigo coordenado pelas ecólogas Ariane Rodrigues e Mercedes Bustamante, ambas da Universidade de Brasília. O trabalho das cientistas brasileiras foi publicado na conceituada revista Global Change Biology.
ARTE
Exposição traz dois quadros de Di Cavalcante que estavam na França
Pela primeira vez os brasileiros poderão ver de perto os quadros Bahia e Carnaval, do pintor, ilustrador, desenhista, caricaturista e muralista Di Cavalcante. As obras estavam na França desde 1936, quando integraram uma exposição na galeria Rive Gauche, em Paris. O artista vivia na capital francesa no momento da mostra e deixou a Europa em 1939 na eclosão da Segunda Guerra. Di Cavalcante retornou ao Brasil, mas as pinturas, não. A exibição Di Cavalcante – 125 anos ficará aberta até o dia 22 de setembro, no Rio de Janeiro.
TRADIÇÃO
Pequenas notícias do reino
A imagem do rei Charles III vai estampar moedas britânicas. O protocolo manda que o rosto do monarca, no dinheiro, esteja olhando para o lado esquerdo — exatamente o lado contrário para o qual olhava sua mãe, Elisabeth II. Reza a tradição que tem de haver essa alternância na direção do olhar. Charles pode, no entanto, quebrar a regra sem sofrer a menor consequência. Ela já foi quebrada, na verdade, por Eduardo VIII, tio de Elizabeth.