Erra quem julga que o zigue-zague político dos chilenos em seu conservadorismo significa que eles não sabem o que querem. A população tem plena noção de que o ideário conservador nada guarda do totalitarismo de extrema direita. Conhece, também, o postulado que a teoria conservadora pressupõe o verdadeiro liberalismo econômico. Ao mesmo tempo, o povo herdou do passado a consciência de que o posicionamento à esquerda é tão autoritário como o seu oposto. Os chilenos elegeram o esquerdista Gabriel Boric para presidente e estão sabendo trazê-lo ao centro. Boric anunciou na semana passada que o governo buscará a localização dos corpos dos cerca de mil e duzentos prisioneiros políticos que desapareceram no período da ditadura fascista de Augusto Pinochet. Recebeu todo apoio popular. Essa mesma população optou por, há pouco tempo, em plebiscito, manter a antiga Constituição dos tempos de Pinochet porque essa Carta veda a interferência do Estado na economia. Na terça-feira 13, quando a partir de um acordo partidário Boric voltou à proposição de renová-la com uma assembléia constituinte pura, eleita integralmente pelo voto e com a participação de especialistas, ele novamente recebeu o endosso daqueles que haviam votado “não” no referendo anterior, temerosos de que os constituintes nomeados pelo governo pendessem radicalmente à esquerda. Todos esses fatos, todo esse vaivém parecem um comportamento contraditório dos chilenos. Mas é só aparentemente. Eles não queriam o regime extremista de direita, que durou de 1973 a 1990, e continuam não o querendo. Mas também não querem o extremismo de esquerda. Os chilenos estão fortalecendo, isso sim, a posição conservadora, que, classicamente, é de centro. Ou seja: não comporta que o mandatário ultrapasse os limites que o Estado de Direito impõe a si próprio. Mais: preserva a democracia no campo político, o Poder Judiciário e o liberalismo na área econômica.

PELA DEMOCRACIA Plebiscito: Constituição viciada, não (Crédito:Cristobal Escobar)
ACENO Gabriel Boric: consciência de que sua eleição não significa que o povo endosse radicalismos (Crédito:Divulgação)

MEIO AMBIENTE
Desmatamento aquece e mata o Cerrado

É crítica e mostra-se pior, a cada estudo, a situação ambiental no Brasil. O desmatamento no Cerrado já destruiu, em toda a região, boa parte da vegetação original. Mais: a área esquentou 1ºC desde o início dos anos 2000. A informação consta de um excelente artigo coordenado pelas ecólogas Ariane Rodrigues e Mercedes Bustamante, ambas da Universidade de Brasília. O trabalho das cientistas brasileiras foi publicado na conceituada revista Global Change Biology.

DESTRUIÇÃO Região do Cerrado: temperatura subiu 1ºC desde o início dos anos 2000 (Crédito: Sérgio Lima)

ARTE
Exposição traz dois quadros de Di Cavalcante que estavam na França

Pela primeira vez os brasileiros poderão ver de perto os quadros Bahia e Carnaval, do pintor, ilustrador, desenhista, caricaturista e muralista Di Cavalcante. As obras estavam na França desde 1936, quando integraram uma exposição na galeria Rive Gauche, em Paris. O artista vivia na capital francesa no momento da mostra e deixou a Europa em 1939 na eclosão da Segunda Guerra. Di Cavalcante retornou ao Brasil, mas as pinturas, não. A exibição Di Cavalcante – 125 anos ficará aberta até o dia 22 de setembro, no Rio de Janeiro.

QUADROS Bahia, pintado em 1935, e Carnaval, feito na década de 1920: relíquias brasileiras (Crédito:Divulgação)

TRADIÇÃO
Pequenas notícias do reino

A imagem do rei Charles III vai estampar moedas britânicas. O protocolo manda que o rosto do monarca, no dinheiro, esteja olhando para o lado esquerdo — exatamente o lado contrário para o qual olhava sua mãe, Elisabeth II. Reza a tradição que tem de haver essa alternância na direção do olhar. Charles pode, no entanto, quebrar a regra sem sofrer a menor consequência. Ela já foi quebrada, na verdade, por Eduardo VIII, tio de Elizabeth.

ALTERNÂNCIA Pelo protocolo, Charles III, nas moedas, terá de olhar para a esquerda: sua mãe olhava para o lado direito (Crédito:JONATHAN BRADY/LIAM MCBURNEY)