03/06/2022 - 9:30
Estamos de volta às ruas e, também, aos jantares entre amigos.
Apesar da saudade, admita, isso tem um lado ruim.
É que todo o grupo tem um ou mais chatos de jantar.
Uma categoria com cinco principais representantes, que descreverei a seguir.
1. O chato do vinho.
Ele se dedica a entender de onde veio a uva do vinho que aumentará o valor da conta em múltiplos de 100.
O chato do vinho não se identifica. Geralmente aguarda para que todos implorem que ele escolha o vinho que harmoniza com esse momento de congraçamento.
Antes do primeiro gole, explica a rara combinação de uvas Maplethorp com Deneuve.
— Reparem nas notas frutadas e no leve aroma de muçarela… Pergunta com o nariz enterrado na taça.
— É verdade! Senti! Senti! – sempre tem um que se empolga. Essa uva foi descoberta na região da Borgonha, logo após a Revolução vienense de 1715. Dizem que um cabo do exército Franco-Turco tropeçou numa raiz e…
Alguém perde educadamente a paciência.
— Vamos pedir a comida, hein?
O que nos leva ao segundo chato.
2. O chato do prato
A escolha num cardápio com 30 opções não é um mistério.
Menos para o chato do prato.
Você reconhece porque é o sujeito que diz:
— Massa? Hmmm… Não sei… massa eu comi anteontem no almoço…
— E dai, meu Deus do céu?! A lasanha já saiu do seu sistema!
Mas ele insiste.
— Garçom, por favor, esse filé de cordeiro à souto maior… como é?
O garçom, um chefe frustrado, responde descrevendo a desde o nascimento do cordeiro.
Ou pode ser ainda pior, quando o garçom não sabe a resposta:
— Desculpe senhor, sou novo aqui. Vou perguntar na cozinha e já volto.
O jantar segue sem maiores dores de cabeça até quando surge o terceiro chato.
3. O chato do café.
A culpa de sua existência é dos restaurantes, que passaram a oferecer milhares de cafés. Saudade do tempo em que as opções eram só curto e carioca.
— Da Nescoffe temos o Rizzolleto, o Feromono, o Simpleto. Da Império temos o Italia Linda do Norte e o Sonho de Valsa de Varsóvia. Temos também o…
— De coador não tem, né?
— Não tem.
— Então me prepara um Fascolliacco curto com espuma de leite de cabra. Ah! Em copo de vidro, como os de boteco.
— Olha em volta – É o melhor, vai, fala a verdade…
Ninguém tem uma opinião formada, mas todos concordam.
E antes da conta, tem mais um chato.
4. O chato do licor.
Este surge depois que estão todos alimentados, de cafés tomados e prontos para ir para casa.
— Pessoal, sabe o que cairia feito uma luva agora? Um licorzinho Ponccerello, não? Vocês têm?
— Claro que tem.
Mais meia hora será dedicada a esse importante detalhe, até que surge o último chato.
5. O chato da conta.
O jantar já acabou. Estão todos felizes com o encontro.
O chato da conta é quem decide conferir item por item.
— Alguém pediu suco de Aruá com Couve?
— Fui eu. Diz a moça que corre maratonas.
Claro que ele sempre encontra algo errado. A conta volta para o caixa.
— Impressionante como somos roubados… Comenta orgulhoso.
O jantar termina. Todos levantam.
É quando aparecem dois chatos no tempo extra.
O primeiro é o que diz:
— Vocês se incomodam se eu pedir para levar o que sobrou? É super comum na Europa…
E como o inferno tem subsolo, quando acontece o último abraço, surge um chato retardatário:
— Olha só o que tenho aqui para a saideira. Um belo dum Cohibinha para fumarmos lá no jardim. Alguém se habilita? Hein?
Hein?