Estamos de volta às ruas e, também, aos jantares entre amigos.

Apesar da saudade, admita, isso tem um lado ruim.

É que todo o grupo tem um ou mais chatos de jantar.

Uma categoria com cinco principais representantes, que descreverei a seguir.

1. O chato do vinho.

Ele se dedica a entender de onde veio a uva do vinho que aumentará o valor da conta em múltiplos de 100.

O chato do vinho não se identifica. Geralmente aguarda para que todos implorem que ele escolha o vinho que harmoniza com esse momento de congraçamento.

Antes do primeiro gole, explica a rara combinação de uvas Maplethorp com Deneuve.

— Reparem nas notas frutadas e no leve aroma de muçarela… Pergunta com o nariz enterrado na taça.

— É verdade! Senti! Senti! – sempre tem um que se empolga. Essa uva foi descoberta na região da Borgonha, logo após a Revolução vienense de 1715. Dizem que um cabo do exército Franco-Turco tropeçou numa raiz e…

Alguém perde educadamente a paciência.

— Vamos pedir a comida, hein?

O que nos leva ao segundo chato.

2. O chato do prato

A escolha num cardápio com 30 opções não é um mistério.

Menos para o chato do prato.

Você reconhece porque é o sujeito que diz:

— Massa? Hmmm… Não sei… massa eu comi anteontem no almoço…

— E dai, meu Deus do céu?! A lasanha já saiu do seu sistema!

Mas ele insiste.

— Garçom, por favor, esse filé de cordeiro à souto maior… como é?

O garçom, um chefe frustrado, responde descrevendo a desde o nascimento do cordeiro.

Ou pode ser ainda pior, quando o garçom não sabe a resposta:

— Desculpe senhor, sou novo aqui. Vou perguntar na cozinha e já volto.

O jantar segue sem maiores dores de cabeça até quando surge o terceiro chato.

3. O chato do café.

A culpa de sua existência é dos restaurantes, que passaram a oferecer milhares de cafés. Saudade do tempo em que as opções eram só curto e carioca.

— Da Nescoffe temos o Rizzolleto, o Feromono, o Simpleto. Da Império temos o Italia Linda do Norte e o Sonho de Valsa de Varsóvia. Temos também o…

— De coador não tem, né?

— Não tem.

— Então me prepara um Fascolliacco curto com espuma de leite de cabra. Ah! Em copo de vidro, como os de boteco.

— Olha em volta – É o melhor, vai, fala a verdade…

Ninguém tem uma opinião formada, mas todos concordam.

E antes da conta, tem mais um chato.

4. O chato do licor.

Este surge depois que estão todos alimentados, de cafés tomados e prontos para ir para casa.

— Pessoal, sabe o que cairia feito uma luva agora? Um licorzinho Ponccerello, não? Vocês têm?

— Claro que tem.

Mais meia hora será dedicada a esse importante detalhe, até que surge o último chato.

5. O chato da conta.

O jantar já acabou. Estão todos felizes com o encontro.

O chato da conta é quem decide conferir item por item.

— Alguém pediu suco de Aruá com Couve?

— Fui eu. Diz a moça que corre maratonas.

Claro que ele sempre encontra algo errado. A conta volta para o caixa.

— Impressionante como somos roubados… Comenta orgulhoso.

O jantar termina. Todos levantam.

É quando aparecem dois chatos no tempo extra.

O primeiro é o que diz:

— Vocês se incomodam se eu pedir para levar o que sobrou? É super comum na Europa…

E como o inferno tem subsolo, quando acontece o último abraço, surge um chato retardatário:

— Olha só o que tenho aqui para a saideira. Um belo dum Cohibinha para fumarmos lá no jardim. Alguém se habilita? Hein?

Hein?