Havia trinta e sete anos que o chefe de Estado do Zimbábue, Robert Mugabe, estava no poder – foi ele quem liderou a luta pela independência do país, o que não significa que seu forte era a democracia social e política. Havia tempo, também, que dois grupos disputavam a sucessão. Um deles era comandado por sua própria mulher, Grace, que tem cinquenta e dois anos de idade – Mugabe está com noventa e três e a obedece em tudo. A população não gosta dela porque Grace vive no luxo e riqueza com dinheiro público, tanto que acabou sendo apelidada de “Gucci Grace”. O seu adversário era o vice-presidente e amigo do casal Emmerson Mnangagwa. Tem setenta e cinco anos e dá para se ter uma ideia de seu desempenho nos quesitos ética e lealdade pela alcunha que o povo lhe colou: “crocodilo”. Grace pediu ao marido que destituísse o seu concorrente, e, claro, teve a sua vontade satisfeita. É aí que entrou em cena o general Constantine Chiwenga: aproveitou que a roupa suja estava sendo lavada fora de casa, colocou a tropa na rua e prendeu (domiciliar) Mugabe e seus aceclas (a sra. “Gucci” conseguiu se mandar para a Namíbia). Assim como já se disse que o fato de Mugabe ter tornado o seu país uma nação independente não o faz santo, também o ato do general em prendê-lo não o credencia a entrar no panteão dos democratas. Até a quinta-feira 16 ele negava o óbvio: “não há golpe de estado, Mugabe está preso porque assim fica protegido dos inimigos”. É para rir. Cento e quinze entidades da sociedade civil pedem a renúncia de Mugabe e querem que os militares “restaurem a ordem constitucional”. Não deixa de ser sensato, portanto, endossar a declaração do escritor Charles Onyango-Obbo, um dos mais conceituados da África: “se parece golpe, se anda como golpe e fala como golpe, então é golpe”.

denúncia de intolerância religiosa é registrada no Brasil a cada 15 horas. A informação é do governo federal. As religiões mais atingidas são: umbanda, 26 casos, candomblé, 22, outras matrizes africanas, 18, católica 17, evangélica 14, espírita 8. Nos últimos 5 anos foram registradas cerca de 2000 ocorrências de discriminação

BRASIL
José Dirceu leva a vida que pediu a Deus

Ex-deputado federal, ex-ministro da Casa Civil e sentenciado a três décadas de prisão, José Dirceu leva a vida que pediu a Deus – é só alegria. Enquanto aguarda que a Justiça julgue seu derradeiro recurso antes de voltar à cadeia, na semana passada ele cantou, bebeu e dançou na festa de aniversário de sua mulher. Dias antes, deu entrada na Câmara ao pedido de aposentadoria, e talvez passe a receber mensalmente dos cofres públicos R$ 9.646,57 – valor muito acima da média das aposentadorias dos brasileiros que trabalharam honestamente. Se for incluído o período em que ficou exilado pelo regime militar, o benefício baterá em R$ 17 mil.

PERSONAGEM
O ocaso de João Gilberto

Está com oitenta e seis anos o homem que mostrou em 1959 que a nossa música popular podia ser mais soberana do que já era: João Gilberto. Como o ocaso também chega aos gênios de mente e de voz, chegou para ele. Sua filha Bebel veio dos EUA para cuidar do pai. Bebel pediu a interdição de João Gilberto, uma vez que ele apresenta um “quadro confusional”.

PORTUGAL
Polícia mata brasileira por engano

Policiais de Lisboa agiram de forma imprudente. Estavam procurando os ladrões que explodiram um caixa eletrônico e fugiram num Seat Leon preto. Confundiram esse carro com o Renault Megane em que estava a brasileira Ivanice Carvalho da Costa, dispararam vinte vezes e ela foi morta (dirigia-se para o aeroporto onde trabalhava). A versão oficial é que o condutor (sem habilitação, foi preso) tentou atropelar os policiais e por isso eles reagiram. A mãe de Ivanice, Maria Luiza da Costa, mora em Amaporã, no Paraná. Não tem dinheiro para trazer o corpo. Ajudá-la nisso é o mínimo que a embaixada de Portugal no Brasil pode fazer. Ivanice é a primeira pessoa morta pela polícia de Lisboa em 2017.

ELEIÇÕES
Lava jato nas urnas

A Lava Jato como plataforma política: pelo menos trinta delegados e agentes da PF serão candidatos em 2018 – está certa a participação em dezoito estados. Claro que o Paraná é que terá o maior número de policiais concorrendo – entre eles Newton Ishii, o “japonês da federal”. Ele está condenado por facilitação de contrabando, mas até o início do ano que vem já cumpriu a pena. Não será mais ficha suja.

MEMÓRIA
A natureza está órfã

Leo Martins

Morreu na quarta-feira 15, no Rio de Janeiro, o escultor, pintor e ambientalista polonês Frans Krajcberg. Estava com noventa e seis anos de idade e sobreu infecção generalizada decorrente de pneumonia. Krajcberg perdeu toda a família em campos de exterminio nazistas. Sozinho veio ao Brasil em 1948. Sozinho viveu até morrer – mas isso na concepção ortodoxa do que é solidão. Krajcberg, ao contrário, declarava estar sempre “bem acompanhado” pela flora e fauna brasileiras – que, aliás, ele defendeu como poucos cidadãos pátrios o fazem. Com seu talento para esculpir e pintar, denunciava por meio da arte que produzia o tanto que se devasta a natureza por aqui. A Amazônia era a sua maior paixão.