“Quando penso que estou fora, eles me puxam de volta para dentro.” A frase é de Michael Corleone em “O Poderoso Chefão 3”, mas define perfeitamente o mais recente episódio de outra franquia lendária. Em “007 — Sem Tempo para Morrer”, novo filme de James Bond, o agente secreto com licença para matar curte a aposentadoria no Caribe quando o Serviço Secreto britânico lhe traz de volta para salvar o mundo de mais um vilão.

O enredo pode soar como “déjà-vu”, mas o 25o filme do espião traz coisas surpreendentes — a começar pelo roteiro, de Scott Z. Burns e Phoebe Waller-Bridge (que também é atriz da série “Fleabag”), a partir de história de Neal Purvis e Robert Wade. Há perseguições alucinantes, cenários incríveis e cenas de ação de tirar o fôlego, como se espera. Existe, porém, uma ênfase inédita na emoção entre os personagens. O contraste entre o lado sentimental e o perfil físico de Daniel Craig — o Bond mais forte e violento até hoje — cria uma bela dinâmica e acrescenta a complexidade que permite ao personagem se manter relevante nos dias de hoje.

Nunca houve tanta presença feminina em um filme de 007 – e não estamos falando aqui apenas das sexy e famosas “Bond Girls”. Se o agente era famoso pela quantidade de beldades seduzidas por cena, agora o sexo foi substituído pelo amor por Madeleine, papel da atriz francesa Léa Seydoux. O elenco feminino tem ainda a cubana Ana de Armas e as britânicas Naomie Harris e Lashana Lynch — a herdeira do codinome “007” após a aposentadoria de James Bond. No elenco masculino constam, mais uma vez, Ralph Fiennes e Jeffrey Wright como M. e Felix, respectivamente, mas quem rouba a cena é Rami Malek, o Freddie Mercury de “Bohemian Rhapsody”. Com a voz mansa e o rosto desfigurado, ele exala a maldade típica dos supervilões e deixa marcada sua presença na história da franquia.

ELENCO DE PESO Ana de Armas: Bond Girl que não se deixa seduzir Lashana Lynch: herdeira do codinome 007 Rami Malek: presença na galeria dos supervilões

Adeus, Daniel Craig

O filme marca a aposentadoria de Daniel Craig no papel que interpretou durante os últimos quinze anos. Nos cinco filmes em que atuou como 007, ele foi o grande responsável por trazer o personagem para o século 21. Além de ser uma despedida digna, “007 — Sem Tempo para Morrer” fecha o ciclo iniciado com “Cassino Royale”, em 2006. “Meu primeiro filme definiu a forma como interpretei esse personagem maravilhoso”, afirma Craig. “Eu queria que Bond parecesse um assassino, porque é isso que ele é. Mas eu queria uma abordagem moderna. Dessa vez senti que havia uma história para terminar e pontas soltas que precisávamos amarrar. Sinto que alcançamos isso. Estou orgulhoso do enorme esforço coletivo envolvido para se fazer um filme de Bond. Ser apenas uma pequena parte disso tem sido uma honra.”

A nova produção traz novidades também na direção: Cary Joji Fukunaga é o primeiro americano a dirigir um filme de James Bond. “É sempre importante colocar o personagem em uma situação impossível, da qual ele tem de tentar sair. Mas, em termos de ação, muitas coisas precisam acontecer para Bond chegar do ponto A ao ponto B. Não estamos reinventando o cinema, mas o colocamos em situações emocionais inéditas” afirma Fukunaga. Os tradicionais fãs de 007 não ficarão decepcionados, mas descobrirão que os brutos também amam.