Fome e sede e sono. Quem conseguiu dormir, o fez ao relento. Quem precisou do mais simples dos analgésicos, teve de suportar a dor. Um copo d’água, mesmo para crianças, velhos ou paralíticos, só era obtido dando-se dinheiro aos hostis moradores da cidade de Santa Elena do Uairén. Aonde fica esse município tão pouco hospitaleiro? Fica próximo de nós, na Venezuela. Quem são as pessoas que amargaram esse inferno? São brasileiros, cerca de quinhentos ao todo, que na semana passada deram o azar de estarem em território venezuelano quando o presidente Nicolás Madurou cismou, unilateralmente, de fechar as suas fronteiras – fez isso sob o estapafúrdio argumento de que o confinamento era necessário porque havia “uma máfia contrabandeando e traficando notas de cem bolívares”. Santa Elena do Uairén é a última cidade antes da fronteira com Roraima, e é através dela, aliás, que centenas de venezuelanos estão fugindo da miséria de seu país e invadindo o Brasil – com a diferença de que em Roraima muitos habitantes lhes abrem a porta de casa e lhes oferecem teto, comida e água quente. Uma brasileira que fora à Venezuela para a escalada de montanhas relata que só conseguiu retornar ao Brasil fugindo a esmo por um arriscado caminho em meio à mata. Mesmo quando Maduro recuou em sua loucura e decidiu abrir as fronteiras diariamente e por algumas horas, brasileiros tiveram seus carros roubados ou queimados. Por que tanta animosidade? Em meio ao pauperismo da Venezuela, qualquer estrangeiro é visto com inveja, despeito e revolta. São os sentimentos que o populismo bolivarista de Hugo Chávez e Nicolás Maduro semearam e  colhem na população do país. Na quinta-feira 22, finalmente, o Itamaraty declarou que não havia mais brasileiros confinados na fronteira e que a crise estava superada. A crise pode ser que sim; mas a humilhação, essa, tão cedo, não será esquecida não.

1026,58%
é a prévia da inflação anual, segundo o Índice de Preços ao Consumidor – Amplo 15 (IPCA-15). O índice de dezembro caiu para 0,19% ante 0,26% em novembro. Trata-se do menor resultado para o mês desde 1998, quando foi registrado 0,13%. A estimativa do Banco Central para a inflação desse ano é de 6,49%, ficando portanto dentro da meta – em 2015 ela estourou o teto ao somar 10,67%, a maior desde 2002.