19/06/2024 - 12:31
Pesquisadores alemães acreditam que juízes de futebol de baixa estatura punem com maior rigor jogadores mais altos para compensar uma falta de predominância física, algo que não ocorre apenas nos campos de jogo.Impedimento? Falta? Mão na bola? No futebol, é comum ocorrerem discussões acaloradas sobre decisões controversas tomadas pelos árbitros durante as partidas. É justamente por isso que os jogos profissionais são normalmente supervisionados por um árbitro principal no campo e dois auxiliares, além do chamado quarto árbitro.
Para evitar decisões incorretas, há com frequência a presença dos assistentes de vídeo (VAR) que analisam os lances mais controversos, possivelmente em câmera lenta, e informam o árbitro principal com o auxílio de inúmeras câmeras que observam meticulosamente cada momento das partidas através de ângulos diferentes.
Apesar de os árbitros não tomarem as decisões de maneira isolada, algumas delas podem parecer um tanto arbitrárias. Isso pode ocorrer em razão de os árbitros principais possuírem uma grande margem discricionária em seu poder de decisão nas partidas de futebol.
Compensação da baixa estatura
Um grupo de pesquisadores alemães analisou a relação entre a estatura física dos árbitros e dos jogadores de futebol em um estudo realizado a tempo do início da Eurocopa 2024 – o campeonato europeu de seleções realizado na Alemanha entre 14 de junho e 14 de julho.
Segundo a pré-publicação do estudo – que ainda não foi avaliado por outros especialistas –, os árbitros de menor estatura punem os jogadores mais altos com maior rigor, sugerindo que isso pode ser um modo de compensar uma suposta baixa predominância física.
Alguns torcedores podem compreender isso como uma explicação de como as decisões seriam tomadas de maneira não objetiva e até injusta, simplesmente por que um árbitro possui um complexo. No entanto, essa teoria somente será validada após a pré-publicação passar por análises científicas.
"Quem manda aqui sou eu"
Os pesquisadores Hendrik Sonnabend e Giulio Callegaro da Universidade de Hagen, na Alemanha, juntamente com Mario Lackner, da Universidade Johannes Kepler em Linz, analisaram dados da Bundesliga (campeonato alemão de futebol) de 2014 a 2021, e observaram mais de 2.340 partidas.
Segundo a pré-publicação, um árbitro comparativamente mais baixo estaria mais apto a apitar uma falta e aplicar um cartão amarelo quando o jogador em questão é mais alto do que ele, de acordo com a conclusão dos pesquisadores.
"A tendência a punir com mais rigor é 10% maior quando os jogadores são significativamente mais altos do que os árbitros, em comparação a situações nas quais os atletas estão na mesma altura dos olhos", diz Sonnabend.
Segundo a pré-publicação, o chamado "complexo de Napoleão" pode ser visto mais claramente no primeiro tempo das partidas. "Fica claro que as punições são usadas para demonstrar autoridade. Se eles não obtiverem êxito através da predominância física, eles punem segundo o lema 'quem manda aqui sou eu'", diz o pesquisador.
No segundo tempo dos jogos, as punições mais duras pelos árbitros relativamente mais baixos, como os cartões amarelos, diminuem. "Isso pode ocorrer em razão de os jogadores perceberem que o árbitro pune as infrações mais rapidamente", avalia Sonnabend.
O pequeno grande imperador
A base para o estudo é a teoria da psicologia conhecida como "complexo de Napoleão", que afirma que pessoas de baixa estatura, especialmente os homens, tendem a ser agressivos ou dominantes para compensar seu tamanho.
O nome dado à teoria remete ao antigo imperador francês Napoleão Bonaparte. Contudo, a convicção equivocada sobre o suposto "pequeno imperador" se baseia em um erro de conversão. Com 1,69 metro de altura, ele era bem mais alto do que a média de sua época.
Ao mesmo tempo, segundo a pré-publicação, há também o complexo reverso de Napoleão nas partidas de futebol, quando um árbitro alto que olha os jogadores de cima para baixo é mais leniente ao aplicar as penalidades.
Os jogadores de baixa estatura recebem 16% menos punições do que os com altura semelhante à dos árbitros. Ser alto, aparentemente, é algo que vem em combinação com uma certa calma, segundo pesquisadores.
Lições para a vida profissional?
Se essa publicação preliminar poderá ou não ser comprovada, dependerá das análises cientificas. Hendrik Sonnabend é, na verdade, um pesquisador das áreas do trabalho e da economia comportamental. Em sua opinião, as observações feitas no esporte podem ser transferidas para nosso comportamento cotidiano ou profissional.
Ele diz que é comum que, na vida profissional, uma pessoa em posição superior "lance mão de outros meios ao lidar com um funcionário, ao sentir que não está sendo levada a sério".
Os pesquisadores em Hagen acreditam que um preconceito relacionado à altura também é comum em quadros de diretores, em processos de seleção e nas avaliações de desempenho. Essa pré-noção também afeta as oportunidades de carreira, promoções e a vida diária no ambiente de trabalho.
A autoridade, porém, pode ser estabelecida não apenas através de punições, mas, acima de tudo, através de declarações claras e da linguagem corporal adequada. Os pesquisadores, portanto, defendem programas de treinamento adequados. As avaliações devem ser sempre feitas com justiça – seja na vida profissional ou no futebol – e não devem ser distorcidas por outras características, como simpatias pessoais ou altura física.