Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Tom Zé fazem parte do CD de estreia do quarteto paulistano Os Amanticidas. No caso de Arrigo e Tom Zé, além da clara influência nos arranjos, melodias e letras, a presença é evidenciada nas participações especiais: Arrigo na canção “Traste”, que poderia ser de sua própria lavra mas foi composta por Talismã; e Tom Zé em “Pisadeira”, que traz ecos da banda pernambucana Mundo Livre e cuja letra se limita a “Cá cá qué qué qui qui có có”. Mas como Itamar poderia estar do disco se ele morreu em 2003? A resposta se impõe para quem escuta o CD. Itamar está na escolha do nome da banda (“Amanticida” é o título de uma canção dele), na musicalidade de cadência intrincada do grupo e também na produção, gravação e mixagem – tudo assinado por Paulinho Lepetit, músico que fez escola na banda Isca de Polícia, que acompanhava Itamar, e também produtor do aclamado “Pretobrás” (1998), disco que venceu o Prêmio Sharp.
Gravado com apoio do Proac, o programa de incentivo à cultura do Estado de São Paulo, o CD traz 10 faixas que parecem ter sido urdidas em uma jam session na década de 1980 no palco do Lira Paulistana, o pequeno auditório no bairro de Pinheiros que projetou a geração que ficaria conhecida como Vanguarda Paulista.
A impressão que se tem ao ouvir o disco dos Amanticidas é que os músicos, que assinam todos os arranjos, foram alunos daquela turma, ou ao menos ouviram seus discos até gastar. Mas isso não significa que se limitem a imitar as invenções daquela época. Atilados, eles dão novo vigor à vertente musical que valorizava o domínio técnico ao evidenciar estruturas em contraponto sem com isso descambar no apelo ao virtuosismo piegas.
Um ótimo exemplo para os músicos que desdenham do aprendizado e recorrem a fórmulas fáceis e repetitivas. Ouça na playlist Sons da Semana ou clique na imagem abaixo para conhecer “Freguesia”, música de João Sampaio que abre o disco.