Garoto, num lugar remoto da Nova Zelândia – Pekerua Bay -, qual era a chance de Peter Jackson realizar seu sonho? Na edição de junho da revista “Empire”, ele conta tudo. Por dentro dos arquivos pessoais de cinema de PJ. Sua fascinação sempre foi pelos aspectos mágicos do cinema, os efeitos. Seu primeiro ídolo, Ray Harryhausen. Colecionava revistas, só pensava numa coisa – como ser assistente de Harryhausen. Mesmo que quisesse, não poderia estudar cinema. Não havia escolas especializadas na Nova Zelândia, e a família nunca poderia arcar com os custos para que ele estudasse em Los Angeles.

É interessante lembrar isso justamente neste fim de semana, quando o Espaço das Américas recebe um evento extraordinário. De hoje a domingo, a trilogia “O Senhor dos Anéis” será mostrada com acompanhamento de música ao vivo. A trilha de Howard Shore executada por uma grande orquestra. Pense na cena, nesse primeiro dia, quando passa “A Sociedade do Anel”. Os Nazgûl, Espectros do Anel, enviados por Saruman, invadiram a estalagem onde Frodo se abrigava com amigos. Na briga que se segue, Frodo, que carrega o ‘Um’, o Anel, é ferido. A elfa Arwen o coloca na garupa de seu alazão Asfaloth e galopa na noite até Valfenda, onde o hobbit é tratado pelo pai dela.

Essa cavalgada não é apenas lindamente filmada, evocando westerns míticos e colocando o espectador no centro de uma ação que se torna cada vez mais vertiginosa. Tem também o ruído, os cascos que fazem tremer a terra, e a trilha. Shore – “A primeira trilha que fiz para A Sociedade do Anel foi o início da minha jornada ao mundo de (JRR) Tolkien e vou ter sempre carinho por aquela música e pela experiência”, lembra. Doug Adams, autor do livro “A Música de O Senhor dos Anéis”, diz que o livro é uma história de temas universais e ricas experiências humanas, incluindo perseverança, sacrifício, amizade e lealdade. “São elas que formam a espinha dorsal das obras do escritor, dos filmes de Jackson e, claro, da trilha de Shore.” E mais – “A trilha do compositor expressa o filme de uma forma única, com um imenso trabalho sinfônico desenvolvido de forma singular, juntando vários séculos de tendências e estilos que fornecem a cada volume das histórias de Tolkien sua complexidade musical.”

A trilha de Shore venceu três Oscars, três Globos de Ouro e quatro Grammies. Sua execução, in concert, pela Orquestra Sinfônica Villa-Lobos, com regência do maestro Adriano Machado, começou na América Latina pelo Brasil, primeiro no RioCentro, no Rio, depois no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre e, agora no Espaço das Américas.

Vale viajar pelo arquivo pessoal do diretor Jackson em “Empire”. A pergunta que não quer calar – como um obscuro autor neozelandês conseguiu convencer Hollywood (a indústria) que tinha cacife para adaptar a obra monumental de John Randolph Reuel Tolkien? É uma pergunta quase tão difícil de responder quanto outra que também se pode fazer, sobre o reconhecimento ao próprio Tolkien? Embora fosse um erudito, e um filólogo respeitado, seu relato baseado em lendas provocou reações mistas e só adquiriu sua real grandeza a partir da aceitação nas universidades dos EUA, nos transformadores anos 1960.

E Jackson, onde entra nessa? Num processo de autodidata, ele se iniciou fazendo curtas, incursionou pelo horror (“Fome Animal”), lançou-se ao complexo mundo das escolhas morais de “Almas Gêmeas” – baseado numa história real que abalou a Nova Zelândia, sobre garotas que mataram os pais – e já pensando em “O Senhor dos Anéis” forjou a própria biografia num documentário para TV, “Forgotten Silver” (um diretor neozelandês que teria sido fundamental para a (r)evolução da linguagem) e aceitou a chancela do produtor Robert Zemeckis para o show de efeitos de “Os Espíritos”. O caminho estava pronto para “O Senhor dos Anéis”. O filme, como o(s) livro(s), é habitado por seres mágicos e/ou grotescos que desafiariam a imaginação de um Ray Harryhausen – e já haviam sido testados em “Almas Gêmeas” -, que também se baseia no tema da escolha moral que o ‘One’ impõe a quem o possui.

“A Sociedade do Anel”, “As Duas Torres” e “O Retorno do Rei” compõem a trilogia “O Senhor dos Anéis”. Estrearam em 2001, 2002 e 2003. O último venceu os Oscars de filme e direção, mais nove prêmios da Academia, totalizando 11. Onze! No primeiro, Frodo assume o encargo de manter o anel a salvo da ambição do mago Sauron, o que só será possível mediante a sua destruição. A jornada para destruir o anel atravessa os outros dois filmes. Frodo tem sempre com ele o amigo Sam. Guiado por Gandalf, e com a ajuda de Aragorn, Legolas e vários outros guerreiros, ele terá de vencer o temido Gollum, que fará de tudo para reaver o anel que foi dele um dia. Justamente o Gollum foi criado em computador, usando a técnica chamada de ‘motion capture’, e o ator que emprestou seu corpo foi durante muito tempo a celebridade mais desconhecida do mundo, Andy Serkis.

Elijah Wood (Frodo), Ian McKellen (Gandalf), Viggo Mortensen (Aragorn), Orlando Bloom (Legolas), Cate Blanchett (Galadriel), Liv Tyler (Arwen) integram o extenso elenco. A grandiosidade dos cenários, as batalhas épicas, as reviravoltas da trama alimentam as narrativas que somam 178 min (o primeiro filme), 179 (o segundo) e 201 (o terceiro). Mais de nove horas, no total, e tudo com o suporte dramático da trilha de Howard Shore. O resultado transformou Peter Jackson em herói nacional na Nova Zelândia. Ele teve de formar equipes de ponta para criar a tecnologia dos filmes. Formou oficinas de atores e, desde que estreou o primeiro filme, as paisagens do país passaram a atrair turistas de todo o mundo. Os fãs não vão perder.

SERVIÇO

“The Lord of The Rings In Concert: The Fellowship of The Ring” (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel In Concert) | Espaço das Américas

• 05 de julho de 2019 (sexta): 19h00 – Abertura da casa | 21h00 – Início do show

• 06 de julho de 2019 (sábado): 17h30 – Abertura da casa | 19h30 – Início do show

• 07 de julho de 2019 (domingo): 16h00 – Abertura da casa | 18h00 – Início do show

Censura: 12 anos

Local: Espaço das Américas (Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda – São Paulo – SP)

Ingressos: Setor Rohan e PCD: a partir de R$ 67,50 | Setor Condado: a partir de R$ 97,50 | Setor gondor: a partir de R$ 130,00 | Setor Rivendell: a partir de R$ 170,00 | Setor lórien: a partir de R$ 200,00.

Compras de ingressos: Nas bilheterias do Espaço das Américas (de segunda a sábado das 10h às 19h – sem taxa de conveniência ) ou Online pelo site Ingresso Rápido (https://site.ingressorapido.com.br/senhordosaneis/).