11/03/2022 - 16:55
Orlando Brito morreu na madrugada dessa sexta-feira, 11 de março, em Brasília, de falência múltipla dos órgãos. Foi um dos melhores fotógrafos da imprensa do País — o primeiro brasileiro a ganhar (em 1979) o tradicional prêmio World Press Photo Prize, concedido por iniciativa do Museu Van Gogh.
Eu sou jornalista de texto, Orlando Brito era jornalista de texto e de foto. Fotografou com talento e especial sensibilidade, sempre denunciando em imagens e ironias, os atos autoritários e desumanos do período da ditadura militar. E brilhou, também nessa época, como profundo conhecedor do jornalismo político – não daquilo que é o óbvio, mas, isso sim, do raciocínio e das atitudes que nascem nos bastidores. Formalmente, fez-se um dos melhores fotógrafos e um dos melhores editores de fotografia em todo o Brasil; informalmente foi um grande editor de matérias: dava informações aos repórteres sem as quais a matéria jamais existiria. Conhecia, como poucos, a alma da política nacional.
Em um final de tarde, eu ainda muito jovem e ele já bem maduro, Orlando Brito me falou: “a solidão às vezes é indispensável para a gente crescer intelectualmente; mas quando o filhinho está doente, um segundo de solidão é insuportável”. Ficamos tomando cerveja e conversando até alta madrugada no velho Bar Alemão. Não o deixei na “solidão insuportável” sequer por “um segundo“. O seu filhinho estava doente.
Só nos despedimos quando ele quis, mesmo, ir embora. Como foi embora agora, aos 72 anos de idade.
Orlando Péricles Brito de Oliveira mudou-se com a família, de Minas Gerais (onde nasceu) para Brasília, na época da inauguração da nova capital do País. Autodidata, foi professor de si mesmo desde a primeira atividade:
laboratorista da sucursal do jornal Última Hora.
Dois fatos marcantes da carreira profissional de Orlando Brito:
1) Em 1979 o governo militar estava pronto para decretar, como de fato decretou, a Lei da Anistia.
Orlando Brito e o então repórter Etevaldo Dias (ambos trabalhando em O Globo) encontravam-se no gabinete de Petrônio Portella, à época ministro da Justiça.
Era dia da divulgação da lei, gabinete lotado de jornalistas. Portella se descuidou e deixou por um segundo o texto original do projeto em um sofá.
Orlando Brito sentou-se intencionalmente sobre o texto, Etevaldo distraiu colegas e demais pessoas. Orlando Brito rapidamente escondeu em sua bolsa de fotógrafo o texto.
2) Em 1985 o então presidente José Sarney visitava Montevidéu e Orlando Brito foi profissionalmente fazer a cobertura.
A atriz Bete Mendes denunciara Carlos Alberto Brilhante Ustra (atualmente falecido) como sendo o seu torturador nos tempos da ditadura militar e afirmara que ele servia na embaixada brasileira no Uruguai.
Orlando Brito o descobriu e o fotografou na capital uruguaia.
Agora, do céu, com certeza Orlando Brito nos mandará a foto de Santa Verônica, a padroeira dos fotógrafos.