Organizações sociais argentinas tomam as ruas de Buenos Aires nesta quinta-feira (16) para exigir melhoras econômicas, em meio a uma grave crise política do governo do presidente peronista de centro-esquerda Alberto Fernández e sua vice-presidenta Cristina Kirchner.

Enquanto grupos de esquerda convocaram protestos contra o governo, em meio a uma crise econômica que colocou mais de 40% da população na pobreza, outras organizações de tendência peronista devem se reunir diante da Casa Rosada, sede do governo, em apoio a Fernández.

O presidente enfrenta uma crise em seu gabinete, depois da derrota eleitoral sofrida no domingo pela coalizão governante Frente de Todos nas primárias das eleições de 14 de novembro, nas quais o Congresso será parcialmente renovado.

Cinco ministros e outros altos funcionários próximos a Kirchner colocaram seus cargos à disposição na quarta-feira, o que os analistas interpretam como uma pressão da vice-presidenta sobre Fernández para obrigá-lo a modificar o gabinete e se afastar de alguns de seus colaboradores de maior confiança, como o chefe de gabinete Santiago Cafiero.

No fim do dia, o presidente seguiu para a residência presidencial de Olivos, nos arredores de Buenos Aires, sem fazer declarações ou anunciar se aceitará as renúncias ministeriais.

“Como é difícil que exista uma negociação franca entre o presidente e a vice, tudo fica complexo, porque a esta altura ambos desconfiam um do outro e acreditam que o outro ou a outra tem cartas na manga”, descreveu o analista político Carlos Fara.

Em recessão desde 2018, a Argentina enfrenta uma crise econômica que foi agravada pela pandemia de covid-19. Para amenizar os efeitos da paralisação da economia pelas restrições sanitárias, o governo realizou muitas emissões de dinheiro, especialmente em 2020.

Aos elevados índices de pobreza e desemprego, a Argentina soma uma das maiores taxas de inflação do mundo (32% de janeiro a agosto) e tem pendente uma dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em 22 de setembro, deve pagar ao FMI um vencimento de capital por 1,9 bilhão de dólares e em dezembro outro também de 1,9 bilhão de dólares.

Nesse contexto, Fernández recebeu na quarta-feira o apoio explícito de vários governadores peronistas e do Movimento Evita, uma das mais importantes organizações de base do governo, que se manifestará a seu favor nesta quinta-feira na Praça de Maio.