Os Estados membros da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) votaram nesta quarta-feira para suspender os direitos da Síria pelo suposto uso de armas químicas, uma decisão inédita na história da instituição.
A moção que priva Damasco de “direitos e privilégios”, apoiada por países ocidentais como Estados Unidos, França e Reino Unido, obteve a maioria necessária de dois terços dos votos.
“À luz deste resultado, o projeto de resolução é aprovado”, anunciou Jose Antonio Zabalgoitia Trejo, que presidiu a reunião dos países membros da OPAQ, que tem sede em Haia.
Oitenta e sete países votaram a favor da moção e 15 contra, incluindo a própria Síria, Rússia, China e Irã. Dos 193 Estados membros, 136 participaram na votação.
A moção priva a Síria de seu direito de voto, uma medida sem precedentes na história da organização, fundada há 25 anos para que o mundo acabe com as armas químicas.
As medidas são uma resposta a uma investigação da OPAQ no ano passado que considerou a Força Aérea síria responsável por ter usado gás sarin e cloro em um ataque em 2017 contra a localidade de Ltamenah controlada pelos rebeldes.
Damasco tampouco respeitou o prazo de 90 dias estabelecido pela OPAQ para que declarasse as armas utilizadas nos ataques e revelasse os depósitos restantes.
A delegação francesa afirmou que o “uso reiterado de armas químicas pela Síria é inaceitável para a comunidade internacional”. O Reino Unido considerou a decisão um “passo crucial para manter a credibilidade da OPAQ”.
O regime sírio, que sempre negou qualquer envolvimento, afirma que os ataques químicos foram uma ‘encenação’. A Síria e sua aliada Rússia acusam as potências ocidentais de organizar, por meio da OPAQ, uma campanha “politizada”.
A OPAQ, prêmio Nobel da Paz em 2013, se tornou cenário de tensão recentemente entre os países ocidentais e a Rússia.
Os direitos da Síria permanecerão suspensos até que os Estados membros decidam que o país revelou a totalidade de suas armas químicas e instalações de fabricação de armas, de acordo com a moção.
A organização abriu uma nova investigação após as explicações “insuficientes” apresentadas pela Síria, após a descoberta de produtos químicos em setembro de 2020 em um local onde as autoridades negavam a fabricação de armas químicas.
De acordo com a ONU, Damasco ainda não respondeu a 19 perguntas feitas nos últimos anos sobre as instalações que teriam sido usadas para a produção ou armazenamento de armas químicas.