A busca por jogadores em fim de contrato dá o tom desta janela de transferências no Brasil. Vale apostar em veteranos, oferecer contrato de risco e produtividade ou usar atletas como moeda de troca. Esta é a nova realidade do futebol brasileiro. Pagar caro para reforçar o time se mostrou, até este início de ano, uma exceção. Criou-se até um “teto informal” para contratar um único jogador: R$ 10 milhões.

É um cenário que contrasta com janelas de transferências dos últimos anos. Em 2013, o Corinthians pagou R$ 40 milhões pelo atacante Alexandre Pato. Em 2015, ainda com o mercado aquecido, o Palmeiras ganhou forte concorrência e fechou com o também atacante Dudu por R$ 20 milhões.

As explicações para esse momento de baixa vão desde a economia do País, há dois anos em recessão, a nova postura fiscal dos clubes e até a proibição de investidores na compra de direitos econômicos dos atletas. Há menos dinheiro circulando no futebol brasileiro.

Campeão brasileiro, o Palmeiras é um dos poucos que investiram alto para adquirir os direitos econômicos de um único jogador – o meia Guerra, eleito o melhor jogador da Copa Libertadores pelo Atlético Nacional, da Colômbia: R$ 10 milhões.

Corinthians, São Paulo, Santos e clubes do Rio de Janeiro e de Minas de Gerais, como o Cruzeiro, vivem outra realidade. “Os clubes se adequaram à realidade e à crise que o Brasil está vivendo. Por outro lado, antes os clubes gastavam sem responsabilidade, contratavam e depois se viraram para pagar a conta. Hoje não está assim”, afirmou o empresário Fred Faria.

O Grêmio, campeão da Copa do Brasil, fechou a temporada em alta, mas não adotou uma postura ousada. A diretoria considera os jogadores de renome e caros como apostas de risco. “Algumas contratações mais caras no futebol brasileiro nos últimos anos não foram bem-sucedidas. Analisamos o mercado com cuidado, coerência e sem exagerar nos negociações”, afirmou Adalberto Preis, um dos vice-presidentes do Grêmio.

O dirigente relembrou que apesar de o clube ter apostado em temporadas anteriores em jogadores consagrados, o fim do jejum de 15 anos sem títulos nacionais, com a conquista da Copa do Brasil em 2016, veio com outro planejamento. “Dar chance à base é o investimento mais seguro. Ganhamos a competição com vários garotos nossos, como o Luan, o Pedro Rocha e o Ramiro. Já temos um elenco forte”, disse Preis.

O São Paulo é um exemplo desta nova realidade: todas as novidades do elenco para 2017 vieram sem custo. Mesmo titulares absolutos no ano passado, como o lateral-esquerdo chileno Mena e o atacante Kelvin, deixaram a equipe ao fim dos contratos de empréstimo pela dificuldade em negociar as permanências. “Precisaríamos de mais jogadores, mas entendo a situação financeira do clube que é difícil. Vamos observar o mercado e quando a diretoria ver que tem condições de trazer algum jogador, que seja possível a contratação”, afirmou o agora técnico Rogério Ceni.

Para o empresário Hugo Garcia, ao contrário dos últimos anos, os clubes estão mais “criteriosos” na hora de decidir investir em contratações. Porém, ele admite que até o fim desta janela, os clubes ainda podem contratar jogadores de maior peso. “Temos de esperar para fazer avaliações, os clubes podem inscrever jogadores durante a disputa dos Estaduais e ainda podem gastar em reforços”.