ROMA, 23 JUN (ANSA) – O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, anunciou que não viajará até Munique para assistir ao jogo entre a seleção do seu país e a Alemanha, válido pela última rodada da fase de grupos da Eurocopa.   

A decisão de Orbán chega em meio à polêmica gerada pela aprovação na Hungria de uma lei que veta a “promoção” da homossexualidade para menores de idade.   

A Uefa proibiu a Prefeitura de Munique de iluminar a Allianz Arena com as cores do arco-íris, decisão que provocou críticas na Europa, mas o goleiro titular da Alemanha, Manuel Neuer, vai entrar em campo nesta quarta com uma faixa de capitão com as cores da bandeira LGBT+.   

“A decisão de iluminar o estádio de Munique ou de outra cidade europeia com as cores da bandeira do arco-íris não cabe ao Estado”, disse Orbán à agência DPA, pedindo que os políticos alemães respeitem o posicionamento da Uefa.   

Segundo a confederação europeia, permitir a bandeira LGBT+ na fachada da Allianz Arena seria um ato “político”, já que representaria uma forma de protesto contra a lei aprovada na Hungria.   

O presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, pediu o fim da polêmica e garantiu que a entidade está “empenhada no combate a todas as formas de discriminação, incluindo o preconceito e a homofobia”.   

“De todo o coração, apoio e celebro Neuer com a faixa de capitão e sou a favor de um estádio iluminado com as cores do arco-íris em outras ocasiões, como propõe a Uefa, quando não para fins políticos”, disse o dirigente.   

No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, afirmou que a decisão da Uefa manda um “mau sinal”.   

“É verdade, o campo não tem nada a ver com a política, mas trata-se de pessoas, de igualdade, de tolerância”, ressaltou.   

O poder Executivo da União Europeia, da qual a Hungria é integrante, também se pronunciou e definiu o veto às cores do arco-íris como “difícil de entender”.   

“Francamente, não encontro desculpas razoáveis”, declarou o vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.   

Já o governo da França lamentou “profundamente” a decisão, uma vez que a Uefa é uma instituição “religiosamente neutra e apolítica, mas que também deve ter alguns valores”.   

17 Estados-membros da UE já assinaram uma declaração conjunta expressando preocupação com a lei anti-homossexuais e pedindo que a Comissão Europeia use “todos os instrumentos à sua disposição para garantir o respeito” dos direitos de todos os cidadãos do bloco.   

A própria presidente do Executivo da UE, Ursula von der Leyen, definiu a lei aprovada na Hungria como “uma vergonha”. “A lei húngara discrimina pessoas com base na orientação sexual e vai contra os valores fundamentais da UE”, disse.   

O projeto aprovado pelo Parlamento húngaro proíbe a divulgação de conteúdos sobre “mudança de gênero e homossexualidade” para pessoas com menos de 18 anos. Orbán, expoente da extrema direita europeia, governa o país desde 2010 e é acusado de perseguir minorias, como gays e migrantes, e de atacar a liberdade de imprensa e do poder Judiciário.   

Durante a partida contra a Alemanha, diversos clubes húngaros vão iluminar seus estádios com as cores do país. Gabor Kubatov, presidente do Ferencváros, um dos times mais tradicionais da nação, afirmou que a iniciativa partiu de um pedido da torcida organizada do clube alviverde, que se queixou das “notícias provocativas” sobre as cores do arco-íris em Munique.   

“Vamos colorir todos os estádios de vermelho, branco e verde! Pátria acima de tudo!”, declarou Kubatov em suas redes sociais.   

Entre outros clubes que aderiram ao plano estão o MTK e o Debrecen. Os dirigentes das duas equipes e do Ferencváros possuem ligação com o partido de extrema direita de Orbán, Fidesz. (ANSA).